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Livro de relatos sexuais entre militares é opção literária para gays

Na terceira ou quarta página o seu "amigo" lá de baixo vai começar a dar sinais de vida. Por isso não é muito indicado lê-lo em locais públicos como ônibus, metrô ou na fila de espera do dentista. A menos que a intenção seja mesmo… ih, deixa pra lá viu?

Esse sinal de, hum, digamos "vitalidade", que só aumenta a cada página, talvez seja o único "inconveniente" de Tirando a Farda, uma coletânea de contos eróticos com relatos de sexo entre militares, lançada no Brasil em 1998 pela Edições GLS, braço gay do Grupo Editorial Summus.

Ao longo de 19 contos distribuídos por 168 páginas o leitor entra de cabeça, corpo e alma num mundo de palavras excitantes, textos explícitos e altamente descritivos das relações sexuais em alojamentos de quartéis, em estaleiros navais, em banheiros públicos e por aí vai. Não dá para ter pudor ao ler Tirando a Farda. Pelo contrário, é preciso liberar a imaginação e deixar a fantasia fluir. É sexo, é literatura e é um livro pra deixar qualquer um louco de tesão.

Em momentos como esse, em que no Brasil as forças armadas ganham evidência por suas posturas autoritárias em relação ao casal de sargentos gays Fernando e Laci e por atitudes desastrosas que resultaram na morte de três jovens em uma favela do Rio de Janeiro, nada melhor do que usar a literatura e o entretenimento como uma válvula de escape dessa dura realidade.

No primeiro conto do livro, intitulado "O charme da Força Aérea", o autor J.R. Mavrick dá dicas de como conseguiu seduzir Dan, um novo recruta, que chega a sua divisão e protagoniza uma deliciosa cena de sexo, além de outros "pretensos heterossexuais".

"Eu havia desenvolvido alguma habilidades nas artes da sedução durante a minha estada na Força Aérea – já tinha seduzido vários pretensos heterossexuais e descoberto em mim uma capacidade sobrenatural de "alterar" as suas convicções sexuais. Meu MO (Método Operacional) era bastante simples. Eu apenas revertia o jogo e fazia com que eles dessem o primeiro passo", revela.

Adiante ele segue com sua lista de conselhos úteis. "Quando se planeja seduzir alguém, é preciso primeiro verificar se há alguma possibilidade de sucesso. Quando alguém não quer ser conquistado, dá sinais óbvios. (Um gancho de direita no maxilar costuma ser uma boa indicação.) Lembre-se: não se arrisque sem necessidade. Ter uma namorada ou ser casado não elimina necessariamente uma pessoa de sua lista de vítimas. Para falar a verdade, isso às vezes pode até facilitar o ‘abate’".

O livro também trata de fetiche. Principalmente aquele que faz parte de um imaginário coletivo homossexual de como deve ser conviver com tantos homens em situações que podem ser, ou não, altamente homoeróticas. Confira um trecho do conto "Pego de surpresa", de Rick Jackson, que fala justamente sobre essa questão.

"Eu já tinha medido o caralho deles fazia tempo, já que nós compartilhávamos o mesmo dormitório, mas achava que eles eram comedores de bocetas ainda amadores. Além disso, eles não eram os únicos marinheiros que me chamavam a atenção. Eu havia checado cada pica na divisão. Desde o início da missão, cincos longos meses antes, eu não havia feito outra coisa além de memorizar cada cacete e usar essas imagens para obter prazer com a palma da mão pelo menos umas duas vezes por noite."

Não é difícil encontrar o livro a venda em sites de compras e livrarias virtuais. Compre um, ou pegue emprestado de alguém que tenha e boa leitura!

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