Todo ano nesse período é a mesma coisa. O debate se instala entre os meus amigos, de uma lado, aqueles que aguardam o ano inteiro pela Parada Gay de São Paulo para se divertir, de outro lado, aqueles que só de ouvir a junção entre essas palavras até arrepiam de horror.
E eu sempre fico em dúvida, afinal, a Parada Gay cumpre ou não cumpre um papel social na luta pelos direitos homossexuais?
Depois de algumas conversas ao longo dos últimos dias e de reflexões tenho que dizer que realmente a Parada, enquanto dia de desfile na avenida Paulista, a exemplo de outros países, não cumpre um papel político, de formato sério e bem direcionado nas lutas dos direitos gays. Muitas vezes parece ser somente uma grande festa de rua, com muita música, homens descamisados, homossexuais e heterossexuais de todas a idades que vão para a rua beber, dançar e conhecer gente. Sem o menor propósito de gerar reflexão sobre as condições de vida dos homossexuais em seus lares, nas empresas e sociedade em geral.
Por mais que todo ano seja escolhido um tema, nunca vejo na Parada comunicados, ou são compartilhadas informações que nos ajudem a digerir melhor os acontecimentos do dia a dia de um país que tem “ilhas de tolerância”, como a avenida Paulista, que aceita muito bem os homossexuais, mas ainda é uma cultura composta por fortes traços de machismo e homofobia.
Contudo, verdade seja dita, acho que de alguma forma a Parada Gay cumpre um papel, porque é devido a ela que uma vez por ano a mídia inteira se volta para o tema, e então podemos ver diversas palestras, fóruns e principalmente matérias e reportagens sobre o assunto.
Por isso, acho que mesmo que não vai à Parada Gay por considerá-la somente uma festa, não pode esquecer que ela representa sim um marco simbólico forte que, se bem utilizado, pode ajudar a colocar a causa homossexual na pauta e gerar avanços concretos.
* Liliane Rocha é sócia-diretora do site Diversidade Global.