Polêmico. Irreverente. Impagável. Corajoso, ou auto-coroado, como ele mesmo diz. Todas essas palavras podem ser usadas para descrever a personalidade de José Celso Martinez Correa, ou simplesmente Zé Celso.
O diretor teatral roubou a cena na noite de ontem durante debate sobre personagens homossexuais na teledramaturgia brasileira, ocorrido na Caixa Cultural de São Paulo, dentro da mostra "Homossexualidade na Mídia – O que mudou?".
Antes de o debate começar, despudorado, Zé Celso tirou, na frente de todos os presentes, as roupas de frio que estava usando. E isso inclui suas ceroulas. A discussão teve intermediação de Duda Leite.
O primeiro debatedor foi o dramaturgo e ator Dioníso Neto, que fez uma breve explanação sobre a história da homossexualidade no mundo. "O que nós temos são ciclos em que ora a homossexualidade é aceita, ora não. Há períodos de liberação e períodos de repressão", afirmou o ator, que aproveitou a oportunidade para revelar que protagonizou um beijo gay na minissérie Alice, a ser exibida pela HBO, a partir do segundo semestre deste ano.
O jornalista Eduardo Peret falou em seguida, sobre um assunto que aguçou a curiosidade da platéia: telenovela. O carioca, que defendeu tese sobre a homossexualidade na teledramaturgia, fez uma análise sobre as primeiras aparições de personagens gays nas novelas. "Eles não apareciam como casais. Não tinham namorados do mesmo sexo, uma paquera ou uma insinuação. Então, como eu sei que ele era gay? Porque ele era afeminado. Era assim que os personagens eram retratados, estavam no núcleo cômico. Ou então o roteiro tratava como se a homossexualidade fosse uma questão de dependência financeira."
O jornalista apresentou dados curiosos para a platéia, citando, por exemplo, que somada numa linha do tempo, a história do casal lésbico Clara e Rafaela da novela Mulheres Apaixonadas, durante todo o tempo que a novela ficou no ar, não chegou a mais de duas horas. "A história delas dá cerca de 1 a 2% da novela. O mesmo se deu com Zeca e Junior em América. Ninguém se lembra do final da Sol, mas todos se recordam que no último capítulo era para ter um beijo gay, que foi gravado, mas não exibido", afirmou Eduardo.
Em seguida foi a vez de Zé Celso, que começou sua participação fazendo todos os integrantes da platéia, e também os outros debatedores, a fazerem um chacra e a beberem vinho. Em sua fala, Zé citou a história do Teatro Oficina, falou que há "racismo" da mídia no trato com a homossexualidade. Criticou também os meios de comunicação, classificando-os como "autoritários". Para ele, as novelas existem para criar produtos vendáveis para a classe média. Zé também disparou que a teledramaturgia é maniqueísta, proveniente da inquisição.
O ciclo de debates em São Paulo continua hoje e amanhã. A mostra segue até domingo (20/07) com exibição de filmes e seriados de temática homoerótica no Rio de Janeiro e em São Paulo. Para conferir a programação completa clique aqui.