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A Festa da Menina Morta

Matheus Nachtergaele se revelou ótimo diretor quanto ator. Digo isso, pois na sexta-feira (19/05), fui assistir ao filme "A festa da menina morta", que tem a assinatura do ator na direção, no caso, a sua estréia como tal. E ele já começou bem: ganhou o prêmio de melhor filme no festival de Rotterdam e foi escolhido para ser exibido na mostra paralela de Cannes do ano passado.

E do que se trata o filme? Bom, é complicado falar, não há apenas um tema que permeia os personagens e sim vários e particulares. O ponto de partida está em Santinho (magistralmente interpretado por Daniel Oliveira), que foi relegado pelo vilarejo, que fica em Amazona, a ser uma figura santa. Isso por que um cachorro, com as roupas de uma menina que morreu, levou a vestimenta da criança defunta até os pés do moço.

Pronto, o suficiente para que Santinho seja considerado o milagreiro, mas, o mais importante da história não está na mediunidade do rapaz e sim da relação que as pessoas estabelecem com ele. Há um circulo vicioso que faz com que certas personagens se mantenham próxima de Santinho e ele se aproveita disso, fazendo das pessoas ao seu redor seus servos e isso de maneira despótica.

Particularmente fiz inúmeras leituras a respeito dessa coisa chamada crença e fé. Chama a atenção à cegueira das pessoas frente à figura santificada por eles. Não da pra saber se é o desespero de se estar em um lugar meio que esquecido pelo Estado e pela sociedade que as pessoas, a fim de amenizar tal lodo se ligam a Santinho, pois assim elas têm um lugar para onde canalizar as suas dores e buscar as suas esperanças.

Essa relação se dá com todas as religiões e podemos considerar tal relação um fenômeno moderno fruto do fundamentalismo do capital. Sob a égide da qual, só é feliz que consome e quem tem status social para se vangloriar, uma massa enorme se sente diminuída pela publicidade diária que pulula na TV, meio de comunicação mais consumido no Brasil, sem muito que consumir, muitas vezes as portas com a miséria… Alvo fácil para os discursos salvacionistas e místicos.

Assim, entendo que a menina morta do filme é na verdade todos os símbolos e não símbolos religiosos idolatrados e orados por inúmeras pessoas. No fundo, muita gente sabe que aquilo não vai dar em lugar nenhum, não existe paraíso algum, mas encontram na fé um meio de alimentar o vazio criado pelas peças propagandísticas, encontram também um acalento para as suas carências emocionais.

Confira aqui entrevista exclusiva que Matheus Nachtergaele concedeu ao A Capa sobre o filme e aqui crítica do longa por Diana C.

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