À medida que as apresentações de drag alcançam maior visibilidade e se tornam parte de eventos familiares e diurnos, como leituras em bibliotecas e brunches, diversos estados norte-americanos com legislações conservadoras estão tentando impor restrições. Embora pesquisas indiquem que a maioria dos americanos não apoie leis que restrinjam essas performances, legisladores de estados como Kentucky, Missouri, Nebraska, Dakota do Sul e Virgínia Ocidental debateram ou promulgaram legislações nesta sessão que proibiriam a presença de menores em shows de drag. Algumas dessas leis imporiam regulamentações mais severas aos estabelecimentos que organizam tais eventos ou proibiriam “condutas obscenas ao vivo” em universidades estaduais.
Os proponentes dessas medidas afirmam que seu objetivo é proteger as crianças de entretenimentos considerados inapropriados para elas, mas críticos alertam que tais leis podem ser utilizadas para incriminar ou discriminar indivíduos transgêneros, mesmo fora das performances de drag. Este ano, 21 projetos de lei relacionados a drag foram considerados em 12 estados, segundo o banco de dados de acompanhamento de projetos de lei LGBTQ+ da ACLU, com a maioria não avançando. Nos casos em que as leis foram promulgadas, elas enfrentaram desafios legais significativos, sendo muitas vezes consideradas inaplicáveis por violarem a Primeira Emenda, como foi o caso em Montana, Flórida, Tennessee e Texas.
Em contraste com essas iniciativas, a popularidade das apresentações de drag como forma de entretenimento e expressão de identidade de gênero cresceu, saindo do ambiente noturno para se integrar a atividades culturais mais amplas e familiares. Dr. Lady J, uma artista drag que realizou uma dissertação de doutorado sobre a história do drag, comentou que o foco das leis não é proteger crianças, mas sim apagar a visibilidade LGBTQ+ no espaço público. Em suas apresentações para crianças, ela escolhe cuidadosamente músicas e trajes adequados, como um adorno de cabeça inspirado em “My Little Pony”, para garantir um conteúdo apropriado e atraente para o público jovem.
As ações legislativas, largamente apoiadas por legisladores do Partido Republicano, tendem a surgir em ciclos eleitorais como uma forma de mobilizar a base conservadora, conforme explicado por Melissa Michelson, cientista política e especialista em política LGBTQ+ na Menlo College, Califórnia. No entanto, Michelson prevê que o foco nessas legislações deve diminuir após as eleições, apontando para a natureza eleitoreira e a ausência de uma ameaça real que essas medidas representam.
O debate em torno das restrições a apresentações de drag reflete um momento de visibilidade e aceitação crescentes para a comunidade drag, contrastando com períodos anteriores de maior estigma. A inclusão dessas expressões culturais no cotidiano demonstra uma mudança significativa na percepção pública e na política cultural, onde o objetivo é promover um entendimento mais profundo e respeitoso sobre a diversidade de identidades e expressões de gênero.
