Liliput é o nick de uma das minhas melhores amigas. Ela tem mais de 40 anos, três filhos e só começou a sair com meninas após o fim do primeiro casamento hétero, aos 35 anos. Recentemente, ela terminou uma relação com uma mulher. As duas chegaram a morar juntas, na mesma casa, com as crianças.
Mas as brigas se tornaram freqüentes devido às crises de ciúmes. Certa vez, numa festa, vi as duas, trêbadas, rolando aos tapas num jardim de girassóis. Em briga de mulher com mulher, eu não meto a colher. Nem para evitar um extermínio de girassóis.
Aprendi muito com Liliput. Quando nos conhecemos, no século passado, eu ainda fingia interesse em meninas. Ela ameaçava bater na minha cara, dizendo “Ripardo, não perca tempo, meu filho. A vida é curta. Saia logo deste armário”. Quando encontrei um mocinho e começamos a namorar, foi no apartamento dela onde rolaram as primeiras transas.
A amizade com Liliput me salvou. Era preciso alguém que me abrisse os olhos naquele momento de incerteza. Entrando na fase adulta, eu era atormentado por dúvidas sobre minha identidade sexual. “Ripardo, você precisa rasgar este script, libertar sua mente, buscar um prazer verdadeiro. Não se preocupe com o que os outros vão pensar. A vida é sua”, repetia sempre.
Certo dia, Liliput me surpreendeu. Estava loucamente apaixonada por um rapaz. Eu não imaginava que ela voltaria a se envolver com homens. Para justificar, minha amiga disse que estava cansada de relações possessivas e inseguras com mulheres. Incrivelmente, Liliput muda tudo quando está ao lado de um cara –fica mais vaidosa, assume outro guarda-roupa e fala mais fino.
Confesso que prefiro quando ela está na fase “dyke”. Ela consegue ficar mais animada e produtiva. Ao lado de namoradas, Liliput já abriu empresa, montou negócio, trocou de carro, mudou de casa, enfim, é como se ela tocasse a vida com mais garra. Pode ser apenas uma coincidência. Mas espero que, logo, logo, ela encontre uma mocinha direita, inteligente, madura e bem-humorada, e volte para o time de cá. Seus amigos gays agradecem.
