Invadimos o maior cruzeiro gay do mundo; saiba tudo que rolou pelos mares do Caribe
Todos os anos, entre os meses de janeiro e fevereiro, o porto Everglades, nos Estados Unidos, é tomado por uma multidão de mais de 5 mil gays, e algumas lésbicas, para embarcar, para o cruzeiro da empresa Atlantis. Em 2012, pelo segundo ano consecutivo, o cruzeiro foi a bordo do maior navio do mundo.
A viagem pelo Caribe conta com um público bastante diverso para a veterana no assunto, a Atlantis Events, que há 21 anos produz viagens marítimas e eventos em resorts exclusivamente para este público. Com essa quantidade de pessoas, a diversidade étnica, cultural e regional impera. Nas varandas das cabines há bandeiras de todas as partes do mundo. Chineses, israelenses, mexicanos, argentinos, alemães, ingleses, uruguaios, franceses e principalmente norte-americanos e canadenses a bordo.
A presença brasileira também é notada não apenas pelas varandas, mas também pelo português que é facilmente ouvido durante as festas, corredores e nos restaurantes. Segundo dados da Royal Caribbean, proprietária do navio, na edição de 2012 estavam embarcados 85 hóspedes residentes no Brasil, o que exclui da conta àqueles que moram em outros países.
E os brasileiros estão mesmo com a bola toda na terra do Obama. Depois de ovacionados como um dos que mais gastam por lá, o tapete vermelho se estende sempre. “Brasileiro gosta de passar la tarjeta”, brinca um vendedor da loja de relógios do navio misturando um pouco de espanhol na frase que denota a corrida pelos preços baixos frente aos praticados no Brasil.
Festas
Quando o assunto é festa, o público da Atlantis não poupa esforços e investimentos para seguir a temática proposta para cada uma delas. Geralmente os temas são os mesmos em todas as viagens que promovem, o que facilita para os passageiros frequentes.
Na festa Dog Tag T-Dance, que rola durante uma tarde, o pessoal abusa dos acessórios de couro e vestimentas camufladas, além da tradicional tag no pescoço de todos, onde a cor vermelha indica quem não está disponível, a cor amarela é um “talvez pode rolar”, a vende indica que a pessoa está a fim e se o mais abusadinho colocar duas verdes significa “na minha cabine em 15 minutos”. Tem gente que coloca dez!
Já na Festa do Glitter, a montação e maquiagem rolam soltas, como também na festa das luzes, que tem o melhor efeito visual. A Over The Rainbow é onde as produções são ainda mais elaboradas. Tem também a clássica White Party e a Revival, que marca o encerramento, com os hits dos anos 80. Fora essas, há também festas focadas para os ursos, uma comunidade muito presente e sempre animadíssima, que faz jus a ter todas as noites um espaço reservado para eles e seus admiradores.
No quesito DJs, eles adotam a tendência do menos é mais. Para um cruzeiro de sete noites foram escalados apenas seis, mas nomes de peso na cena internacional. Abel, Manny Lehman, Brett Henrichsen, Wayne G, Pagano e Guy Smith, também conhecidos por passagens em pistas brasileiras, se revezavam nas festas que sempre tinham hora para acabar.
Durante as festas é possível ver como este público é bem resolvido com a sexualidade. Por lá o objetivo é se divertir, não importa se vestidos de homem ou de mulher. Em muitas festas os musculosos e barbudos aparecem de salto alto, peruca e maquiagem, mas não é um ou dois, são muitos. Dezenas. E muito bem produzidos. Acabou a festa, acabou a montação e não feriu a masculinidade.
Para poucos
Pequenos eventos também são realizados durante toda a viagem, como apresentações de piano, shows de humor e também cantoras. A artista da vez que ficou encarregada de cantar foi a Indina Menzel, que mais recentemente foi vista no seriado Glee. Todos sentados em volta de um piano e a moça cantando, foi bem emocionante.
Ainda do mundo da televisão, o ator Alec Mapa, que ficou conhecido nas telas por Desperate Housewives e Ugly Betty, também se apresentou no navio.
Para boas risadas tem o Dixie Longate’s Tupperware Show, onde uma vendedora maluca de utensílios domésticos mais conversa e fala da vida dos outros do que efetivamente promove a venda de seus produtos. Durante seu shows, ela solta frases como “vocês não inventaram o sexo, inventaram o fist fucking”, e “Steve Jobs não está morto, ele está na nuvem”, fazendo alusão ao serviço iClound – de armazenamento de dados em computadores remotos – da Apple.
Televisão
A customização também acontece no sistema de televisão do navio. O diretor de cruzeiro da Atlantis, Malcolm Neitzey, gravou diariamente sua apresentação junto com o diretor de cruzeiro da Royal Caribbean, Rick, para divulgar a programação do dia, comentar as festas, eventos e também fazer brincadeiras entre si, é bastante divertido.
Diversidade
Com público extremamente diverso, que vai desde jovens com 20 e poucos anos até senhores que já estão na casa dos 60, a programação é pensada em atender a todas as demandas, por isso, além das festas, têm shows de humor, cantores, eventos para lésbicas e até para passageiros estrangeiros.
Eles promovem também um jantar para solteiros, com objetivo de fazer as pessoas se conhecerem, interagirem e quem sabe engatar um relacionamento. Todo mundo participa do jantar com o nome e a cidade escritos em uma etiqueta na roupa, enquanto os pratos vão sendo servidos, eles vão se conhecendo. Tem gente que leva a sério e rola mesmo!
A edição 2012 do cruzeiro contou também com uma palestra bastante interessante sobre o futuro do turismo gay, onde discutiu-se a questão da importância das agências especializadas, dos produtos focados neste público e também de viagens com destinos tradicionais realizadas por casais ou grupos de amigos gays.
Como customização é o ponto forte nesse tipo de turismo, a Atlantis leva também roupas para vendas especiais durante os dias de cruzeiro. São camisetas, quepes e regatas da própria empresa e sungas de outras marcas com apelo gay, isso tudo sendo comercializado pelas próprias lojas do navio.
Emergência
A última coisa que os passageiros esperam ouvir é o alarme de emergência do navio. Pois na manhã do dia 3 de fevereiro de 2012, quando o navio se aproximava de sua última parada em Cozumel, no México, por volta das 7h15 do horário local, o alarme soou. O comandante avisou então que um passageiro havia caído do navio. A ponte de comando foi avisada por outro hóspede sobre o acidente e como a identidade da vítima não era conhecida, foi necessário reunir todos os 5300 passageiros para fazer a contagem. Foram momentos muito tensos e um clima fúnebre pairou sobre o navio por todo o dia somando-se ao tempo nublado.
Verificaram que a pessoa em questão era um britânico de 30 anos. A marinha do México e a equipe do navio mantiveram as buscas por todo o dia. Nenhuma informação sobre o encontro do corpo, até então, foi divulgada.
*Matéria publicada originalmente na revista A Capa #54