No final do século XIX inúmeros grupos clandestinos se formavam nos escombros da Rússia, entre eles vigorava a idéia do "novo homem", aquele que não mais seria oprimido pelo regime Monarquista/Czarista russo. A então sociedade russa era extremamente religiosa, para ser mais específica, católica ortodoxa, no caso, machista e opressora, principalmente no que diz respeito às mulheres. É nesse contexto que surgem as primeiras teorias de libertação sexual feminista e homossexual. Nessa época a sodomia (sexo entre homens) era proibida, digno de serviços forçados na Sibéria, ou até mesmo a pena de morte.
A luta pela liberdade sexual está intrinsecamente ligada ao surgimento das idéias socialistas, porém, no final do século dezenove é proibida qualquer atividade política que seja contrária a monarquia russa. Mas, neste período os grupos estão cada vez mais articulados e a realeza cada vez mais decadente. O resto a história já contou e, no ano de 1917, os bolcheviques aboliram todas as leis contra a homossexualidade, a legislação soviética declara liberdade sexual sem interferência do estado. O que seria o ponto de partida para uma grande revolução sexual foi abafado com a ascensão do stalinismo, que revoga toda a legislação bolchevique, considerando a homossexualidade contra-revolucionária. Esta tornou-se ilegal (é até hoje na Rússia) e aí começa a perseguição aos homossexuais tanto no país russo, como em todos os outros que aderiram ao stalinismo. A população homossexual voltaria aos porões.
Nos anos 30 e 40, milhares de homossexuais seriam exterminados pelas câmaras de gás do regime nazista e fascista. O triangulo cor-de-rosa que hoje é usado como símbolo homossexual, foi usado no regime Hitleriano para identificar os gays nos campos. E tais estereótipos pregados pelos comunistas e nazistas, mesmo que perversos, impregnar-se-iam ao redor do mundo, na sociedade como um todo. O estigma de gay ser um desvio estava criado e disseminado. Passado os regimes ditatoriais, a comunidade gay agora teria que enfrentar o conservadorismo reinante em todas as sociedades, e o movimento homossexual recuperaria o seu brilho e gás em uma noite fatídica num bar de Nova York.
A vida gay nos anos 60 era completamente marginalizada e tal comportamento era considerado amoral pela sociedade e governos da época. O bar Stonewall, localizado na Greenwich Village (NY), era diariamente abordado por policiais que alegavam aos donos não terem autorização para vender bebidas alcóolica. avam-se claramente da Lei Seca como desculpa para uma forte repressão. Muita gente era presa, travestis eram humilhadas e levadas em camburões. Porém, na noite de 28 de junho de 1969, os freqüentadores cansados de serem espancados e desrespeitados, resolveram mudar a postura.
Em mais uma batida policial, os presentes no bar resolveram encarar a polícia e os colocaram para correr. Mas, eles voltaram com reforço e a guerra foi armada: de um lado gays, lésbicas, travestis e transexuais montaram uma barricada com carros, do outro a polícia altamente armada. Foram três dias de confronto, boa parte da mídia, entre os eles o New York Times, realizou editorial apoiando os freqüentadores do bar, e assim parte da sociedade começou a olhar de outra maneira para a então marginalizada população LGBT.
Após a batalha, muita pessoas de orientação sexual gay dos Estados Unidos, principalmente em Nova York, entenderam que teriam que se unir na busca por direitos e respeito. A partir daí surge então os primeiros grupos/ONGs a lutar em prol dos gays, lésbicas e transgêneros. Stonewall transformara-se em símbolo da libertação homossexual e no ano seguinte, 1970, seria realizada a primeira parada gay de NY. Nos anos seguintes seriam outros estados e cidades como Califórnia, San Francisco e outras. começariam também a realizar suas marchas.
No Brasil a história da libertação homossexual teria início uma década depois. Como marco é possível citar a criação do jornal Lampião e posteriormente a fundação do grupo paulistano SOMOS no ano de 1978. A partir daí inúmeros outros grupos começariam a se articular. Hoje, o dia orgulho é comemorado por mais de 140 países no dia 28 de junho em homenagem ao confronto de Stonewall. Nos Estados Unidos a comunidade LGBT tem comemorado a recente liberação do casamento entre gays no estado da Califórnia, que hoje faz par com Massachusetts.
Pelas terras brasileiras a comunidade gay tem mais a protestar do que a festejar, e o ano de 2008 tem sido repleto de motivos para tal, nunca se viu tantas travestis e transexuais serem assassinadas, ataques homofóbicos por todos os lados, a ferrenha sanha reacionária das partes fundamentalistas religiosas contra o PLC 122. Mas, por um outro lado, os brasileiros homossexuais já podem dizer que o governo brasileiro convocou a primeira conferência nacional GLBT e mais, que o presidente da república lá esteve. Hoje o produto mais consumido em seu país, a novela das oito, retrata, verossímil ou não, personagens gays e, com todos os defeitos tem a maior parada LGBT do mundo…
Assim, construiu-se a data histórica da comunidade de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais. Por mais que esse dia tenha sido erguido no rastro da memória daqueles que foram perseguidos e assassinados pelos regimes totalitários no começo do século XX e, por aqueles que nos anos 60 deram um basta a homofobia e a repressão policial e para o confronto foram, é um dia a se comemorar. Para se inspirar naqueles que lutaram e até mesmo padeceram pelo simples fato de não terem vergonha de sua originalidade. A data é também para llembrar que ainda nesse instante em que você lê esse artigo, há homossexuais perseguidos no Egito, enforcados no Irã, censurados em Cuba, presos e espancados na Rússia, apedrejados na Palestina e até assassinados covardemente no Brasil…