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“O Pecado da Carne” retrata amor gay entre judeus ortodoxos

Desde que o projeto de lei da câmara 122/2006, que visa criminalizar a homofobia no Brasil, entrou em pauta no senado alguns termos começaram a pipocar na mídia e na comunidade gay. Os mais populares: homofobia, fundamentalismo religioso e pecado, no sentido de que os LGBT são antinaturais.

Portanto, nada mais atual que o filme israelense "O Pecado da Carne", dirigido por Haim Tabakman. O longa retrata o envolvimento homossexual entre dois homens de uma comunidade judaica ultraortodoxa que vive no bairro Meah Shearim, localizado na cidade de Jerusalém.

Aaron Fleshman (Zohar Straus) é um açougueiro e pai de quatro filhos. Aaron leva a sério todos os valores de sua religião e principalmente a Torá, o livro sagrado dos judeus. O seu mundo aparentemente é tranqüilo e equilibrado. As coisas mudam, no entanto, com a chegada do jovem Ezri ( Ran Danker) que, sem trabalho e um lugar para morar, passa a viver em um quartinho do açougue e se torna uma espécie de aprendiz do comerciante.

Logo uma profunda amizade e amor se desenvolvem entre os dois. Ezri está em Jerusalém para reencontrar um namorado. Em uma tarde Aaron segue Ezri e descobre que o seu jovem aprendiz é gay. A partir daí deseja "endireitar" o rapaz e ensiná-lo a controlar seus desejos sexuais. Isso a revelia de seus companheiros da sinagoga que temem que o açougueiro e chefe de família seja desviado pela "sedução do mal".

Mas há um desejo mais forte que a moral religiosa de Aaron. Assim, os dois se tornam amantes e passam longos dias trancafiados no quarto do açougue entregues ao "pecado da carne". A intimidade entre os dois rapazes logo causa certo desconforto entre os pares da religião que passam a vigiar os passos dos dois homens.

Para se ter uma idéia há uma Delegacia da Moral, comandada por jovens que passam a ameaçar Fleshman. Cartazes com acusações contra os dois são espalhados pelo bairro, o açougue é apedrejado e o jovem Ezri é tachado de "criatura maligna e sedutora". Além disso, os outros argumentos são bem conhecidos da comunidade gay brasileira: de que os dois querem acabar com a tradição, desviar as crianças do caminho "correto" e "manchar" a imagem do bairro.

Nada mais oportuno do que a publicação da resenha deste filme que trata de um tema tão delicado – a relação homossexual no seio de sociedades regidas pelo fundamentalismo religioso – justo hoje, quando recebemos a visita do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, que grita aos quatro cantos do mundo que os homossexuais são uma "doença". Os judeus, que são retratados no filme, também estão contra Ahmadinejad, pois este nega o holocausto. Porém, ambos dão as mãos quando a questão é a homossexualidade. Os dois lados acreditam que este "pecado da carne" deve ser dizimado da vida social.

Isso sem falar da sociedade fundamentalista religiosa brasileira que, representados por políticos fanáticos e homofóbicos, tem travado uma "guerra santa" contra o PLC 122/2006 e os argumentos usados são os mesmos que os encontrados no filme e na boca do presidente iraniano.

"Pecado da carne" ainda vai dar o que falar. E não apenas pelo seu conteúdo contestador, mas também pela excelente direção de Tabakman que utilizou fotografia e edição ousadas e bem modernas. A trilha sonora também é outro ponto alto do filme. O longa foi exibido no 17º Festival Mix Brasil, mas se você não assistiu, não se preocupe. Suzy Capó, diretora artística do festival, já anunciou que o filme entrará em cartaz através do seu selo, Filmes do Mix.

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