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A difícil vida de refugiados gays e trans no Oriente Médio

Refugiados LGBTI na região encaram um maior risco de abusos e violência, incluindo assassinatos, e algumas vezes caem nas mãos de gangues criminosas ou extremistas. 

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Nadia (*) lutou muito para conseguir aceitação em seu país natal, Iraque, onde anos de abuso culminaram com ela raptada por uma milícia extremista que perseguia pessoas como ela.

 
“Fomos seriamente torturadas e espancadas”, conta ao relatar quando ela e seus pares tiveram os orifícios selados com cola. Muitas foram assassinadas. “Tive que deixar o Iraque para sempre e isto ainda dói”, lamenta.
 
Depois de uma busca angustiante por segurança no Oriente Médio, ela agora está sob proteção da agência do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) no Líbano e se sente pronta para um novo recomeço.
 
Criada como menino por uma mãe fria e um pai abusivo, Nadia, de 23 anos, se identifica como mulher. Sua fuga a levou para um conflito sectário em áreas de pós-guerra de Bagdá ao Curdistão, Irã e agora Líbano. Em breve ela espera se instalar em um novo país.
 
Mas ainda não é possível sepultar as traições e abusos do passado. “Achava que era a única pessoa do planeta a ser assim”, relata ao falar da sua identidade trans. “Me perguntava por que eu era assim. Era vergonhoso, realmente vergonhoso”,  conta ao lembrar as reações das pessoas com quem convivia.
 
Experiências similares são contadas por outras lésbicas, gays, bissexuais, pessoas trans e intersex – coletivamente conhecidos como LGBTI – agora vivendo como refugiados sob a proteção do ACNUR na região.
 
De acordo com depoimentos ouvidos pela equipe do ACNUR e parceiros, refugiados LGBTI enfrentam maior risco de assédio, prisão, sequestro, tortura, estupro e até assassinato. Alguns, como Nadia, são alvo de gangues criminosas ou extremistas. E eles ainda têm as preocupações diárias como encontrar trabalho e abrigo, coisas já difíceis para outros refugiados.
 
O Líbano é considerado mais tolerante a orientações sexuais diversas e identidades de gênero do que seus países vizinhos. Ainda assim, o código criminal proíbe relações sexuais “que contradigam as leis da natureza” e isto pode provocar processos.
 
Faltam dados sobre quantas pessoas LGBTI precisam de assistência mas MOSAIC, um parceiro da ACNUR que trabalha com grupos marginalizados no Líbano e outras regiões, diz ter atendido 810 pessoas LGBTI até agora neste ano. Os dados, porém, são considerados muito superficiais.
 
“Depende muito de como eles chegaram aqui e o tipo de ajuda que já tiveram”, afirma o fundador do MOSAIC, Charbel Maydaa. “Há muitos fatores que definem segurança. Eles estão em uma casa segura? Efetivamente registrados e protegidos? Têm acesso a organizações de apoio? Ser um refugiado LGBTI pode ser um estigma duplo”, afirma.
 
Recentemente, o ACNUR promoveu um abrangente treinamento para a comunidade humanitária que trabalha com pessoas LGBTI e refugiados, além de fazer um balanço de seus progressos na atuação neste setor.
 
No Líbano, assistentes sociais especializados dão aconselhamento psicológico e encaminhamento médico – especialmente para cuidados pós-trauma. Outros atendimentos a refugiados LGBTI incluem abrigo, cuidados em saúde mental e assistência emergencial, tanto financeira quanto legal. Quando necessário, os refugiados são levados para outro local.
 
O ACNUR também trabalha junto a parceiros como MOSAIC, o ABBAD – Centro de Pesquisas para Igualdade de Gênero e outras ONGs nacionais e internacionais para dar apoio individual e coletivo aos refugiados LGBTI. A Agência e seus parceiros já treinaram policiais para ajudá-los a entender as necessidades destas pessoas e introduziu um arco-íris de identificação para que o pessoal treinado possa atender às necessidades da comunidade.
 
Depois do aterrorizante sequestro e tortura de Nadia em 2012, a vida em Bagdá é perigosa para a comunidade trans. Enquanto várias pessoas foram assassinadas, outras continuam enfrentando abusos incessantemente.
 
“No Iraque, gays e trans são perseguidos”, ela afirma. “A maior parte das pessoas trans se suicida porque não há vida. Elas não podem viver como querem”, relata.
 
Inicialmente, Nádia fugiu para a região curda do Iraque e, na sequência, para o Irã enquanto buscava, sem sucesso, a transição de homem para mulher. Quando retornou a Bagdá, os abusos a sua família aumentaram. Não convencidos por um diagnóstico médico de que ela não poderia ser homem, pai e tio a trancaram e a torturaram, esfregando palha de aço em sua pele na tentativa de fazer com que seus pelos crescessem, além de lhe injetarem testosterona.
 
Finalmente ela conseguiu escapar para o Líbano, ajudada por um médico amigo da família e a tia. “Minha tia me disse: `vá e nunca volte. Se a virem de novo, te matarão”, ela conta. “Tenho uma vida nova por conta dela”.
 
Conseguir asilo em Beirute não tem sido fácil. Há desafios como encontrar trabalho, pagar aluguel , além de ouvir insultos de colegas ou ameaças da família de seu novo parceiro, um refugiado sírio que lhe deu um anel e com quem espera se unir em breve. Para o futuro, Nadia deseja ajudar os outros. “Sonho em me estabelecer e adotar uma família, ter um bebê com meu namorado. Serei uma embaixadora da boa vontade para pessoas trans para despertar a consciência das pessoas”, espera.
 
Para profissionais como Maydda do MOSAIC, o caso da Nadia e incontáveis outros mostram que há esperança para a comunidade de refugiados LGBTI na região. Ele lembra, no entanto, que a mudança cultural ainda levará tempo.
 
(*) nome fictício
 
Fonte: Agência da ONU 

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