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De repente, gay

Quando adolescente não vivi no meio gay, pelo contrário, o meu referencial era skate, futebol, hardcore e punk rock. Ou seja, era um mundo repleto de homens e muito deles bonitos. Lá pelos meus 13/14 anos já sabia que não era por meninas que sentia tesão e sim de ver o meus belos amigos jogarem bola e andarem de skate, posteriormente de patins. Inúmeras tardes dentro do banheiro…

O drama era esse, viver dentro de um ambiente completamente masculino e hétero. Onde toda hora havia a disputa de quem era o mais  forte, de quem fazia a loucura mor e claro, de quem na festinha do bairro ou do colégio pegava mais garotas. Mas, há tantas histórias.

Do ginásio ao colegial estudei em escola pública, que naquela época (1994 – 2000) era bem podrona e acredito que ainda continua assim, os meninos eram maioria e sempre fiz parte de turmas,aliás, em algumas escolas isso era necessário, questão de sobrevivência e foi nesse período que descobri o banheirão com esses meus colegas. Sexualidade fervilhante.

Pelo menos uns três ou quatro amigos passaram pelo meu crivo e diga-se, hoje todos eles estão casados. E não foi uma vez e não se restringiu a adolescência. Eis aonde quero chegar. Seriam eles gays? Bissexuais? Estariam apenas em fase de experimentação?  A resposta pode ser sim para todas as perguntas. E é aí, acredito eu, que reside muitos homossexuais e o cerne do preconceito/homofobia (mas não a sua totalidade).

Aí mora também uma certa deficiência da questão política e educação. Enquanto não houver um ensino a respeito da diversidade sexual que atinja esses homossexuais invisíveis, este continuarão a repetir casamentos irreais, a reprimir o seu desejo e isso por não querer desapontar os seus amigos e como sempre, a sua família. Pois, na sua confusão adolescente ele se sente errado e ao olhar ao seu redor nada lhe diz que a sua sexualidade é tão natural quanto a dos seus amigos e que, do seu lado, ou o seu melhor amigo pode ser gay e também estar passando pelos mesmos dramas.

Enquanto as políticas públicas e boa parte dos trabalhos de grupos organizados não chegam nessas pessoas e nesses locais, a maioria rompe sozinho esta cerca que anula a sexualidade. Eu na época, por volta de 98/99, já tinha acesso a internet e não agüentava mais amores platônicos e ficar sonhando com amores ideais ao som de "Beautiful ones" da banda gay Suede. Entrei na net descobri o finado clube BASE e chamei a minha melhor amiga, que se descobriu junto comigo, quando eu resolvi contar a ela. Viu, eu não estava sozinho.

E assim foi. Naturalmente descobri outro mundo, aquele da adolescência ficou na dita fase. Foi ótimo, aprendi a viver e também sentir várias coisas que hoje me norteiam na vida. Não escuto mais hardocre e punk rock, na verdade nunca gostei muito. Ah, até lembro quando fui mostrar para os meus amigos a nova banda que tinha descoberto, que era Suede, nossa, fui tão zuado, para eles isso era som "de bicha". Já vivia na heteronormatividade e nem sabia.

Pra fechar quero dizer que, enquanto as conferências, documentos com diretrizes públicas voltadas para a questão LGBT e muitas ONGs não atingirem essas pessoas, que eu chamo de homossexuais invisíveis e que só aparecem na Parada, quando dizem aos seus amigos que vão a algum outro lugar, pouco vai adiantar. Basta perguntar para as beeshas se elas conhecem o PLC 122. É preciso sair das pequenas salas e ir caminhar nas grandes ruas.

Por fim, deixo aqui o vídeo da música "Beautiful ones", do Suede, uma espécie de tio do Placebo. É Mara!

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