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Balanço geral: É hora de repensar a Parada Gay?

Um traficante preso. Um homem com a perna amputada. Uso de drogas. Um rapaz preso com 17 celulares em sua mochila. Incontáveis atendimentos médicos, alguém falou em torno de 200 a 500 para mais, por conta do abuso de álcool.

Sem falar em empurra-empurra e pequenos incidentes e desentendimentos, que este ano, parece, aconteceram em menor grau que no último. Público? A estimativa astronômica da Associação foi alta, de 5 milhões. A gafe foi estampada nos jornais e depois a imprensa é que é ruim. Três milhões e meio, que seja. Um pouco mais, um pouco menos.

Falando assim, até que a Parada teve um resultado positivo. Mas e agora, José, João, Xande? É isso? O que vem depois? Na segunda-feira de cinzas o que sobra é uma Avenida Paulista impessoal como sempre, com restos de plumas e muita sujeira nos bueiros das ruas adjacentes. Além de uma sociedade ainda muito intolerante.

Não que não sirva para nada. Ou que seja só festa. Não. É inegável o poder mobilizador da Parada Gay. Hoje mesmo, no almoço, ouvi um grupo de héteros comentando as camisetas de alguns participantes com a inscrição "Homofobia Mata" – tema da manifestação. Uma das mulheres perguntou à outra e ao amigo presente o que era homofobia. A explicação deles foi bonitinha, deixaria orgulhoso qualquer militante. Nota dez.

A homofobia mata e a claustrofobia também. É lindo ver a Paulista cheia de gente e é frustrante ver a Paulista tão cheia de gente. Tirando a concentração, não dá mais para andar livremente, acompanhar a parada, ver todos os trios. É claustrofóbico. Parece metrô lotado. Não é agradável ir a Parada. Mata a vontade de voltar no ano que vem. Mata de vergonha. Não sei como tem louco que leva criança pequena e de colo à manifestação. Não é um evento sossegado, tranqüilo. Além disso, as pessoas estão ali porque de fato são favoráveis aos GLBT? Tenho minhas duvidas. Perdi a conta de quantos rapazes héteros bêbados vi ontem com xaveco furado pra cima das menininhas, ou tentando beijar lésbicas à força.

A parada cresceu tanto nos últimos anos pelo fato de as pessoas abraçarem a diversidade, ou seu número crescente é uma resposta a ânsia das pessoas, que desejam sobretudo uma grande balada a céu aberto?

Enquanto evento político, a meu ver, a Parada não precisa mais de recordes e de tantas pessoas. Cada vez mais chega um momento em que toda essa força e presença em massa da população se traduza em conquista de direitos e espaços de exercício de cidadania. Genial o GLBTema, proposto pela organização, mas temo que o hino oficial da manifestação acabou sendo o hit sertanejo "Beber, cair e levantar."

Sobraram pessoas vomitando. Faltaram cartazes e o tão divulgado tom político. Talvez esteja mais do que na hora de começar a repensar as próximas Paradas e o Mês do Orgulho do ano que vem.

De repente, se a Parada for feita em 28 de junho, data oficial do orgulho gay, ou num dia de semana, sem aproveitar um grande feriadão, a história pode ser outra.

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