A estudante recifense Maria Clara Araújo, de 18 anos, é mais uma prova de que travestis, mulheres transexuais e homens trans podem ter uma vida longe dos estereótipos, caso tenham políticas públicas voltadas para a população TT.
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Ela é uma das 6.562 estudantes da lista de primeira chamada para vagas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), selecionadas pelo Sistema de Seleção Unificada (SIsu). E foi uma das 95 transexuais que tiveram o nome social respeitado pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Em entrevista ao site G1, Maria Clara afirma que é a primeira da família a ser aprovada na universidade federal e que na próxima semana fará matrícula no curso de pedagogia. "Mainha está super orgulhosa (…) Ela ouviu que eu ia acabar na Europa me prostituindo. Não desmerecendo a prostituição, mas eu realizei meu sonho de entrar para academia e me tornar uma universitária. É um orgulho muito grande".
Ela conta que o respeito ao nome social no Enem – direito que foi garantido só em 2014 – ajudou no processo e que o próximo desafio é que a Universidade reconheça o nome social nas listas de chamada e nos documentos da faculdade, uma vez que a instituição ainda não regulamentou a política.
"É questão de reconhecimento, é uma questão de o Ministério da Educação ter a devida consciência de que existe uma escassez de pessoas e trans e travestis no âmbito educacional. Embora seja uma medida paliativa é, querendo ou não, uma forma de dizer que a universidade também pode ser nossa, e ela vai ser".
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Sobre o curso que pretende fazer, Maria Clara pretende investir em uma educação inclusiva. "A primeira opressão que sofri foi com uma professora que disse que eu não podia brincar com certo brinquedo porque não era do meu gênero, e que eu não podia ser feminina. É também questão de eu lutar para realizar um sonho de que, no futuro, eu possa fazer diferença dentro de uma educação que não seja mais opressora, que seja libertária."