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Balanço do ano

Inevitável, chega o fim do ano e a gente quer fazer uma retrô do que aconteceu, são tantas histórias, tantos episódios, pessoas, trabalho, crises, úlcera, momentos felizes e tristes, que a gente sente a necessidade de organizar toda essa informação em gavetinhas dentro da nossa cabeça para ver se alguma coisa fez sentido. Pois meu 2008 fez muitos sentidos, embora em alguns momentos tivesse sido dramatissíssimo, dolorosíssimo, ou seja, normal.

A começar pela vida amorosa, tudo aconteceu nesse ano, foi o período no qual vivi o amadurecimento de uma relação lésbica e o fim do casamento também. Descobri a dor e a delícia de ter uma pessoa todos os dias do meu lado, parceira, companheira, amiga, gostosa, enfim, linda. Aprendi a valorizar o cotidiano, a vida de parzinho, deixando de lado meu egoísmo, os medos e os traumas de relacionamentos frustrados.

Foi o ano em que saí do armário para minha família, talvez a parte mais difícil que enfrentei em 2008. Falar para minha mãe “eu sou lésbica” foi um parto prematuro, mais difícil ainda foi presenciar a reação dela ali dentro da minha casa, o escândalo, engolir as ofensas, o preconceito, ouvir a célebre frase “preferia que você fosse puta porque pelo menos estaria ‘dando’ certo”… Foi barra, punk, difícil para cacete, mas eu aprendi, cresci, amadureci e tirei 357 quilos das minhas costas.

Aprendi muita coisa no trabalho também, fiz contatos, amizades, parcerias, comecei a escrever para o Dykerama e desenhei alguns projetos que pretendo realizar em 2009. Também trabalhei que nem corna no primeiro semestre como freelancer, ganhei um pouco mais de dinheiro e gastei quase tudo em gasolina, vinhos, espumantes, restaurantes, motel, Arraial do Cabo e outras coisas do gênero ao lado da minha namorada.

No auge da crise do meu casamento, tive um surto de úlcera, fiz terapia com uma velhinha, não deu muito certo, fiz terapia com um psicólogo gay, também não deu certo, procurei um psiquiatra, eu precisava comer para não morrer de anorexia e de tristeza, o remédio funcionou, passei a amar alopatia, adoro os avanços da farmacologia, um pouco de química no corpo às vezes é necessário para continuarmos seguindo a vida com um mínimo de leveza.

Já no finzinho do ano, circulei por todas as festas sapas existentes no quadrado do Rio de Janeiro, criei raízes no samba, conheci muita gente bacana, fiz amizades que levarei por toda a vida, estreitei laços de amizades antigas, fiquei com mulheres héteros, descobri que a-do-ro ser passiva, ensaiei me apaixonar por alguém que não se apaixonou por mim, descobri como é viver o lado B de um romance, gostei bastante da aventura, e depois me cansei da brincadeira toda. No final das contas, tudo valeu a pena, de verdade.

De tudo, a mensagem que fica nem é minha, mas do grande Guimarães Rosa: “O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”

Feliz Natal e um ano novo lindo para todas as leitoras do blog da Norma Lúcia.

A manhã seguinte

Com 2h10 de atraso, Madonna encerra turnê agradecendo a todos