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Fábio Monteiro fala dos 14 anos da X-demente, cultura barbie, seu acidente e de sua rixa com a “amiga da piscina”

Ele é percussor das labels parties no Brasil. Há mais de treze anos comanda e produz a principal festa do país e uma das únicas com reconhecimento internacionalmente: a X-Demente. Sincero, carismático e considerado uma pessoa amiga pelos que o cercam, Fábio Monteiro nos conta com exclusividade as surpresas de sua próxima X-Demente, fatos curiosos, a versão oficial de seu acidente e rixas entre produtores. Tudo sem censura ou papas na língua. Confira abaixo essa entrevista exclusiva cedida para o site A Capa . A X-Demente já tem uma trajetória de mais de 10 anos. Diga-nos fatos curiosos e memoráveis nessa trajetória Caramba! Nem são dez anos na verdade, já estamos indo para os 14. Minha memória é incrivelmente visual. Fora as estórias, tenho uma coleção de fotos que infelizmente não tenho como mostrar, pois estão guardadas somente na minha cabeça. A X-Demente Check In é tradicionalíssima. Os turistas já chegam ao Rio sabendo da festa do dia 30. E para esse Ano, quais surpresas e expectativas estão sendo aguardadas nessa edição? Como você disse, surpresas são surpresas, né? Agora falando serio, nunca escolho, não penso nem quando nem se a festa tem que mudar. Mas de repente… Mudou ! Mas já que perguntou, acertou! Estou querendo mudar tudo! E acho que vai ser bem radical. Tomara que eu consiga chegar onde quero. Se conseguir… A respeito da pista, por exemplo, não se assustem se dentro da Fundição derem de cara com uma plataforma elevatória pantográfica gigante.Vai a doze metros de altura! Como isso vai entrar? De qualquer maneira! E se estão achando que o look novo é industrial, erraram. De industrial só tem essa coisinha, pois o resto… Que tal flores gigantes vermelhas ou telas de vídeo com 18 metros de comprimento? E para o carnaval carioca, já tem alguma expectativa ou já pode nos adiantar algo que esteja sendo aguardado? Quer saber a verdade, não faço a menor idéia. Geralmente as melhores produções devem ser feitas (e pensadas) uma por vez. Alguns processos criativos merecem atenção exclusiva. Tipo agora. Adoro quando me pego, após tantas e tantas festas, ainda motivado como um adolescente. Na sua visão, como surgiu a cena gay brasileira como, por exemplo, a invenção do termo “Barbie”? Você considera a X uma festa para “Barbies”? Essa pergunta merece ser destrinchada. Quem deve saber como surgiu a cena gay brasileira talvez seja o Clovis Bornay, que veio antes. Como nos anos 60, 70 e 80, era tudo realmente muito camuflado, só quem estava lá deve saber. Mas imagino que nos 60 fosse aquela coisa andrógina, algo tipo Micke Jagger com David Bowie. Na década de 70, uma coisa Fred Mercury, já mais colocada. Seria um Sergey. Depois, vieram os anos 80. Era um começo diferente. Será que alguém, hoje, tem noção ou lembra o que significou o Rock Hudson se asssumir e morrer de aids ? É a partir que começa aquela coisa que eu gosto. Começa a revolução. Os gays mostram que não são só aquelas esquisitas: a fauna , a flora e suas amigas. São, também, jogadores de futebol, sex symbols, modelos, atores… Vamos pular para as Barbies, que em minha opinião foi o produto final de toda essa evolução. Digo produto, por que tinha mesmo tratamento. Teve lançamento e tudo. Após a bombástica reportagem que saiu na primeira página do segundo caderno em pleno domingo: “Barbies, o novo nome do verão carioca”. Foi escândalo. A mega foto do sarado de levis 501 tirando a camiseta branca para mostrar o corpo, que ao mesmo tempo cobria o seu rosto. Um marco para da cena gay brasileira e da cultura barbie. Nesse dia estava em Trancoso na casa de praia da Elba [cantora Elba Ramalho]. Alguém foi na vila, trouxe o jornal e disse: “Fabinho, olha isso aqui!”. Quase caí para trás. A brincadeirinha secreta da nossa turminha virou manchete de domingo. Inacreditável. O texto, do hoje amigo Hélio Hara ( agora entendo, parabéns Helinho , grande sacada), basicamente dizia: “Quem ainda acha que os gays são aqueles, está enganado. Agora, são também esse monte de meninos fortes e bonitos da zona sul.” Ninguém suspeitava. Lembro-me de algum amigo falando: “Gente meu pai leu aquilo e começou a me olhar estranho.” Todos eram suspeitos. Liguei para minha querida irmã Marta no Rio de algum orelhão no mato: – Marta e aí, o Rio está em chamas ? – Fabio, a mamãe mandou dizer que não adianta você esconder o resto que ela te reconhece até no escuro.. As primeiras Pool Partys no Brasil foram feitas por você no clube Radar. Porque você deixou de fazer? Sempre gostei de inventar e mudar. Mas sou muito mais noite do que dia. Achava aquilo um saco! Na época, a Rosane Amaral era uma pessoa próxima, estava precisando muito. Dei para ela e pronto. Assim