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Confira cobertura completa da 1ª Parada Gay da Rocinha

A favela da Rocinha jamais será a mesma depois que sua primeira Parada Gay levou pelo menos 18 mil pessoas às suas ruas, neste último domingo (24), numa manifestação pacífica e alegre.

Um público de todas as idades e etnias celebrava sua cidadania, dançando alegremente ao som de música brasileira e house music, no longo cortejo que se estendeu desde a Estrada da Gávea até a Via Appia. Foi um momento histórico na cidadania homossexual brasileira uma Parada Gay ocupar pacificamente a maior favela da América Latina, habitada por 200 mil pessoas, quase um bairro dentro da Cidade Maravilhosa.

Encravada num dos locais mais belos e luxuosos da cidade, São Conrado, com uma vista fantástica para um mar turquesa que banha o conjunto das ilhas Cagarras, a Rocinha é cenário de fundo para um lugar habitado por artistas, milionários, políticos, nos condomínios de luxo da beira da praia. Foi a primeira favela do Brasil a ter agência de um banco e a ter filial de uma rede de lanchonetes internacional. A favela foi também uma das primeiras a produzir um grande baile gay, que no início desta década aglutinava mil frequentadores.

Produzida e organizada por duas associações – União Pró-Melhoramentos dos Moradores da Rocinha (UPMMR) e Associação dos Moradores e Amigos do Bairro Barcellos (AMABB)- a Parada do Orgulho LGBT coloriu a favela e foi muito bem-vinda pelos moradores do local. O evento era composto pela “assistência” da qual participavam os moradores do morro: nas calçadas, das lajes ou das janelas das suas casas, numa atitude explicitamente simpatizante e amistosa acenavam bandeirinhas e usavam camisetas da organização da Parada. Uma outra parte da “assistência” era de moradores curiosos, que olhavam aquele cortejo com um misto de espanto e surpresa: por atrair tanta gente,  ser livre, alegre e pacífico num lugar acostumado a confronto do tráfico com a polícia ou guerra do próprio tráfico entre si, tiroteios e mortes.

Apesar de a organização da Parada ter sido feita por rapazes, na pista eram as garotas que faziam notar sua presença em massa. Elas estavam lá tanto como simpatizantes: avós, tias, mães e amigas dos LGBT que queriam fazer valer o seu apoio aos seus familiares gays. E também o poder lésbico da Rocinha, local conhecidíssimo pelo imenso contingente de garotas gays, uma boa parte delas assumidas. Apesar de discretas e muito femininas, as garotas estavam lá: aos milhares, fosse apenas vendo, seguindo a Parada pelas calçadas, ou ainda desfilando: dançando atrás do carro de som na companhia de sua turma ou de suas namoradas, marcaram presença sem alarde nem discursos, apenas estavam ali e são visíveis nas fotos.

No carro da organização, que lutou o tempo inteiro contra os perigosos fios elétricos para poder se locomover, algumas celebridades animavam a festa: o promoter David Brazil dava pinta horrores com seu arco-íris de cabelo, os MCs Mulher Maçã e Gorila Preto deram canja no microfone levantando a galera com umas rimas safadas. A Miss Piauí deu um show de classe e elegância mostrando que travesti não é bagunça. E a top drag Suzy Brazil, com suas tiradas impagáveis não deixou por menos. “Gemtem, não acredito no que estou vendo: aquele cara ali tá mostrando a cobra dele!” “Mas está mostrando a cobra mesmo!”, gritou. Realmente, um rapaz levou sua cobra, que aparentava ser uma jiboia, para a Parada Gay. A cobra mansíssima não se fez de rogada e passou de colo em colo, como se fosse um cãozinho poodle. Todos queriam tirar fotos com a cobra enrolada no pescoço.

Não havia nenhum tipo de discurso mais contundente contra a homofobia e a discriminação, que são reais e fortes nas favelas, dominadas pelo poder evangélico, que demoniza os LGBT e estimula as famílias a expulsarem os jovens dos seus lares caso eles não se “regenerem”. Muitos são obrigados a deixar seus lares ainda jovens. Ou então sob muita pressão se casam e constituem família para “limpar a barra”.

Mas não foi preciso grandes discursos, pois as quase 20 mil pessoas presentes confirmavam o bordão dos organizadores, que refletia o verdadeiro poder de qualquer Parada: “a Rocinha é gay!”. Com isso queriam dizer também: “somos milhares aqui, temos coragem de mostrar a cara, somos um poder econômico dentro desta comunidade, podemos nos organizar e votar em nossos representantes, somos diversos, temos vários estilos na nossa forma de viver”.

Esse evento foi um belo exemplo para o Brasil de como, mesmo nessas comunidades, a conquista da cidadania homossexual é uma questão, e as pessoas querem se expressar e viver com liberdade e igualdade.

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