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“A Parada Gay tem menos ocorrências que jogos de futebol”, diz Franco Reinaudo

Franco Reinaudo assumiu o comando da Coordenadoria de Assuntos da Diversidade Sexual da Prefeitura da Cidade de São Paulo (CADS) em fevereiro desse ano. Portanto, já vai praticamente um ano de sua gestão. Desde que entrou, Franco comemora o fato de, em um ano de "crise", a CADS ter crescido e hoje contar com 28 funcionários em seu quadro, incluídos aí os estagiários.

No papo exclusivo que você confere a seguir, Franco conversou sobre dois temas que irão dar o que falar no ano de 2010: a parada gay de São Paulo – esta sempre será assunto – e o tão aguardado Mapa da Homofobia, primeiro trabalho bancado por um governo a fim de mapear as regiões onde a homofobia se concentra.

Ainda não há uma data para os resultados do mapa, mas Franco contou à reportagem do A Capa que eles já começam a percerber duas coisas das quais eles suspeitavam: os principaios focos de homofobia tem se dado dentro de casa e no centro de São Paulo. Os motivos? Confira a seguir na entrevista.

O que será o Mapa da Homofobia?
O mapa vai ser uma ferramenta  importante. Nós criamos um núcleo de informação e o mapa é o primeiro projeto. Nós iremos mapear os locais com maior incidência de acontecimentos homofóbicos na cidade através das denúncias feitas no Centro de Referência. No ano que vem faremos uma campanha para que possamos ampliar o número de denúncias. Mas o importante é que começa a ser criado um banco de dados com informação. Até hoje, pra fazer política pública a gente íamos na intuição. A pretende cruzar essas informações com o bando de dados da Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância). Você começa a ter uma informação segura. Poderemos agir com mais eficácia. Se foi uma agressão verbal, você vai lá e sensibiliza, se foi violência, você mobiliza a segurança. Então acredito que isso vai mudar a cara do que iremos fazer no ano que vem.

Existe alguma previsão para os primeiros resultados deste mapa?
Iremos publicá-lo no ano que vem. Temos percebido algumas coisas importantes: surpreende ter, mais do que a gente achava, casos de homofobia dentro de casa. Uma coisa que a gente intuía e que deu no mapa é que grande parte dos acontecimentos homofóbicos se dão no centro da cidade. Mas ainda não temos uma análise crítica, como se esses casos acontecem porque o Centro de Referência está aqui no centro e as pessoas vão fazer a denúncia ou se realmente é uma região mais afetada. Outra coisa importante é que agora nós temos uma parceria com USP – Leste (Universidade São Paulo ) e será ela que vai ajudar a gente a analisar esses dados. O professor Alessandro Soares que trabalha com políticas públicas dentro do curso de Gestão de Políticas Públicas irá nos ajudar a fazer o mapa e analisar esses dados, até por uma questão de transparência.

Esse ano houve problema no pós-parada. A CADS e a APOGLBT pensam em mudar alguma coisa?
Não. Existe uma dicotomia entre o que foi realmente a parada e o que foi publicado na mídia. Conseguimos reduzir o número de atendimentos  nas tendas hospitalares relacionados a bebida, porque a GCM (Guarda Civil Metropolitana) conseguiu fazer um trabalho incrível.  Eu não lembro a quantidade, mas foram vários caminhões de bebidas ilegais, aqueles vinhos. Eles conseguiram apreender uma quantidade significativa. isso teve um reflexo nos hospitais, teve reflexo na violência, que diminuiu bastante… Agora, é lógico, você tem as imagens, teve a bomba que, inclusive o caso foi resolvido com um trabalho incrível da Dra. Margarete [Barreto, delegada titular da Decradi]. Nós sempre tentamos melhorar a segurança e a qualidade do evento.

Houve a questão da dispersão ter sido feita muito cedo e de que isso teria transformado as pessoas em alvo fácil para homofóbicos. Você concorda?
Eu realmente acho que terminou muito cedo, mas aí nós não temos inferência enquanto prefeitura. Mas, foi feita uma avaliação, inclusive pela Associação, de que foi muito rápido e que isso está sendo revisto. A idéia era que saísse da paulista às 18h.

Até a Dra. Margarete disse que,  ter saído muito cedo da Paulista transformou as pessoas em alvo fácil. 
Acredito que não. O que acabou acontecendo foi que a parada acabou cedo, as pessoas se programam e acabou todo mundo indo pra Vieira (Rua Vieira de Carvalho, ponto de encontro da comunidade GLS)… Eu não acho que seja isso (dispersão cedo), a violência não deve ser justificada de forma alguma. Agora, a gente sabe que é difícil quando você tem um número grande de pessoas…  A parada gay de São Paulo é um evento que não tem parâmetros no mundo.

Pelo número de participantes (três milhões) podemos dizer que a violência é pequena?
Muito. A Polícia Militar (PM) fala isso, de que é impressionante. Se nós falarmos em termos comparativos, a parada gay tem menos ocorrência que qualquer jogo de futebol. Isso é admirável.

Acredita que a grande imprensa foca muito na violência e parece que é algo grande?
Isso foi algo que aconteceu esse ano. Eu estava dando um curso ontem (terça-feira) de capacitação para a Guarda Municipal e tinha uma menina que falou isso: "o meu irmão tem um bar numa travessa da Av. Paulista. Falaram pra ele que tinha violência na parada e ele fechou" e ela contou que quando ele chegou, um dia depois da parada, o toldo tava lá e o vizinho dele, que tinha um bar estava feliz da vida. E, disse que esse ano ele abriu, não aconteceu nada e ele faturou pra caramba. Aí ela falou isso também, que quando acontece qualquer jogo futebol  depedram e quebram. O que nós temos são fatos localizados. Assim como a Parada atrai turista, ela também atrai gente mal intencionada que vai lá pra roubar. A parada tem que ser sempre pensada para melhor, mas ela é um evento único.

E são poucas pessoas que tocam a Parada.
Exatamente. Você tem poucas pessoas que fazem um trabalho incrível lá.

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