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Ignorancia ou preconceito?

Gostei muito do Brüno. Muito mesmo. E devo concordar. É piada e é engraçado. Gostei muito da parte em que ele xoxa o cara da terapia de conversão de gays e na parte do acampamento quando compara um grupo de caçadores machos heterossexuais às personagens de Sex and the City. Sensacional.

Daí, que andamos discutindo muito humor esses dias nas horas do almoço. Tipo, há limites para o humor? Quando uma piada é engraçada e quando ela perde a sua graça por ser preconceituosa?

Caso da piada do Danilo Gentilli, que deu o bafo lá. Não achei a piada em si preconceituosa ou racista. Quando ele comparava King Kong com jogadores de futebol, entendi que ele estava brincando mais coma questão do estereótipo de jogadores saírem com loiras. Sério. Não gosto nada futebol, mas gente, vamos combinar que não é a maioria dos jogadores de futebol que são negros, né?

Mas os comentários posteriores do Danilo –  "vocês me prenderam como um macaco", seguido da foto – aí achei de mau gosto. Não sei se necessariamente preconceituoso. Eu diria desrespeitoso.

E aí nesse debate de liberdade de expressão x censura eu fico a me perguntar o que é o "politicamente correto"? Porque eu vejo muita gente criticando o tal do politicamente correto, mas não sei mesmo o que isso quer dizer, assim, em termos práticos.

Por exemplo. Tem um blog que eu gosto muito de ler, de um cara heterossexual de Brasília. Outro dia ele falava de uma travesti que pegou o mesmo ônibus que ele. E chamava a travesti sempre de "ele", quando não de "traveco". Vamos lá. O menino escreve bem, é fã de uns rocks cafonas e de quadrinhos, mas ainda assim tem um bom texto, cheio de ironias e boas doses de sarcasmos. Ou seja, não é uma completa ameba.

Daí que no final do post, não sei se respondendo algum comentário, ou não, vi que ele explicava o motivo de chamar a travesti de "ele". Para o tal blogueiro a questão era simples. Ela têm um pênis, logo é um homem. Poor Guy. Desconcordo, mas entendo todos os motivos que o fazem pensar. Embora trabalhe insistentemente pra desconstruir esse conceito de genitália e papel social de macho e fêmea. Blerg X(

Daí que meio que o menino se reservava o direito de não ser "politicamente correto". E confesso que achei/acho estranho, porque vejo muita gente com essa postura. Na boa, eu gosto de aprender com o meu dia-a-dia. Tenho aprendido, ou pelo menos tentado, aprender, nessa minha vida, a cada vez mais respeitar as pessoas. Como são.

Daí que por exemplo se eu for  cobrir um evento de militância e lá as travestis dizem que querem ser chamadas de "elas", pelo menos para mim, deixa de fazer sentido eu chama-las de "eles". Se ela quer ser chamada de Fernanda, Andreia, Emanuele, não tem porque chama-la de Fernando, André, Emanuel. Simples assim. E daí porque, pelo menos aqui no A Capa, a gente tem se preocupado muito em não fazer com a imprensona faz e ficar tentando conseguir o nome de registro de uma travesti. Diante do conteúdo da informação e até do acontecimento pertinente à noticia postada, não faz sentido eu perguntar pra uma travesti o nome masculino.

Porra, é justamente essa a luta delas. Ser reconhecidas por sua personalidade feminina. Quem sou eu na buatchy pra ir contra isso? Sério que uma vez vi um repórter do G1 perguntar pra Claudia Wonder o "nome masculino" dela. Obviamente que ele não sabia que estava conversando com um ícone da noite e cultura gay do país. Mas ainda assim, velho, é Claudia o nome dela.

E pode reparar, o G1 tá muito imitando a Folha em querer manter a "independência" de não adotar o nome "politicamente correto", que chegou ao ponto de colocar a palavra "homossexualismo" na boca de um conhecido militante gay,que diz ter falado "homossexualidade", ao repórter.

E aí, pode dar uma procurada, a notícia com a prefeita travesti dos Estado Unidos, que rendeu uma ótima entrevista feita pelo Paco aqui no A Capa foi parar no canal de "Mundo Bizarro" lá no G1. Porque a possibilidade de uma travesti prefeita é encarado como bizarra. É só diversidade. Aqui não temos Katia Tapety? Não temos Léo Kret? Qual é a diferença, então? Talvez o desconhecimento dessa "história da homossexualidade" e proximidade com o tema.

Mas sabe o que é engraçado? O nome do ex-pm Jairo Francisco Franco, acusado de assassinatos no parque dos Paturis em Carapicuíba não foi publicado na nota sobre a prisão do suspeito. Quer dizer, as travestis tem suas identidades masculinas reveladas e expostas e um suposto assassino tem seu nome protegido. Boa tarde, né? É como falei acima da Folha, que passou a usar "homossexualismo", por questão de "independência".

Tem um monte de jornalista gay lá dentro. Historicamente é o jornal com maior número de pautas "pró-gay", com colunistas gays que repercutem e  não conseguiram aprender nada com isso? Que por questão de respeito, e não de independência, é mais bonito falar homossexualidade?

É por isso que fico indignado com alguns ataques ao politicamente correto. Porque não custa dizer portador de mobilidade reduzida, ou deficiente, ou portador de deficiência, ou pessoa vivendo com HIV, negro ao invés de aleijado, aidético e preto. Não é questão de certo e errado. É questão de respeito, pura e simplesmente. E outra, não é nenhum esforço, nem favor. É o mínimo de uma convivência civilizada.

E é por isso que gostei muito do Brüno o humor dele é, no fundo, bastante crítico. É inteligente, debochado, é satírico e por isso é bom. Ou não é do caralho a cena da luta do "Straitgh Dave", deixando os heterossexuais putos da vida tacando coisas no ringue? Pois é, então.

Dia de Satanás

Adoro uma festa, mas quero a minha casa