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Cineasta lança livro sobre noites de domingo d’A Lôca; Leia entrevista

No próximo domingo, 29/06, o jornalista e cineasta Lufe Steffen comemora em São Paulo o lançamento de seu primeiro livro, "Tragam os Cavalos Dançantes", sobre a história da noite Grind, projeto dominical do clube A Lôca.

O livro é resultado de um parceria entre o autor e a Associação Cultural Dynamite e traz depoimentos, registros e entrevistas de personalidades que fazem e fizeram a história da festa que neste mês comemora dez anos. O lançamento da publicação faz parte das festividades de aniversário do projeto.

Em entrevista exclusiva ao site A Capa, Lufe conta o que o motivou a escrever e revela um pouco dos bastidores da preparação da obra. "Tragam…" conta também um caderno de fotos encartado no meio das 212 páginas do livro.

O que o motivou a escrever sobre o GRIND?
Foi porque eu estava lendo um livro sobre o movimento punk, "Mate-me Por Favor", e achei o universo do livro parecido ao mundo Grind, que eu freqüentava bastante na época. Além disso, eu sempre achei o Grind uma noite diferente, com uma aura mágica, literária, cinematográfica. Os freqüentadores pareciam personagens de ficção, muitas cenas e situações eram antológicas. Achei que valia a pena imortalizar esse universo.

Qual a diferença do GRIND pras outras noites do clube A Lôca?

No Grind sempre houve uma grande espontaneidade, eu acho. Diferente da previsibilidade de outras noites gays ou lésbicas. No caso de outras noites da Lôca, o ambiente no Grind era mais leve, pop, menos carregado. As outras noites sempre tiveram um clima dark pesado, com uma energia meio "gutter" demais. No Grind, tudo parecia mais solar, mais teen, mais lúdico e engraçado.

Como você avalia a importância do projeto?

A importância foi que quando surgiu, não existiam opções para o público gay que quisesse algo diferente. O gay masculino só tinha como opções de noite o velho esquema "boatona": música drag ou bate-cabelo, gogo boys, carão e montar um visual, se arrumar enfim, para não parecer um mendigo na noite. As meninas só tinham bares ou karaokês de MPB, ou locais mais hard, tipo botequins de caminhoneiras. Nada contra esses lugares, eu adoro também, mas você não tinha outras opções. O Grind veio tocando rock, gótico, hard rock, heavy, punk, etc. Foi uma abertura, uma coisa revolucionária. O comportamento e a atitude também, no Grind as pessoas passaram a ser mais autênticas, sem ter de compor uma imagem falsa – embora, obviamente, exista também no Grind gente que monta um tipo, sim. Mas a maioria pôde se expressar com mais liberdade. Além de ter impulsionado toda uma geração de adolescentes que curtiam rock e se descobriram gays – foi mais fácil para eles se assumirem no Grind. Até hoje eu acho que o Grind conserva essa cara de "portal" para os gays teens.

Tem alguma história que tenha no livro que você pode adiantar pra gente?

Não! Rs… Leiam o livro… O que posso dizer é que têm coisas históricas, como o promoter Nenê contando como alugaram a casa onde funciona a Lôca, como foi o início, as primeiras noites de domingo antes do Grind… depoimentos de pessoas que estiveram no primeiro Grind… e claro, um capítulo dedicado à visita de Marta Suplicy para fazer comício no Grind, quando ela era candidata à Prefeitura de SP, em 2000. Ela venceu a eleição, e curiosamente esse ano ela é candidata de novo!

Porque o nome do livro é "Tragam os cavalos dançantes"?

Porque esse é o nome de uma música do grupo Echo and the Bunnymen ("Bring On the Dancing Horses"), por sinal uma banda que sempre foi muito tocada no Grind. Acho que a letra da música, bem como seu título, simboliza bastante o que se passa no Grind e todo o clima de modernidade e superação de preconceitos. Tem um trecho que ele diz: "bring on the new messiah" (traga o novo messias).

No release de divulgação é citado o cineasta David Lynch. Qual a ligação entre o universo do diretor e o d’A Lôca e mais especificamente o GRIND?

David Lynch é uma referência forte para muita gente que vai ao Grind. Muitos se declaram fãs de filmes dele, como "Veludo Azul" e "A Estrada Perdida", mas principalmente "Cidade dos Sonhos". É um cineasta que sempre mostrou a sexualidade, por exemplo, de forma ambígua e bizarra – um modo de lidar com o tema que também é comum no Grind. O clima dos filmes de Lynch – geralmente soturnos, sinistros, surrealistas, simbolistas e fantásticos – é semelhante ao clima que se vive no Grind: um local caótico, onde as pessoas dizem uma coisa e depois fazem outra, onde as próprias relações afetivas trafegam do puro romantismo à desilusão e à busca de satisfação imediata.

Alguns freqüentadores antigos do projeto criticam o formato que ele tem hoje, devido ao abuso das músicas pops e ao alto preço. Como você, que traçou um panorama dessa história, enxerga isso?

Acho que eles têm razão. De fato, o som ficou pop e eclético, hoje em dia se escuta muito pouco rock genuíno ali. E o preço aumentou, obviamente, e muito, ao longo dos anos. Mas o que eu acho é o seguinte: é muito bacana o aspecto revolucionário e portanto underground que o projeto tinha. Mas não se pode exigir que os criadores da festa virem heróis e continuem se sacrificando para fazer a noite acontecer. É natural, com o sucesso, esse tipo de conseqüência: a popularização do projeto, aumento de preço, enfim – vai ficando uma coisa mais pop mesmo, para agradar o maior número possível de pessoas. Não tem como ser diferente. Então os freqüentadores originais devem entender que tudo é ciclo, fase, e que um dia termina. Nada permanece como é o resto da vida. A vida é cíclica. Então o meu conselho é: quando vc curtir alguma coisa, alguma festa, alguma pessoa enfim, aproveite ao máximo essa fase. Porque ela vai ter um fim, como tudo.

Qual será o preço do livro e onde poderá ser adquirido?

O livro custa R$30, que é um preço bem acessível – e considerando que é uma publicação independente, sem editora, não podemos vender por menos. Pode ser adquirido no lançamento, na Lôca dia 29 de junho, ou para o Brasil inteiro através do email tragamolivro@yahoo.com.br

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