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Candidatos à Presidência da República fazem acordo com fundamentalistas religiosos

Pode ser que estruturalmente a eleição deste ano não traga nada de novo. Porém, o pleito eleitoral 2010 já pode ser considerado o mais progressista no que diz respeito a ideias que estão em pauta. A grande responsável por isso é Marina Silva (PV), por conta da sua ligação com a Assembleia de Deus. Assim, três temas antes invisíveis ganharam corpo e nortearam – e ainda vão nortear o debate-, que são: o aborto, as drogas e os direitos gays.

Aqui, ficaremos com a questão gay. Se antes a preocupação era com o avanço das lideranças religiosas – pentecostais e católicas – agora identificamos a representante da ala pentecostal em Marina Silva. Porém, a candidata verde é honesta. Não esconde os seus valores religiosos e os defende com todas as letras. A hipocrisia fica por conta de José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT). Longe dos holofotes, os dois realizaram um acordo com lideranças das duas representações religiosas em questão. E qual é o preço disso? Que assuntos "polêmicos", leia-se gay, não saiam do executivo, apenas do legislativo.

Segundo pesquisa publicada pelo DataFolha no dia 07 de julho, os católicos representam 68% do eleitorado. Já os evangélicos ficam na casa dos 17%. Espíritas com 3% e os que se declararam sem religião, 7%. Católicos e evangélicos somados dão 85%. Ou seja, um eleitorado que, se unido, elege quem quiser. Posto assim, como os candidatos têm se relacionado com as lideranças religiosas em questão?

O voto religioso
No próximo sábado (24/07), a candidata Dilma Rousseff irá participar de um culto da Assembleia de Deus, nesse mesmo dia ela terá uma conversa com o pastor José Wellington Bezerra da Costa, uma liderança no assunto em questão. Este mesmo pastor já teve encontro com o candidato tucano, José Serra. Os evangélicos estão divididos: segundo a mesma pesquisa do DataFolha, estão mais inclinados a votar em Serra: 38% a 33%.

Para tentar reverter tal quadro, Dilma selou acordo com o pastor Manoel Ferreira, que é líder da Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil (CONAMAD). O pastor será coordenador do movimento evangélico da campanha da candidata petista e, para aceitar tal demanda, o representante da assembléia exigiu de Dilma, caso seja eleita, não encaminhar ao executivo propostas para união civil gay e adoção por casais homossexuais.

Ontem, quarta-feira (21/07), o bispo de Guarulhos, Luiz Gonzaga Bergonzini divulgou um artigo no site da Confederação Nacional dos Bispos dos Brasil (CNBB) pedindo aos "católicos de verdade" que não votem em Dilma. Segundo o religioso, a petista é a favor da "descriminalização do aborto".  Ao que tudo indica, parte dos católicos está com Serra.

Se por um lado as questões gays, aborto e drogas surgiram no cenário, do outro lado quem está decidindo para que lado vão os candidatos são os católicos e os evangélicos. Organizados e com forte representação, estão fazendo com que Serra, Dilma e Marina se acovardem diante dos direitos gays e assumam posições conservadoras, não se envolvendo na questão do "casamento gay". A adoção, então, deletaram o do debate. É o lobby religioso dando o tom das eleições presidenciais em 2010.

Sendo assim, pelo andar da carruagem a influência religiosa tende a ser mais forte no próximo mandato presidencial, seja quem for o eleito. Os três candidatos se amarraram com os lideres fundamentalistas do Brasil, que possuem um eleitorado fiel e que segue orientação. Ao fim das eleições, parte do bolo dos evangélicos e católicos será cobrada. E qual é o resultado disso? A comunidade gay continuará sem direitos de fato.

Ou será que, eleitos – Serra, Marina e Dilma? -, do alto de seus gabinetes terão coragem de bater de frente com o lobby religioso e defender, por exemplo, o projeto de união civil e adoção para casais gays? E o PLC 122? O que resta é esperar, mas, com se vê, os sinais não são positivos e tudo, infelizmente, tende a permanecer como está.

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