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O fim da identidade de gênero

O homem e a mulher do século XXI podem ser cada um deles masculinos e femininos ao mesmo tempo? Este homem pode usar brincos, colares, rabo de cavalo e camiseta cor de rosa e ser macho? E esta mulher pode ser independente, autônoma, ter sucesso e ser feminina? A maioria das pessoas com quem conversei disse que sim.

Ao mesmo tempo vejo que há um grande antagonismo criado pelo sistema patriarcal. O homem e a mulher ainda são pressionados a exercer seus papéis antigos. Ainda hoje escutamos com uma certa freqüência: “O homem que é macho mesmo não usa rosa, é provedor, tem sucesso, não chora e é namorador. A mulher, por sua vez deve ser delicada, carinhosa, frágil, cheirosa, maternal e administradora do lar”.

Podemos então entender que este homem e esta mulher criados pelo sistema patriarcal são pessoas estereotipadas. Não estão sendo elas próprias, estariam negando seus próprios sentimentos, aspectos de suas personalidades, seus desejos mais profundos para se submeterem às exigências sociais.

Acredito que chegaremos a um ponto em que a diferenciação de gênero não fará mais sentido. As pessoas não serão mais identificadas de acordo com seu sexo biológico; o feminino e o masculino não estarão mais vinculados ao sexo. Como já vem acontecendo, por exemplo, ter um pênis e ter identidade de gênero feminino sem qualquer estranheza.

As mudanças no comportamento do homem e da mulher do século XXI são evidências importantes que mostram o esfacelamento das certezas que definem raças e sexos. Atualmente, certos comportamentos e atitudes tidos como estritamente femininos estão sendo incorporados pelos homens, que hoje ocupam tanto ou mais tempo que as mulheres cuidando da aparência, investem em cosméticos e realizam tratamentos estéticos. Os ditos metrossexuais não se sentem mais envergonhados de realizar rituais diários de beleza e escolher cuidadosamente roupas e acessórios. O mesmo acontece com a mulher atual. Hoje, ela está no mercado competindo, buscando independência financeira e autonomia.

Aos poucos estamos seguindo rumo ao fim da idéia do sexo biológico ser o demarcador do feminino e masculino como divisor social. Uma nova noção de cidadania deve ser construída, eliminando-se preconceitos, discriminação e marginalização daquele que quer ser ele mesmo sem ter que exercer os estereótipos estipulados pela sociedade ocidental.

O masculino e o feminino se constroem e se destroem nas disputas de poder. Nada tivemos, por exemplo, durante décadas sobre as relações de gênero para gays, lésbicas, trangêneros, transexuais, bissexuais etc. As pessoas sofrem tentando construir suas identidades, sexual, e de gênero mediante exclusão.

Na verdade, a diferença entre os sexos é anatômica e fisiológica. De resto, é fruto de nossa cultura. Todo homem e toda mulher podem ser autônomos, independentes ou dependentes, fracos e fortes, dependendo de cada um. O respeito à diversidade e a exclusão de dogmas e mitos sociais nos levará à liberdade de sermos o que realmente queremos ser: nós mesmos. Independentemente de nosso sexo biológico.

* Texto originalmente publicado na edição de dezembro da revista L’Uomo.

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