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Os mitos e verdades das relações abertas

Jorge Antunes* se lembra bem de quando topou com um casal adepto das relações abertas: "Conheci Carlos em um site de relacionamentos. Ele foi sincero: disse que namorava o Marcelo, mas que o relacionamento era aberto. Eles estavam juntos havia seis anos, mas, logo no início, descobriram que os dois eram ativos. Começaram nas ‘brincadeiras’, depois entraram naquelas de um esperar o outro ‘ceder’. Como não acontecia, passaram a sair juntos para transar com um ‘terceiro passivo’". Não é preciso dizer qual posição Jorge assumiu…

A experiência dele mostra apenas uma das muitas facetas que uma relação do tipo aberta pode ter. É até difícil definir o que é uma relação aberta. Por isso, decidimos seguir por uma via do tipo "mitos e verdades" – mas ainda restava a pergunta…

O que é uma relação aberta?
João Pedrosa, 52, psicólogo e analista do comportamento; Adriana Nunan, 34, psicóloga e terapeuta cognitiva; Marco Garcia, 27, bibliotecário; Paulo Snake, 55 , empresário; Marcos Costa, 35, professor; e Antonio Araújo, 30, fisioterapeuta, foram confrontados com a pergunta.

Resumo da ópera: relações fechadas são aquelas nos quais os parceiros se relacionam de forma exclusiva, afetiva e/ou sexualmente. Já as abertas permitem a entrada de outros. Geralmente, essa "entrada" ocorre na forma sexual e sem envolvimento emocional, que costuma ser vetado – mas há relações abertas que o permitem, ou aquelas que, no outro extremo, vetam o sexo e liberam apenas determinados tipos de carícias (veja quadro das tipologias). De cara, já dá para matar a primeira afirmação sobre as relações abertas, não?

Toda relação aberta envolve sexo.
MITO. "As relações abertas permitem a entrada de outras pessoas […] sexualmente e/ou afetivamente, dependendo das regras estabelecidas entre o casal", diz Adriana Nunan. Marcos e Paulo, que vivenciaram as suas, incluem outras carícias: "Não vejo diferença entre você só fazer sexo oral com uma pessoa ou anal", disse Marcos. Para Paulo, "ambos têm a liberdade de se envolverem, em diversos níveis, conforme o acordo de cada par; se pode beijar na boca ou não, se pode sair sozinho com o terceiro, se pode trepar sozinho sem o outro…".

Relações abertas duram menos.
DEPENDE. "Muito relativo", diz João Pedrosa. "Parece que a fechada tende a durar mais, pois existe uma maior segurança no relacionamento, faz-se mais planos". Já para Adriana Nunan, "as relações duram mais ou menos de acordo com a felicidade dos membros do casal, e isso independe de ser aberta ou fechada".

Relações abertas surgem depois de anos de relação fechada.
MITO. Com a palavra, o bibliotecário Marco Garcia, que vive atualmente uma relação aberta: "Foi uma condição para namorarmos. O Arnaldo só aceitou começar o namoro se fosse uma relação aberta".

Numa relação aberta, a probabilidade de encontrar "um outro alguém" é maior.
DEPENDE. Para Pedrosa, sim: "a pessoa terá uma quantidade maior de parceiros e uma possibilidade maior de encontrar alguém que o reforce mais". Adriana Nunan, Antonio Araújo – que nunca viveu uma, mas quis – e Paulo Snake, que até já namorou a três, discordam: "Quando a coisa não anda boa, essa procura vai acontecer, com relação aberta ou fechada", diz o empresário.

Há mais ciúme numa relação aberta.
MITO. Não é verdade. "O ciúme tem muito mais a ver com o indivíduo do que com a relação", diz Adriana. Pedrosa concorda: "Se o indivíduo tem uma história de reforço em ser ciumento, […] tanto na relação aberta como na fechada, ele será ciumento". Já para Paulo Snake, na relação aberta, existe menos ciúme.

Toda relação aberta tem regras.
VERDADE. "A característica mais marcante das práticas culturais são as regras. Elas existem independente da nossa vontade e, se ainda não existem, as criamos", diz Pedrosa. Para Garcia, as regras são fundamentais, "para respeitar os limites do outro e evitar mágoas e desgastes".

Casais em relação aberta sofrem preconceito.
VERDADE. "Pessoas com relações abertas são vistas como promíscuas, pouco comprometidas, que não sabem o que querem etc.", diz Adriana. "Os amigos mais conservadores podem se afastar", alerta João Pedrosa.

* com exceção de João Pedrosa e Adriana Nunan, todos os nomes foram trocados para preservar identidades.

Tipologia das relações abertas
.: Egoísta: apenas um dos parceiros pode sair com outros;
.: Pirulito: não pode transar, mas pode carícia, beijo e até sadomasoquismo; algumas incluem sexo oral;
.: Recheio: transamos sempre juntos, a três;
.: Banquete de casamento: fazemos a três, mas participamos de suruba com mais gente;
.: 7 de setembro: transas independentes, sempre separados; algumas incluem contar para o parceiro; outras não.
.: Tribalista: "eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também". No sexo, pode tudo, junto ou separado.
.: Poliamor: libera o envolvimento emocional. Pode haver evolução para namoro a três ou mais pessoas.

Existem ainda "subtipos", como relações que vetam práticas específicas. Um dos casais sondados permitia que um dos membros transasse com outros – desde que não fizesse passivo!

** Matéria originalmente publicada da edição 34 da revista A Capa.

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