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“Meu sonho é ganhar o Oscar”, diz Salete Campari

A drag queen Salete Campari  está entre as personagens mais conhecidas da noite gay paulistana e por que não brasileira? Seu nome hoje é ligado a dois expoentes: a casa noturna Danger e a vida política. Salete já foi candidata a deputada estadual e esse ano pleiteou uma vaga na Câmara Municipal de São Paulo. Ainda não foi dessa vez que se elegeu. Aqui ela fala um pouco sobre a sua vida e coisas que poucas pessoas devem saber.

"Sou natural da Paraíba, vim para São Paulo com dez anos quando os meus pais morreram, vim morar com o meu irmão". A respeito de sua sexualidade ela conta que desde menino sempre teve o "lado mulher a flor da pele". "Quando cheguei a São Paulo eu já sabia que era gay. Sempre gostei de homens. Eu não ia à praia para ver mulher, sempre quis admirar o corpo masculino e, como eu morava em uma cidade de 20 mil habitantes sempre me cobrava. Durante muito tempo repreendi meu lado sexual ". A respeito de sua orientação sexual diz que "ficava mais latente a cada dia que passava, principalmente entre os 11 e 13 anos".

Nunca houve crises em sua vida por conta da sexualidade. "Sempre fui muito feliz, só sofri um pouco no começo por causa do meu irmão, por que ele me batia, pois eu era muito pintosa, e ele dizia, vou levar você para tal lugar. Quando ele falava isso eu entrava em pânico e dizia que não gostava de mulher e que não queria". Com mulheres, Salete Campari revela nunca ter tido relações sexuais. "Nunca tive vontade, eu sabia que não daria certo".

Se é para definir a sua identidade de gênero ela diz que é  "gay e me visto de mulher". Gosto de sair durante o dia vestida de homem  e eu gosto de homens". Sobre o inicio da sua carreira, ela conta que tudo começou ao ver shows de antigas performers. "Assistia a noite no Bolinha e isso me fazia ver aquelas drags. Alas não eram drags, eram as grandes transformistas e aquilo me fascinava. Aí eu comecei a andar com as pessoas do meio".

O início da Salete Campari
A vida artística começa com o empurrão de um amigo. "Quem teve influência nisso tudo também foi o Roberto de Jesus. No final dos anos 80 a gente saia travestido. Eu comecei muito jovem com isso, tinha uns 18/19 anos e nessa época eu comecei a fazer serviço social, por que foi nessa época que estorou a Aids. Eu, o Beto de Jesus e o Lázaro, que deus o tenha, nós saíamos para distribuir camisinha e nessa época o povo dizia ‘é a epidemia gay, né?’. Eu já me montava nesse tempo, mas não era conhecida e nem trabalhava em boate e foi aí que surgiu a Salete". 

A respeito da criação da sua personagem ela revela que "o nome sempre foi Salete Campari, mas quando eu me montava eu fazia Elba Ramalho, Gal Gosta, não fazia nada relacionado à Marilyn, um dia na boate uma pessoa me convidou para fazer um telegrama animado, comecei e nunca mais parei. Sobre a Marilyn foi assim: o cara da empresa que me contratou queria que eu fizesse a Monroe, mas imagina: uma Paraíba que fazia Elba Ramalho se vestir de Marilyn Monroe, mas o cara trouxe a roupa e eu me vesti. Deu super certo, no mesmo evento  que eu fui me fizeram mais uns seis convites. E aí nunca mais parei. Isso foi em 1991", lembra Salete. 

Salete trabalha há mais de dez anos com a noite e nos conta um pouco de sua trajetória até chegar na fase atual. "Eu trabalhei a vida inteira em casa noturna. Comecei na casa Nostro Mondo. De lá, fui trabalhar na Gentlis, depois  no Massivo, aí fui trabalhar na Rave, depois fui trabalhar com o Mauro Borges na Disco Fever. Antes de chegar a Danger onde estou há oito anos, também passei pela Salvation". A drag faz um paralelo entre a antiga noite paulistana e atual. "Hoje, a  noite de São Paulo está muito violenta. Em outra época você tinha muita violência por parte da polícia que agredia  muito os homossexuais, hoje a violência é generalizada".

Ainda sobre as casas noturnas ela acredita que "antes, sinceramente, os empresários investiam muito em shows, hoje nós só temos a Blue Space que investe de verdade nos shows e as pessoas iam pra se divertir mais, pra se amar, hoje não tem mais isso, as pessoas vão para a boate para fazer outras coisas". Indagada sobre que outras coisas são essas, ela prefere deixar os três pontinhos. "Antes as pessoas iam para as boates pra arrumar um namorado. Isso eu digo há 20 anos, que não tinha tanta boate, hoje as pessoas estão muito loucas, hoje tudo é mais fácil, está tudo banalizado. Podem me criticar, temos um lado maravilhoso, mas também temos um lado muito negativo. Hoje o povo se preocupa menos em arrumar um namorado e mais em transar".

A respeito do fato dos shows terem caído tanto, Salete aponta a própria comunidade. "Os gays não querem mais isso, querem entrar numa balada para dançar a noite inteira, não mais para assistir um show, só querem se divertir loucamente. Mas eu digo que a noite é maravilhosa. Vivo da noite há 22 anos e enquanto existir boate gay a Salete Campari vai existir". O que mais te agrada em trabalhar a noite? "Os shows me agradam muito, conversar com as pessoas. Todo dia conheço gente nova".

O grande desejo que pretende realizar, ela nos conta. "Eu tenho o sonho de ganhar o Oscar, fazer um filme maravilhoso, chegar lá… eu sou ator também né. Já lancei um livro e agora eu quero fazer um longa metragem contando a história da Salete Campari, eu sonho com isso". A drag que já protagonizou um cuta sobre sua vida e seu grande sonho fala também sobre seu grande amor. "Fomos casados durante 15 anos e foi maravilhoso, isso foi a base da Salete Campari. E, tudo um dia tem fim, terminamos o nosso relacionamento que foi maravilhoso, hoje somos grandes amigos".

Para aquelas pessoas que acusam Salete de ser caruda, ela não mede palavras. "Olha, essas pessoas que falam que eu faço carão, são aquelas mesmas pessoas eu que mando para o fim da fila, as pseudo-celebridades, igual a todo mundo. Agora quem me conhece de verdade sabe que eu não sou carão". Sobre o futuro, ela diz que continuará a trabalhar como Salete Campari e "continuar atuando em prol da comunidade e da política, que agora está na minha pele, pois estou aprendendo muito com isso".  Sobre a sua auto-definição ela acredita que a Salete Campari é uma "pessoa sincera e esse é um defeito meu, eu falo tudo que penso e sou uma pessoa séria. Mas, também sou uma pessoa muito alegre".

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