A notícia trágica foi matéria de capa do caderno Ilustrada do jornal "Folha de São Paulo" nesta quinta-feira (06). O tradicional cinema Belas Artes, localizado na esquina da avenida Paulista com avenida Consolação desde 1943, fechará suas portas em fevereiro.
Segundo o jornal, o proprietário pediu o imóvel e pretende instalar uma loja no local. O proprietário, Flávio Maluf – sem parentesco com o político Paulo Maluf -, não quis comentar o assunto com o jornal.
O desfecho acontece depois de uma longa agonia. Em 2010, o cinema havia perdido o patrocínio do banco HSBC, que sustentava o espaço desde 2004 – o que fez com que o cinema ficasse conhecido durante seis anos como "HSBC Belas Artes". Com a saída do banco, o cineasta e distribuidor André Sturm, responsável pelo espaço desde 2003, correu atrás de novo patrocínio.
Sturm conseguiu novos investidores em novembro de 2010, garantindo assim que poderia arcar com o aluguel mensal de R$ 65 mil. Mas em dezembro, o proprietário subverteu o acordo e pediu o imóvel.
Diante disso, morre uma era lendária para os cinéfilos e culturettes de São Paulo. Desde a década de 70, e principalmente ao longo da década de 80, o local fortaleceu-se como ponto de encontro para fãs de cinema de arte e de clássicos e novidades apetitosas. Toda uma geração frequentou o local, incluindo uma imensa parcela de cineastas e cinéfilos gays. Nos últimos anos, inclusive, o Belas Artes era um foco de visibilidade, com casais gays e lésbicos transitando com liberdade e sem serem importunados por seguranças.
Apesar do fim, o Belas Artes pretende sair com dignidade. André Sturm programou uma imperdível retrospectiva de clássicos do cinema e pérolas que marcaram a história do local em reprises. De 14 a 31 de janeiro, serão exibidas maravilhas como "Apocalipse Now" (79, de Coppola), "A Lei do Desejo" (87, de Almodóvar), "A Malvada" (50, de Joseph L. Mankiewicz), "Quanto Mais Quente Melhor" (59, de Billy Wilder), entre outros.
Para os fãs do cinema de cunho LGBT, além de "A Lei…", aparecem outros petardos imperdíveis, como "Morte em Veneza" (71, de Luchino Visconti) e "Paixão Selvagem" (76, de Serge Gainsbourg, com Joe Dalessandro e Jane Birkin e a famosa música-tema). Um encerramento melancólico mas belíssimo.