como muitas outras coisas. Gosto de ser assim. Os amigos sabem que se precisar podem contar comigo (mesmo que depois passem o resto da vida me xingando). Você prevê mudanças para a X Demente? Acha que precisa ou pode vir a precisar no futuro de uma nova fórmula? A X Demente já tem vida própria, ela muda sozinha. Às vezes o público faz mudar e às vezes eu também. Como você vê hoje a noite carioca e brasileira? Depende. Já viajei quase o Brasil inteiro com a festa. A variedade de estilos em comportamento de um lugar para outro é tão variado quanto nosso próprio país. Mas têm alguns que merecem destaque, tipo o Rainbow fest em Juiz de Fora, que tem o miss gay. Se Almodóvar visse aquilo, desmaiaria. Nunca vi tanta tolerância. As pessoas ainda ficam admiradas e dizem que em NY ou Londres, você sai pelado e ninguém repara. Vá a Juiz de Fora, é mais perto e, pasmem, é de um respeito sem pretensão. Fui convidado, esse ano, para fazer a festa de encerramento da semana. Sem brincadeira, aos meus quase 14 anos de festa, me arrisco a dizer que foi uma das festas que mais me emocionou. Além de linda, a locação que a prefeitura liberou, para quem não conhece, seria correspondente ao Cristo Redentor de lá. Menor, é claro. Se a igreja vive de símbolos, então que símbolo era aquele. Os gays dançando ali, abençoados por quem menos podia se esperar. Pode ter sido tudo por acaso, mas eu vi. Chorei sozinho mesmo. Há alguns meses ficamos informados – e preocupados – de um acidente ocorrido com você. Como foi esse susto? Foi a experiência mais forte e impressionante que tive na vida. Há menos de 3 meses, voltando de uma festa fora do Rio, eu dormia no banco do carona. O motorista dormiu também e o carro entrou sem frear a 130140 km por hora numa árvore. Acordei com ele gritando: “Fábio, a árvore!”. Foi a ultima foto que vi: o farol batendo na árvore, tipo a 2 metros. Eram 2 da manhã. Quando acordei, já eram umas três da tarde. Levei minutos para eu entender onde estava e o que tinha acontecido. Não sentia nada. Tive perfuração de pulmão, oito costelas quebradas, fissura numa vértebra no externo e na bacia e hemorragia interna. Quebrei a mão direita inteira ao meio, todos os dedos e metacarpos. E para finalizar, ainda quebrei uma clavícula. Foram cinco cirurgias, reconstituição das mãos, tirei 20 cm do intestino (hemorragia). No total, fiquei vinte e cinco dias no CTI e mais vinte no quarto. Mas não se impressionem. Quem me vê agora, não percebe nada. Nenhuma seqüela. E vocês acreditam que a amiga da piscina [Rosane Amaral] falou publicamente que eu devia ter morrido. Quer saber ? Um beijo. A produtora Rosane Amaral agendou uma edição de sua festa para dia 30, data que todos já sabem que ocorre a X-Check In. Em meados do ano, uma X foi anunciada como festa oficial da parada Gay do Rio, no mesmo dia que a Revolution. Existe algum tipo de problema ou rivalidade com a produtora por isso? Olha numa boa, vou responder resumidamente e não vou esquecer de nada. Se alguém duvidar de algo pode confirmar com o grupo arco-íris. Vou repetir exatamente o que o Cláudio, presidente do grupo, falou: “Fabio, no ano passado tal festa fez proveito do uso do selo de festa oficial da parada do Rio. Mesmo com o sucesso da festa, tive dificuldades em receber. Quando foi feito era o valor de seiscentos e poucos reais em quatro cheques pré-datados”. Então ele frisou que não queria e nem tinha o interesse em voltar a ter essas pessoas como parceiras. O Cláudio ainda disse: “Acontece que quando marquei a parada para o dia X (começo) de julho, eles rapidamente souberam e já marcaram a festa em cima de mim. O que eu fiz foi desmarcar e já marcaram a festa em cima de mim novamente. Mas o que fiz foi desmarcar essa data e remarca-lá para o final do mês. È segredo e eles não sabem. Gostaria muito de que a fizesse.” Eu não ofereci nenhum percentual, mas sim toda a renda de tal festa. Acho que nem se passaram dois dias após esse encontro até que coincidentemente a outra festa marcasse sua data num dos últimos dias do mês (para quem não é produtor, vou explicar: no rio, ninguém marca festa no fim do mês, pois os salários saem dia 5). Por dificuldade em conseguir locação e outros motivos mais, tudo se atrasou e o final todos sabem. Foi exatamente isso que ocorreu e quero ver quem vai ter a coragem de dizer que foi diferente disso. Agora não me pergunte sobre qual o motivo de voltar a acontecer de novo esse dispensável encontro de festas na mesma data, que estou careca de saber que quem primeiro perde é o publico. Sem querer ir tão longe, a única coisa que pode fazer algum sentido nessa nova seqüência é a mórbida coincidência de tal festa ter marcado tal data no fim de semana do meu acidente. Será? Não quero saber, vou continuar a seguir meu caminho.

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