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Famílias perfeitas existem?

No começo da minha adolescência, logo após o traumático divorcio dos meus pais, decidi me afastar definitivamente dos meus familiares por parte da minha mãe. Da parte do meu pai, já não havia quase contato.

O motivo era que aquele garoto de 12 anos tinha medo da não aceitação de sua homossexualidade e também sentia inveja das famílias perfeitas que formavam meus tios, tias e primos. Hoje me arrependo e acho que deveria ter enfrentado tudo, mas com pouca idade não dava pra ter essa visão.

A grande família se reúne em todas as datas comemorativas, dias das mães, pais, aniversários, e uma grande viagem no natal, apelidada por mim como confraternização da família feliz.

Neste natal eu soube o quanto a família mudou e não é preconceituosa, fui muito bem convidado para a confraternização de natal, porem não fui porque estava com namorado e não achei legal levar, mas meu primo que se divorciou da mulher levou o namorado dele e estava até com aliança, comentou minha mãe. Minha tia, principal organizadora do evento reclamou e ficou brava com minha ausência, e disse com todas as letras que meu namorado teria sido bem recebido.

Há algumas semanas um de meus tios faleceu, e ai depois de mais que 10 anos eu finalmente compareci há um evento de família, pensei, já que não dividi os bons momentos, vou ser solidário no momento triste. Fui muito bem recebido, apesar do momento difícil, mas descobri algo que era novo pra mim. A família que pra mim era sinônimo de perfeição e felicidade, não era bem isso. Cada uma das famílias que compõem a grande família tinha digamos um podre, ou problema.  Não tem nada de perfeito nestas famílias. Alguns amigos disseram que as famílias são desta forma mesmo, e eu não sabia.

Nessa muitos devem entender que eu não gosto dessas pessoas que são minha família imposta, isso mesmo imposta, um mentor me disse: “o homossexual tem que fazer sua família, vai escolhendo entre os amigos e vira uma família bem mais importante” é verdade.  Essas pessoas da família imposta são muito importantes para mim, são personagens da minha vida, da minha infância, fui criado entre eles. O fato de eles não serem perfeitos, só me aproxima deles, dessa forma percebo que estou à altura deles e que realmente faço parte da família. Não por ser gay, e sim por não ser perfeito como achei que eles eram. A minha família, a qual eu pretendo voltar a conviver.

Sexta-feira da solteirice

Agora é Maceió