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“Amo minha raça e minha cor”, diz Layla Ken sobre o preconceito racial

Layla Ken foi a segunda Miss Brasil Gay negra a conquistar o título de mais bela transformista do ano, isso no ano de 2006. Antes dela, apenas uma negra tinha ganho o mesmo concurso, Erika Egito, porém, no ano de 1989. Sobre essa conquista Layla não pensa duas vezes e diz, "consegui quebrar as barreiras, fico feliz em ser a segunda negra a ter conquistado a coroa e a faixa".

Nesse bate-papo especial para marcar o dia da Consciência Negra, Layla ainda fala sobre a sua relação com a família que, segunda ela "é dinheiro no bolso". A ex-miss também solta o verbo e aponta por qual motivo de apenas duas transformistas negras conquistaram o título. Layla conta também o que sente a respeito do orgulho negro. "Eu amo a minha raça e a minha cor". Confira a seguir a entrevista completa.

Qual a sua idade?
23 anos

Profissão?
Maquiadora, aderecista, sou uma bicha multi-uso.

Você está estudando no momento?
No momento não, vou prestar vestibular pra odontologia no ano que vem.

O negro e gay sofre mais preconceito no Brasil?
Sim, por vários fatores. O gay em si já é muito afetado pela sociedade e ainda por cima você ser negro. Muitos já têm preconceito e ainda ser gay, piora dez mil vezes mais.

Nos últimos anos melhorou alguma coisa nesse sentido?
Não digo 100%. O povo brasileiro, não só ele, mas o povo mundial tem muito o que aprender ainda.

Apenas você e a Erika Egito (em 1989) foram vencedoras negras do concurso Miss Brasil Gay. Isso se dá por quê? Há um preconceito racial?
Já passaram tantas negras lindíssimas por aquele concurso que não chegaram ao título. Olha não acho que eles foram preconceituosos, eu consegui quebrar as barreiras, fico feliz em ser a segunda negra a ter conquistado o título.

Ainda hoje vivemos o estereótipo do homem negro, pênis grande e reprodutor?
Olha isso é meio lenda, mas em muitos casos sim… apesar que hoje em dia há milhões de raças que tem o mesmo dote… Mas, ainda há muita gente que acredita nessa lenda.

E no seu meio profissional, você sofre preconceito?
Não, eu trabalho muito com carnaval e mexo com mulheres, gays e senhoras e não sofro preconceito, muito pelo contrário. Pra você ter uma idéia, no último carnaval da Globo eu saí como a mulher mais gostosa daquele carnaval.

E você acredita que o negro, gay e pobre, sofre mais ainda?
Para mim isso é mais uma lenda. Eu penso assim: independente do que você seja, pobre, negro ou rico você tem que trabalhar. Porque hoje em dia não é difícil você procurar um serviço e é o que eu falo para todo mundo, não acho feio se algum dia eu precisar catar latinha, se eu tiver que ser faxineira e por que não? O feio é você ficar dependendo dos outros pra ter alguma coisa.

Por que temos poucas travestis, transex e drags negras?
Muitas pessoas de família de cor não aceitam filhos gays. Pra mim mesmo foi muito difícil, só depois que a minha mãe aceitou de uma forma que nunca imaginava que aceitaria. Existe também aquela velha lenda de que na família de negros é mais machista, há muito preconceito. Sendo filho de um pai negro, é aquela história: ‘o meu filho é negro, então o negão tem que ter pegada’ e as coisas não funcionam assim.

E a sua família hoje?
Minha mãe faleceu há dois anos e era a única pessoa que eu considerava como minha família. Hoje quem me aceita é a família do meu namorado. Por você ser gay e ter uma família decente, você tem que ter dinheiro no bolso. Se você parar pra perceber a maioria das famílias que tem um homossexual, não digo todas, aceitam o seu filho com um porém: se é bem de vida, ou tem um salão divino e sobre isso eu tenho vários amigos de exemplo. Ou o seu salário é esplendoroso e assim por diante. Hoje em dia família para os gays são os próprios amigos, não para todos, mas no meu caso, como dizem, família é dinheiro no bolso.

No dia da Consciência Negra, dá para ter orgulho da sua cor e da orientação sexual?
Com certeza! Não só amanhã, mas como todos os dias. Eu amo a minha raça, a minha cor. Muitos amigos meus falam: ‘por que tem o dia do negro e não tem o dia do branco?’ Nós (negros) sofremos mais preconceitos, mas, se Deus quiser, um dia nós conseguiremos derrubar essa barreira.

Leia aqui segunda parte da entrevista com o Ministro Edson Santos, da Igualdade Racial

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