Não é de hoje que os gays e a música eletrônica vivem ardente paixão. No final da década de 70 e começo dos anos 80, surgia na cidade americana de Chicago um novo estilo de festa que ocupava os antigos armazéns da cidade, os “warehouses”. Freqüentada principalmente por gays, as warehouse parties ficaram famosas por sua sonoridade diferente. Os DJs, principalmente o americano Frankie Knuckles, remixavam clássicos da disco com o synthpop europeu e o new wave.
Logo, os habitués do clube começaram a chamar essa nova sonoridade de “the house”, fazendo referência ao local onde era possível ouvir o novo estilo musical. Surgia, então, a sonoridade que embalaria as pistas dos clubes gays por décadas: a house music.
Com o tempo, diferentes vertentes da house começaram a surgir e pipocar pelas pistas de todo o mundo, como o techno, o progressive, o electro e o tribal, vertente que ganhou força nas mãos do DJ Junior Vasquez. No tribal house, predominam as batidas fortes e percussões acentuadas casadas com o vocal de divas do r’n’b. O tum-tum-tum tornou-se característica marcante nas músicas e as pistas passaram a bombar com sucessos e clássicos de Cher, Madonna, Whitney Houston, Mariah Carey, Deborah Cox, Kylie Minogue, Kristine W, Vernessa Mitchell, Christina Aguilera, entre outras.
No final da década de 90 e começo dos anos 2000, DJs e produtores como Danny Tenaglia, Ralph Rosario, Victor Calderone, Peter Rauhofer, Hex Hector e Robbie Rivera passaram a difundir o estilo musical. Suas produções criaram um estilo particularmente adorado pelos gays e que ficava entre o house e o tribal, o tribal house.
Mas como tudo se renova, produtores de tribal e house vêm trazendo em seus remixes grandes influências do electro, que era considerado somente trilha de clubs undergrounds. Ou seja, com essa nova ousadia, nasceu o eletro-tribal-house. Estranho? Não. É que cada vez mais os produtores ousam em seus remixes com o intuito de criar batidas novas.
A nova tendência electro-tribal-house pode ser observada nos remixes do DJ e produtor Peter Rauhofer para a música " Can U", de Starkillers Feat. Gina Martina , e "Sexy Back", de Justin Timberlake. Neles, Peter mistura base de tribal com electro e dessa mistura produz o remix.
Estilo Efêmero?
Para Leandro Ribeiro, 25 anos, freqüentador assíduo das pistas de tribal, o electro trouxe novidade aos remixes. "Essas produções fazem com que o som seja novo. É como se não tivéssemos ouvido isso antes. Não é tão tribal, nem tão house, nem tão electro. Parece a medida exata entre os três", acredita.
“É uma tendência que pegou. Eu coloco um remix na pista e ninguém fica parado. O pessoal curtiu e aceitou bem essa onda do electro-tribal-house. É uma sonoridade bacana", comenta o DJ Robson Mouse, residente do clube Blue Space, que vira e mexe toca um electro em seu set.
Há pelo menos um ano, o DJ carioca Marcus Vinicius vem apostando suas fichas no electro-tribal-house. "O electro está crescendo e logo irá dominar a cena GLS. Claro que existem vários tipos de electro. Vai do underground, que não tocamos nas pistas de tribal, até o electro mais comercial e mais aceito nos clubes", explica Marcus, que toca electro em pelo menos metade de seus sets.
Será mesmo que o electro vai tomar conta das pistas gays? É um pouco difícil de dizer. Para Robson, a modinha é passageira. "Assim como o psy, o trance e o drum’n’ bass, o electro também é uma modinha", afirma.
Para o residente da festa carioca R:evolution, Flávio Lima, existe um tendência mundial de redescobrimento do electro e uma evolução da house music. "O Brasil é um dos poucos países que insiste em tocar apenas tribal", afirma o DJ.
A DJ Ana Paula, residente da festa X-Demente e das pool parties do clube The Week, acredita que as coisas se reciclam. "Atualmente vivemos uma fase mais harmoniosa e com menos peso nos sets.”
“A tendência está mais voltada para o electro, com isso o r’n’b ficou um pouco de lado. Mas daqui a pouco as Fergies da vida lançam alguma coisa e logo o pessoal vai consumir de novo", diz a DJ-woman que tem como vertente principal o tribal. "As pessoas estão mais abertas a novidades e dispostas a conhecer outras vertentes da música".
Há quem até despreze o electro-tribal-house. O paulista Paulo Agulhari, DJ residente dos clubes The Week e Bubu, acredita não haver tanta novidade por trás do movimento do electro-tribal-house. "O que se tem hoje em dia é uma mistura de influências. O electro de hoje é uma releitura dos anos 80 sob uma base de tribal". Tendência, modinha ou não, o fato é que a polêmica está instaurada e daqui a alguns meses – ou anos -iremos descobrir se o electro pegou. Por enquanto, nos resta curtir as festas, de cabeça aberta e livre para novos estilos de música, pessoas e conceitos. Viva a diversidade.
*Texto extraído da edição 02 da revista A Capa