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Mulher indigesta

Estava navegando pelo youtube e descobri um samba muito simpático que vai me servir de terapia por toda a vida: Mulher Indigesta, do grande compositor Noel Rosa. O refrão é assim: mas que mulher indigesta, indigesta, merece um tijolo na testa (clique aqui para assistir).

Profundíssimas palavras do sambista, fiquei encantada com a poesia e assertividade dos versos, era tudo que eu precisava ouvir, justamente num momento em que uma indigesta resolveu atravessar o meu caminho.

Parece maldoso, mas atire a primeira pedra quem não teve uma indigesta entalada na garganta em alguma momento da vida. Por exemplo, você está com uma gatinha em uma festa, início de relacionamento, tudo ainda naquele fervo da paixão, beijos calorosos em público, aí chega uma sem noção e começa a dar em cima de sua mulher descaradamente.

Qual é o melhor adjetivo para essa indivídua? Indigesta, claro. Como você não vai meter a porrada na cara da garota, por que você é uma sapa civilizada, resta cantar os versos de Noel Rosa. Experimente, funciona, alivia a alma.

Há milhares de situações onde as indigestas se manifestam e elas estão por toda a parte. Tipo, você acabou de fazer três anos de relacionamento, está toda feliz, vocês ainda se amam, vocês ainda transam, só querem celebrar o fato de conseguirem se manter casadas por tanto tempo, aí chega uma indivídua dona da verdade dizendo que o casamento é uma instituição falida, que há uma pesquisa recente comprovando que os casamentos entre lésbicas estão fadados ao fracasso. Não que a sentença seja necessariamente mentirosa, mas há pessoas que falam coisas certas nas horas erradas. Aí é hora de cantar a musiquinha para fazer a sua digestão.

Mas, as indigestas mais famosas são aquelas que tem como esporte e missão na vida destruir sua relação amorosa, simplesmente pelo prazer da subversão. O critério delas são as mulheres casadas, aquelas que querem levar a relação a sério. Então, a indigesta se aproxima do casal, se faz de amiguinha, e começa a promover toda a dissolução sem fazer muito barulho.

Geralmente é do tipo que não namora e não deixa ninguém namorar, como diz o samba de Noel, simplesmemente pelo prazer de destruir o relacionamento. Essas indigestas são, na verdade, as mulheres mais inseguras e mal-resolvidas do mundo. Musiquinha nelas.

Há também aquelas indigestas “sissis”, ou seja, as que “si” acham o último biscoito do pacote. São cheias de não-me-toque, de nhénhénhén, se consideram as mulheres mais bonitas de toda a ordem lésbica da cidade, só circulam com amigas igualmente lindas, tudo que fazem são de muito bom gosto e, provavelmente, você nunca as alcançará porque não tem paridade.

Essas indigestas são realmente como salada de pepino à meia-noite, para usar os versos do sambista. A referência de beleza e perfeição são elas mesmas, praticamente se bastam, são auto-suficientes, se auto-reproduzem, se auto-amam, enfim. Noel Rosa também pensou nelas na hora de fazer a música.

Para terminar, tem a indigesta inconveniente, você já disse que não rola, que não tem jeito, e ela continua no seu pé, insiste, te vê numa boate e vem logo falar com você, pede para adicionar no orkut, no msn, na porra toda, descobre onde você está e aparece no local como se fosse uma coincidência, promove uma romaria atrás de você, uma verdadeira perseguição. Sua vida vira um inferno e você só pensa em se livrar da tal indigesta sem ser rude ou mal-educada.

Pois então, para essas e todas as outras indigestas, cante, apenas cante, que isso já vai aliviar um pouco sua tensão.

Aos passionais

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