Democrática, a internet se transformou numa ferramenta eficaz para novos talentos mostrarem seus trabalhos. Até mesmo os grandes estúdios de Hollywood se utilizam da rede mundial de computadores para divulgarem suas novas produções, estabelecendo vínculos cada vez mais fortes com potenciais consumidores e fazendo um marketing que se denominou chamar de "viral".
Com ajuda de blogs e outras plataformas, como Orkut e Twitter, a cineasta e jornalista Lilian Werneck resolveu repetir o que algumas bandas nacionais e estrangeiras já vêm fazendo há muito tempo: disponibilizou seu curta-metragem "O Móbile: Admiração" para download na internet.
O filme, que teve o apoio da Lei de Incentivo à Cultura Murilo Mendes, de Juiz de Fora (MG), fala da relação entre a artista plástica Bárbara Oliveira (Stefane Ribeiro) e a atriz Nina Maya (Nadja Dulci). Segundo a sinopse, "Bárbara e Nina apaixonam-se loucamente e vivem um amor intenso e forte".
Em entrevista ao site A Capa, Werneck diz que abordar a homossexualidade feminina foi uma maneira de derrubar estereótipos negativos que ainda envolvem o tema. "O amor entre mulheres sempre foi um assunto muito presente na minha vida, antes mesmo de assumir a minha homossexualidade. Os filmes que eu via sobre a homossexualidade feminina mostravam histórias complexas, finais infelizes, mulheres loucas e desestruturadas, quadros nada positivos retratando as mulheres lésbicas", explica.
Inspirada no seriado lésbico norte-americano "The L Word" e na letra da música "Do Amor", de Paulinho Moska, a diretora criou um filme repleto de referências sobre esse universo ainda tão pouco explorado pela mídia. "O Móbile: Admiração" faz parte de uma série de cinco histórias diferentes entre si, todas falando sobre o amor entre mulheres.
Talento de mais, dinheiro de menos
Apesar de contar com a ajuda da Lei de Incentivo à Cultura Murilo Mendes, Lilian Werneck teve que batalhar por recursos para produzir seu curta. Segundo a cineasta, o processo foi " longo e chato", o que não é exatamente uma novidade em se tratando do mercado brasileiro.
"Para fazer acontecer, a gente precisa se virar. Eu consegui, então, o apoio de uma equipe maravilhosa. Foram 25 pessoas que entraram de cabeça nesse meu sonho e, muitas vezes sem receber um tostão, trabalharam intensamente para que o filme ficasse pronto", revela Werneck.
Para extrair o máximo de veracidade das cenas, a equipe mergulhou em pesquisas de locações, figurinos e personagens. Já o elenco passou dois meses de intensa preparação e ensaios. "Aquilo foi real. Tudo foi muito real, a entrega delas, as vivências, a forma como encararam o fato de terem que se apaixonar uma pela outra, foi muito natural, fluiu. Parecia que se conheciam há anos", diz a diretora. "Fiquei muito feliz e vou agradecer para o resto da minha vida a oportunidade de ter trabalhado com eles e elas."
A mulher em segundo plano
"Muita gente não entende esse lance de ‘visibilidade lésbica’", reclama Werneck, para quem a homossexualidade feminina ainda é retratada com certa parcialidade.
"A mulher, historicamente falando, sempre esteve em segundo plano. A mulher homossexual, então, era assunto proibido. Algumas coisas ajudam, e muito, a aumentar o preconceito, como certos programas humorísticos", observa a jornalista e cineasta.
Segundo Werneck, para ampliar a discussão sobre a temática lésbica, foi preciso inserir nas histórias vivências pessoais, ou seja, mais próximas da realidade das mulheres homossexuais. "Eu nunca concordei muito com as formas estereotipadas com as quais a lésbica era mostrada nos filmes. Espero que algumas pessoas parem de falar que a homossexualidade é ruim, anormal, ou qualquer outra baboseira por aí", afirma.
Carreira
Para que "O Móbile: Admiração" não fique restrito apenas ao circuito de festivais temáticos, Lilian Werneck disponibilizou o curta para download na internet, com opção de legendas em inglês ou português. Além disso, quem quiser comprar o DVD do filme pode escrever para o e-mail omobileadmiracao@gmail.com.
Quanto à possibilidade de o filme ser exibido em festivais internacionais, a cineasta é otimista. "Estou mandando o filme, por meio de amigos, para o exterior também. Acho que tem muita gente querendo que ele aconteça, o que é maravilhoso", antecipa Werneck, que também acredita que o curta possa ser mostrado na TV a cabo. "Acho que ‘O Móbile: Admiração’ tem uma linguagem muito próxima a das séries de TV e seria maravilhoso se algum canal quisesse exibi-lo", torce.
Como todo artista, Lilian Werneck espera que seu filme seja bem recebido pelo público. "Minha única esperança é que o público entenda o que está vendo. Não precisa necessariamente gostar, mas sim perceber que se trata de uma história de amor", conclui a diretora.