Em meados dos anos 80 quando a música pop vivia a ressaca dos yuppies, cansada de canções bregas e cafonas. Michael Jackson brilhava no deserto e tinha lá os seus coadjuvantes: Lionel Ritchie, George Michael, Paul Simon… Surgia uma garota cheia de penduricalhos que dançava no palco, fazia gestos sexuais em sua apresentações. Claro que na época foi bombardeada pela mídia e pelos concorrentes. Falamos do ano de 1983, do seu primeiro disco intitulado apenas "Madonna". Canções de amor e problemas de personalidade permeavam o disco. Logo de cara a ainda jovem Madonna emplaca um sucesso que hoje é clássico absoluto, "Holiday". Não existe show dela sem essa música. Ainda no primeiro disco fez algum sucesso com as canções "Boderline" e "Everbody". Mas, diziam que era muito nova e não passava de uma cantora de verão.
A futura rainha do pop negava, tirava sarro dos seus concorrentes, dizendo que eles tinham medo de perder espaço e era comum debochar dos mesmos. Afirmava que estava ali para inovar a tão chata cena pop oitentista. Daria os seus primeiros passos no ano seguinte, em 1984, quando lançaria o seu primeiro grande sucesso, o disco "Like a Virgin" e neste disco o eterno apelido de material girl, nome que carrega até hoje, devido ao sucesso mundial da música que leva o mesmo nome de seu pseudônimo, e também as primeiras polêmicas dela com o single "Like a virgin". Se ainda hoje a sociedade norte americana se choca com pouco, imagine então em plena guerra fria, uma cantora se auto-afirmando materialista e se sentindo como se fosse uma virgem testada pela primeira vez?
Com o disco seguinte, "True Blue" fincaria a sua música nos tops dez ao redor do mundo, com clássicos pop como "Papa don’t preach", "La isla bonita" e "Live to tell". Também no ano de 1989 terminaria o seu casamento com o astro Hollywoodiano Sean Penn, a sua vida íntima pela primeira vez estaria estampada em todos os tablóides. Enfim ela se tornaria uma pré-celebridade, a trilha para se tornar uma pop star estava aberta. Porém, no disco seguinte ela levaria banho de gelo da crítica. Primeiro pela sua estréia como atriz no filme "Who is that girl", também assinaria a trilha do filme, mas foi duramente criticada por sua atuação, considerada fraca, coisa que ela viria assumir em tempos remotos. Bombardeada, ela daria a volta por cima com o seu disco "Like a prayer" de 1989 e também teria o seu primeiro clipe proibido em praticamente todo o mundo: com a canção que dá nome ao disco ela encena estar fazendo sexo com um Cristo negro. Precisava de mais? Para a Sra. Ciccone sim!
Em 1990, Madonna participa do filme "Dick Trace" e também compõem a trilha sonora, com o disco "Im breathless", neste disco há o mega hit "Vogue", que dominou as pistas do mundo inteiro, todos dançavam a coreografia. Em seguida lança sua primeira coletânea, intitulada "The Immaculate Collection", com duas músicas inéditas: "Rescue me" e "Justify my Love". A primeira passou batida, e com "Justify my Love" a rainha da música pop dava sinais do que viria a seguir. Primeiro que nesta música ela participa da produção junto com Lenny Kravitz e mais uma vez o seu videoclipe seria proibido: o vídeo relata o ato fetichista, sadomasoquista e voyeur de se fazer sexo. Censurada e com milhões de fãs. No mesmo ano lança o polêmico documentário "Na cama com Madonna", não é preciso dizer que era proibido para menores.
Dois anos de silêncio se passam e "Erotica" é lançado, considerado por muitos, até hoje, o seu melhor disco. Mas, não seria apenas um disco, e sim uma alegoria do sexo e da ousadia. Primeiro com o clipe da música título, no qual Madonna aparece nua no fim do vídeo, sem contar com as cenas pra lá de pornográficas. Para mexer ainda mais com a indústria fonográfica, ela lançaria o "Livro erótico", uma edição limitada onde ao lado da modelo Naomi Campbel, elas encenam cenas sensuais. Levantou-se até a hipótese de uma Madonna bissexual ou até mesmo lésbica. O livro esgotou em dias e hoje vale fortunas. Nessa mesma época ela passa pelo Brasil com a sua turnê "The Girlie Show ", a deixar saudades.
Depois do estrondo de "Erotica", o que mais poderíamos esperar da diva absoluta da música pop? Pois é, as pessoas tanto esperaram que um disco, digamos comum, chegou às lojas, "Bed time stories". Tinha ali uma Madonna mais ousada musicalmente, havia parceria com Bjork. Mesmo assim foi tudo morno. E a legião de seguidores teria que agüentar ainda mais tempo longe de sua deusa, pois entraria em processo de gravação do filme-biografia "Evita", produção musical que relata a vida de Eva Peron. Foi indicada ao Globo de Ouro por sua atuação, fez sucesso com a canção "Dont cry for me Argentina". Depois ela sairia de cena por cinco anos, se casaria com o cineasta Guy Ritchie, dois filhos viriam ao mundo. Mas, é aquela história, rainha nunca perde trono, e mesmo com Spears e Aguilera no páreo, seguidoras assumida da diva, Madonna lança "Ray of light" em 1998, choca a todos: fãs e mídia. A sua musicalidade está diferente, tende ao eletrônico, há estranhamento, mas ela está de volta. Em seguida lança "Music" e volta às paradas, clipe proibido (What feels like for a girl – remix), trilha sonora para 007… Enfim ela voltou e o seu espaço ainda vago estava. Agora acaba de lançar o disco "Hardy Candy" com promessas de passar pelo Brasil.
E por que ela reina até hoje? As respostas são várias: quando quis provocar o remoto anos 80, o fez. Resolveu atuar, se jogou. Desejou extrapolar o simples vídeo comercial, fez com maestria. Brincou com o mundo do sexo e do fetiche. E quando achou que tudo já tinha sido experimentado e chato já estava, retirou-se. Foi descansar, investir em projetos mais sérios, escrever livros infantis, cuidar dos seus filhos, fazer política anti-bush. Tudo fez com marketing original e fez escola, ainda hoje arremata novos fãs, e perto de completar 50 anos ainda inova em sua música. A verdade é que pós-madonna dificilmente teremos outra artista como ela, ou melhor, não teremos.