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“Fui ameaçado ao lado dos policiais e eles não fizeram nada”, diz jovem vítima de ataque homofóbico em SP

Na semana passada, Guilherme Rodrigues, 23, foi vítima de agressão homofóbica na região da avenida Paulista, em São Paulo. Na delegacia, Guilherme tentou registrar um Boletim de Ocorrência, o que não foi permitido, visto que não existe uma tipificação para crimes motivados por homofobia.

Além disso, Guilherme diz que foi ameaçado pelos agressores na frente dos policiais e que estes não fizeram nada para conter as ameaças dos criminosos. Guilherme é ativista do PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados) e, nesta segunda-feira, encabeçou um protesto, acompanhado de seus colegas de partido, em frente ao 4º DP, onde foi atendido na noite da agressão.

A manifestação reuniu cerca de 100 pessoas. A ideia era também entregar o exame de Corpo de Delito, que comprovou que Guilherme foi agredido. A reportagem de A Capa esteve presente ao protesto e acompanhou o momento em que, acompanhado de testemunhas, Guilherme entregou o exame. Além do B.O. aberto na delegacia, a vítima abriu também um processo na DECRADI (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância).

A seguir, você confere uma entrevista exclusiva que Guilherme concedeu ao site durante a manifestação. À reportagem, ele relatou que se sentiu desprotegido por conta da conduta da PM e que a manifestação realizada por ele e pelo PSTU não diz respeito exclusivamente ao seu caso, mas a todos aqueles que já sofreram ataques homofóbicos e não tiveram coragem de denunciar.

Por fim, Guilherme declarou que espera, a partir de sua atitude, que as próximas pessoas que sofrerem agressões homofóbicas denunciem seus casos à polícia. "Não podemos deixar que estes fascistas nos empurrem de volta para o armário à base de socos e chutes", protestou.

Qual é o objetivo de vocês com este ato de hoje?
Nosso objetivo é dizer que este não é um problema só meu, pois há muitas pessoas que são agredidas e não têm coragem de denunciar. Também queremos exigir a aprovação do PLC 122, que criminaliza a homofobia. Não tive esse direito [de registrar a agressão] porque a homofobia ainda não é crime. Então, com este ato de hoje queremos dar voz a todos aqueles que foram agredidos.

Quando você foi realizar o Boletim de Ocorrência e a Polícia Militar se recusou a registrar como homofobia, qual foi o seu sentimento na hora?
Foi um misto de indignação, raiva, sabe aquela sensação: ‘como assim?’. Foi assim que fiquei quando a escrivã disse na minha cara que a homofobia ‘não existe’. E eu reagi: ‘com não existe? Eu fui atacado por homofobia’. Isso mostra que nós estamos expostos e não temos o que fazer.

Quando os agressores te ameaçaram, qual foi a reação dos policiais que estavam com você?
Eles me ameaçaram em dois momentos: primeiro, em frente aos policiais esperando a viatura, e os policiais não fizeram nada, até que eu falasse ‘você é tão imbecil que está me ameaçando em frente à polícia. Eu vou usar isso contra você’. Na delegacia, eles me ameaçaram sem os policiais verem e continuaram com uma postura hostil o tempo todo. Os policiais não fizeram nada e queriam que eu ficasse no mesmo lugar que eles. A PM me dispensou junto com eles [agressores] para ir embora, sem nenhuma proteção. Imagina eu indo embora junto com os agressores sem nenhuma proteção?

E como você foi embora? Sozinho?
Não. Esperei eles irem embora e liguei para um amigo. A PM não quis me levar para casa. Meu amigo veio me buscar de táxi, antes olhou ao redor da delegacia para ver se eles [agressores] ainda estavam por lá. Mas quero ressaltar que fui embora com um amigo e ninguém garantiu nada.

Os caras que te agrediram eram skinheads?
Depois que fomos à DECRADI, ficou claro que eles não são necessariamente skinheads. Nós os caracterizamos como vândalos homofóbicos e fascistas. Abandonamos a ideia de skinheads porque existe o pessoal do RASH [grupo skinhead que se denomina não homofóbico e é de esquerda], que são parceiros e estavam na Marcha contra a Homofobia na avenida Paulista. Queremos deixar claro que se trata de um bando homofóbico neofascista.

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