Como diz o ditado, o pior cego é aquele que não quer ver. É também aquele que resiste a mudanças, que tem medo de ousar e que, por puro preconceito, não arrisca experimentar o novo, permanecendo sempre na mesmice aterradora.
Ontem fui assistir à “Ensaio sobre a Cegueira”. É um filme interessante, com uma marca forte do diretor Fernando Meirelles. A adaptação para o cinema passa longe da qualidade da obra de Saramago por não conseguir alinhavar todos os fatos da trama original. Permanece, assim, a sensação de uma história mal contada, consumida pela produção cuidadosa com olhar “estrangeiro” (algumas cenas do filme foram rodadas em São Paulo, uma São Paulo com cara e jeito de uma cidade norte-americana qualquer).
Ainda assim, “Ensaio” propõe uma discussão fértil e atual: o que você faria se a nossa civilização sucumbisse repentinamente, poderes paralelos dominassem o mundo e as únicas leis que existissem fossem aquelas criadas arbitrariamente em meio aos caos? Se levada para o dia-a-dia das nossas cidades e para o microcosmo de nossas relações, essa discussão é ampliada: o que estamos fazendo para salvarmos a nós mesmos de nossa própria cegueira, aquela que não nos deixa enxergar além do nosso próprio umbigo?
Eu posso falar por mim, claro: estou passando um processo de mudança complicado, que está exigindo tomadas de decisões rápidas e precisas, e cuja dificuldade está na forma com a qual lidamos com nossos problemas. Saber se livrar das amarras que tomam conta de nós e que nos impedem de sermos um pouco mais felizes é vital para a sobrevivência dos nossos sonhos, mesmo que eles sejam atenuados pela realidade dura e cruel. Abrir os olhos para o novo, enxergar além daquilo que queremos e desejamos, pode nos levar à libertação.