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Igreja promove primeiro casamento gay coletivo do Brasil

No dia 24/05 o Sindicato dos Químicos e Plásticos se transformou em palco para uma celebração inédita: um casamento coletivo gay promovido pela Igreja Cristã Metropolitana (ICM). Para quem não sabe a ICM foi fundada nos anos 70 pelo pastor Troy Perry, homossexual que não se conformava com o sectarismo e exclusão que a igreja promovia aos homossexuais. Mais que um espaço religioso foi centro de luta de boa parte do movimento GLBT dos Estados Unidos.

O auditório do sindicato transformou-se em um altar religioso, com direito a tapete vermelho, padrinhos e noivos e noivas. Assim aconteceu um casamento formal, nos moldes que conhecemos, porém, a diferença era se tratar de uma  celebração da união de três casais homossexuais: dois formados por mulheres e um por homens.

Por volta das 18h30 os convidados e familiares começavam a chegar. Entre eles estava o DJ André Pomba, que apesar de ser ateu revelou considerar importante tal ato, "eu acho uma coisa bem legal. Particularmente eu não casaria em uma igreja, pois sou ateu. O fato de ser uma celebração coletiva por uma igreja que é inclusiva é importante e por isso estou aqui festejando os meus amigos". André ainda fez uma ressalva sobre a questão da religiosidade, "realmente eu não me importo com as igrejas, eu ignoro. Agora, a partir do momento que elas agem contra os direitos gays, por exemplo, o direito a casar na igreja, a união civil, adotar crianças e outras coisas. Nós temos que ter os mesmos direitos".

As 19h30 o mestre de cerimônia, Dário Neto, deu início a celebração. O que dava sinais de ser algo apenas religioso surpreendeu quem lá estava. Ao iniciar a sua fala com citações de Clarice Lispector, ele fez um discurso sobre os direitos que a população homossexual também deve ter, "casar numa igreja com a benção de Deus não deve ser uma exclusividade dos heterossexuais, pois o amor não tem sexo, e que é preciso é romper com a heteronormatividade reinante". Dando seqüência a manifestação, foi chamado ao microfone o ativista do movimento GLBT de São Paulo Beto de Jesus. Em sua fala Beto ressaltou o fato de que "as pessoas estão aqui hoje para celebrar o seu amor e não mais se esconder". Falou sobre a importância da presença das famílias dos casais, "as famílias estarem aqui hoje é um resgate, pois nem sempre a participação desse coletivo é algo que se dá. A fé e o amor não têm sexo".

Feito o protesto, o pastor Cristiano deu início a celebração ao som da Marcha Nupcial de Wagner. Primeiramente entraram os padrinhos, para em seguida os três casais chegarem e rumarem ao altar, foram eles: Isabel e Marlene, Suzane e Noemy, e Lula e Guilherme. Com os noivos em posição, o pastor deu início a um discurso emocionado, "hoje celebramos o amor com a presença de Deus, um casamento tão normal quanto os outros, a única diferença é que os casais aqui presentes são gays". Porém, antes de começar a cerimônia da troca de votos e alianças, o pastor chamou Iury Puello, representante do grupo Católicas pelo Direito de Decidir da Colômbia, grupo feminista da igreja Católica, "estou aqui por que acredito num mundo com mais amor e mais justo.  Um tempo mais justo está começando. Hoje celebramos o amor". Cristiano retorna ao altar e inicia a celebração dos votos, os casais declaram um ao outro permanecer juntos, se beijam e definitivamente estão casados.

A emoção toma conta de quase todos os presentes. Quem esteve lá e se emocionou foi Dimitri Sales da CADS, "eu me emocionei muito, achei isso muito bonito. E o mais importante é mostrar que isso é possível. Um outro mundo é possível, uma outra forma de se celebrar o amor também é possível". Toni Reis, presidente da ABGLT, acompanhado de seu companheiro David, se mostrava fortemente emocionado, "eu me emocionei ao ouvir a Marcha Nupcial, a troca das alianças. Também achei demais essa questão de colocar uma feminista das Católicas pelo Direito de Decidir, o Beto de Jesus. Enfim, foi uma celebração político-religiosa".

Depois de toda a celebração os casais foram para o salão nobre do sindicato para receber os cumprimentos dos amigos e familiares. Muito emocionados conversamos com eles. "Celebramos hoje o nosso amor. O meu sentimento por ela se tornou público. Muitas pessoas poderão ver através de nós, que podem mudar sua visão sobre o seu casamento, mudar o comportamento", disse Suzane, agora esposa de Noemy. Muito emocionada também estava Marlene que acabara de se casar com Isabel, "isso foi a celebração de uma união que existe há nove anos e decidimos receber essa benção. A única diferença é que, agora toda a minha família sabe, antes apenas a minha irmã tinha conhecimento. Mas, depois toda a família se envolveu".

Lula e Guilherme recebiam muito amigos, Lula é ativista GLBT de São Paulo pelo grupo CORSA e não escondia a sua emoção pelo momento ali vivido, "o mais bonito dessa cerimônia é que ela não é como a das igrejas tradicionais e não é como se você estivesse começando do zero, por exemplo: a noiva vestida de branco e virgem, a noite de núpcias. Hoje o mundo já percebeu que não é esse o caminho".

O pastor Cristiano tentava dar atenção a todos, e muito feliz comemorou, "hoje fizemos uma página importante na história. Celebramos o amor entre iguais. E isso é uma afronta a homofobia e a intolerância. Hoje tivemos um ato religioso, mas também um momento político. Estamos aqui construindo algo novo, fazendo uma construção do futuro!". 

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