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“Vou lutar pela comunidade LGBT”, diz Jacque Chanel candidata em São Paulo

Jacque Chanel, natural de Belém do Pará, foi fundadora do primeiro grupo gay do Estado em 1990. Está filiada ao PMN há dois anos e disputa pela primeira vez uma cadeira na Câmara Municipal de São Paulo.

Em entrevista ao site A Capa, Jacque fala sobre o autorama e suas propostas para o segmento LGBT.

Por que decidiu ser candidata pelo PMN?
Minha história no partido é recente, minha história em São Paulo é recente. Há dois anos recebi o convite da minha amiga Marcia [Lima]. Acho que foi a experiência de militância que eu trouxe de Belém e também porque me destacava na minha profissão. Não me sinto preparada para isso. Não sou política profissional. Acho que você faz política a partir do momento que você nasce. Estou colocando aí mais o fator coragem.

Como está sendo a receptividade a sua candidatura?
Todo mundo fica impressionado. Falam assim ‘como pode uma travesti?; nunca ouvi falar que travesti podia se candidatar’. Elas ficam muito surpresas, os comentários têm sido nessa linha.

Por que acha que deve ser eleita?
Por causa da garra, da coragem e da minha vontade de fazer algo pelo meu semelhante. No caso, vou lutar pelas pessoas da minha comunidade. Estou fazendo questão de não fazer campanha no Autorama até porque não quero ninguém dizendo que me aproveitei.

Você chegou a ser presa numa dessa blitz que ocorreram no parque Ibirapuera?
Quase. O que aconteceu é que no dia, eu sai do salão e fui atender uma cliente, da minha cliente fui paro Autorama. Fui com capa, tesoura e pente. Quando a blitz encostou, pensei ‘não estou devendo nada pra ninguém, pra que vou fugir, me esconder, jogar fora a tesoura?’. Imagina. Paguei R$700 numa tesoura, não tinha porque jogar fora. Eu esperava que o policial fosse entender, mas infelizmente contribui de certa forma pra imagem negativa que eles querem construir pro lugar. Tanto que ele perguntou se eu ia assaltar alguém. Ele queria saber o que estava fazendo com tesoura no parque àquela hora.

E qual a sua proposta para o Autorama?
Estive com a Marta numa ocasião e entreguei um projeto para ela sobre o Autorama. Na época, Marta era Ministra do Turismo. Era um projeto para transformar o local numa espécie de corredor cultural. Tem que fazer algo voltado para a área do turismo.

E as blitz, ainda estão ocorrendo?
Sim, estão. Mas é aquela coisa. O pessoal já se acostumou com as blitz. Hoje a freqüência é menor. A intenção das pessoas poderosas que têm interesse naquela área é sufocar a freqüência.

E quais são seus projetos para o segmento LGBT?
Eu tenho vários projetos. A Márcia me ajudou a fazer uma lista. Está no meu blog. Uma das coisas que acho importante evidenciar é o compromisso que fiz com a ABGLT. Outra coisa é meu comprometimento total no mandato com a comunidade. Sei que as pessoas criticam a gente. Antes eu escutava muita crítica em relação à Salete. Agora sou eu que escuto as criticas.

Que tipo de críticas?
Que a gente só quer aparecer, que não temos conteúdo. Esses comentários chegam a ser até ridículos.

Como você rebate essas críticas?
Acho que a oportunidade não está para todos. Tive a oportunidade e estou agarrando-a com unhas e dentes. Não posso fazer nada se quem se acha mais preparado ou que tem um discurso melhor não foi convidado a se candidatar. O que eu tenho é boa vontade e a cara para bater. E é isso que estou colocando à disposição.

Como você avalia hoje o trabalho da  CADS?
Acho que é a idéia perfeita, mas não está funcionando perfeitamente. É um órgão hoje que está lá para fazer eventos e não para fazer políticas públicas pra comunidade. Tanto é que tem um centro de atenção ali que desde o início era para estar funcionando e não está.

E o resto do trabalho da Cordenadoria?
O que tem se apresentado é algo de fachada. Recentemente eles falaram num curso que estão dando de qualificação para travestis. Só que eles favorecem só quem faz parte da panelinha dele. Só contemplam as pessoas que eles conhecem. É um trabalho que poderia ser bem melhor.

E o Centro de Referência de Combate a Homofobia?
É outro órgão que eles atendem só quem eles acham que devem atender. Levei uma questão minha e eles não deram a mínima. Um problema que eu tive na Pinacoteca com um segurança. Mas levei um caso com a Rosana Star e eles deram atenção. Não estou me colocando na posição de que ‘ah, eu vou resolver tudo isso’. Mas aonde eu vejo que está errado eu vou falar sim. Não vou ficar calada. O trabalho da CADS até mesmo pelo pouco tempo que tem é até louvável em alguns setores e algumas atividades que eles foram bem felizes.

Em quais por exemplo?
A capacitação da Defensoria. Foi ótima. Você chegar lá como eu cheguei e ser tratada por senhora Jacque, dona Jacque, madame. Isso não tem dinheiro no mundo que pague você.

Como você acha que a Coordenadoria deve atuar independente de quem for o novo prefeito?
Acho que tem que ser um trabalho melhor. Que seja voltado para políticas públicas.

Como fortalecer o Centro de Referência?
Capacitando as pessoas que estão lá dentro para ter um olhar diferenciado pra comunidade e em especial para as travestis.

Você esteve nas reuniões do comitê LGBT da Marta. Está apoiando a candidata?
Quando fui dar apoio ao comitê da Marta procurei saber se eles manteriam a CADS. Como vai, eu dou apoio, nem teria como negá-lo. É o partido que criou o Brasil Sem Homofobia, o projeto Travesti e Respeito e a I Conferência.  Então você não pode fechar os olhos pra isso. Embora meu comprometimento teria que ser com Renato Reichman, que é do meu partido. Mas quando vejo que o candidato está com 0% vou apoiá-lo por quê? Tenho que me posicionar politicamente e estou com a Marta.

Você acredita que nesta eleição algum candidato gay se elegerá na cidade?
Não. A comunidade não está pronta para votar em gay. Ela não tem essa cultura e não está preparada para dar esse crédito. É lamentável.

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