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Educação depende do sexo?

Ai, mona… Depois de fazer um carão pela passarela que leva à estação, desço a escada rolante, abro a carteira e pego meu bilhete único. Olho para a catraca e vejo uma fila mediana: sinal de que o metrô já deve estar uóóóó.
 
Mais um lance de escada rolante, avisto a plataforma e me pergunto: "Que isso, gente, uma rave? E eu nem tô colocada…" Mas não. Volto ao meu mundinho real ao ouvir uma voz dizendo "Atenção, senhores passageiros: devido à falha de trem na estação São Bento, os trens estão operando em velocidade reduzida e maior tempo de parada". Penso comigo: "é hoje!"
 
Pior que não é só hoje. Quase todos os dias, os trens e ônibus da cidade estão lotados, quebrados e atrasados… E nós, meu amor, ficando pirados! E quem vai de carro (fazendo a phynna) sofre do mesmo jeito parado no trânsito. A diferença é que vai sentado, ouvindo a música que quiser e sem ninguém pra encoxar. Se bem que, para algumas gays, trabalhadas no atraque, essa encoxação é até um momento relaxante na viagem.
 
O problema é que São Paulo já está muito cheia de gente (oh gente que adora procriar!). Se não fossem pessoas de útero seco, como eu, nem sei como estaria o mundo de tanta gente… Mas, brincadeiras à parte, o fato é que a cidade cresceu desordenadamente e sem um plano eficaz de urbanização. Isso, associado à má distribuição da renda do país, faz com que as pessoas tenham que migrar dos quatro cantos do país em busca de trabalho, na tal "locomotiva do Brasil". O resultado só pode ser um: transporte coletivo lotado.
 
Como eu ainda não sou tão phynna assim, e como não moro tão perto do trabalho (um deles), sou obrigada a depender de trem e ônibus. Se não tem remédio, é porque acabou no posto (diz um amigo, readaptando o dito popular). Mas tudo bem, ir trabalhar com sono e voltar do trabalho cansado, no metrô lotado é ótimo. Sempre tem alguém de quem você pode rir; ou alguém falando uma bobagem, jurando que está abafando (os ocós, por exemplo); uma tia fazendo um ponto de crochê que você não conhece e já pega a receita… Porém, sempre tem alguém contando uma história triste e pedindo dinheiro (eu já até decorei: eu podia tá matando, eu podia tá roubando, mas não estou aqui humildemente pedindo sua ajuda e colaboração); alguém cantando hinos de louvor e pregando a palavra ou ainda aquele mais sem noção de todos que vem com a merda do celular tocando um funk desgraçado. Aliás, sempre me questionei: por que quem ouve música alta no ônibus sempre tem mal gosto musical? Será que ninguém vê a porra do adesivo dizendo que é proibido o uso de aparelhos sonoros?
 
Além disso, tem a questão da educação. Ou melhor, da má educação. Algumas pessoas, por exemplo, tem fetiche com portas (só pode), pois elas param no meio da porta atrapalhando quem quer entrar e sair. Outras vão com uma puta mochila nas costas, jurando que é uma bola de boliche e os demais passageiros os pinos. Pisadas, cutucões, um peidinho e desodorante vencido são fichinha.
 
Uma coisa, no entanto, me deixa curiosa. Hoje, quando chegamos a tal estação com problema – a São Bento – uma moça iria descer. Mas quando o trem parou, um grupo de homens (aqueles machos bem estereotipados, sabe?) entraram e impediram a saída dela. Só que, depois, acabaram abrindo caminho e segurando a porta até ela desembarcar. Pergunta que vale um milhão de euros: se em vez de uma moça, fosse um carinha ou uma bichinha, a educação e gentileza seria a mesma? Fica a dúvida…
 
Esta questão de educação estar associada com o sexo das pessoas também pode ser percebida em outros momentos. Por exemplo: um homem está em pé, em frente a um lugar que acabou de ficar vago, ele não irá sentar, olha pra um lado e vê um homem, olha para o outro e vê uma mulher – pra quem ele oferece o lugar?
 
Outro exemplo: um homem ou uma mulher (tanto faz) está sentado e um bofe com uma bolsa, mochila ou sacola para na frente. Dificilmente alguém se oferece para segurar o pacote do mocinho (não, bee… não é esse pacote!). No entanto, se for uma moça, tanto homens quanto mulheres logo se oferecem: "Quer que eu segure sua bolsa?". Nossa, isso me pinga no desequilíbrio. Afinal, cadê a igualdade entre os sexos que tanto se fala? Será que o sexo define a educação das pessoas?
 
Eu, hein… Enfim, me aguardem na próxima estação!
 
Tá dado o recado… Beijo, beijo, beijo… Fui…

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