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O conservadorismo gay

 Duas notícias que demos aqui no A Capa revelaram a forma de pensar de certa parcela da comunidade gay, não que fosse novidade, mas choca pelos argumentos sectários e conservadorismo exacerbado.

White Party
Domingo fui à quarta edição da festa anual White Party para trabalhar e também para me divertir um pouco. Segunda feria  a reportagem foi ao ar. Os comentários que escutei em relação a matéria revelaram o preconceito de vários gays contra pessoas mais velhas e pessoas que fazem uso de substancias consideradas ilícitas.

Coisas do tipo, "credo, tava cheio de gente velha e bêbada lá", "nunca mais vou nessa festa, só tinha vovô lá"… E os comentários seguiam esse nível de coletividade gay. Não a toa muitos gays temem a velhice, pois sabem que mesmo entre os seus pares há uma ojeriza as pessoas com mais idade. Isso é ignorância, pois todo mundo vai ficar velho… É tão óbvio, que chega a ser irritante.

"Não gosto de pessoas que pavoneiam de fio dental pela Avenida ou que se beijam em frente às crianças", por Ney Matogrosso.

Essa frase do Ney desceu torta. Não entendi como um cara que tanto transgrediu na questão da sexualidade e cultural poderia ter um pensamento tão conservador e moralista. Justo ele, que tanto pavoneou em cima dos palcos, inspirou muito gente e ganhou muito dinheiro pavoneando. E Ney ainda disse que é a favor das liberdades sexuais… Acho que já foi.

Acreditei que a matéria fosse surtar a comunidade gay, que ficariam contra a posição do cantor. Ledo engano. Mais uma vez em dois dias uma parcela significativa da comunidade gay revelou apoio à justificativa de Ney Matogrosso por não participar de paradas gays.

Boa parte dos comentários era do tipo: "Ney está certo, as pessoas devem se dar o respeito para quererem o respeito", "a parada é um carnaval", "também acho uma pouca vergonha se beijar na frente das pessoas". Enfim, o povo concorda que devemos ser homossexuais entre quatro paredes, ou comedidos.

Mas eu pergunto: E os heterossexuais, são comedidos? O que são as micaretas ou as festas de carnaval em Salvador? Com eles tudo bem? Com os gays é baixaria?

Concordar com a frase de Ney Matogrosso é fazer coro com a colocação dos fundamentalistas religiosos de que, "não temos nada contra os homossexuais, mas não aceitamos a sua prática sexual".

Podemos ser gays se nos beijarmos apenas em casa, não podemos trocar carinhos em locais públicos… Continuar invisíveis para agradar os bons costumes da Tradição Família e Propriedade.

Ou seja, Ney Matogrosso pavonear em cima do palco é arte, a beesha pavonear na Avenida Paulista é baixaria.

É mesmo?

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