Após um longo e tenebroso inverno, volto a escrever neste espaço. E não poderia falar de outra coisa a não ser da nova campanha da cerveja Devassa, que escolheu a cantora Sandy para ser sua garota-propaganda.
Muita gente torceu o nariz e considerou uma piada de mau gosto o fato de a angelical Sandy, símbolo do recato nacional, ter topado ocupar o posto da barraqueira e "devassa confessa" Paris Hilton. Mas o que há de estranho nisso? Sandy estaria, enfim, se desvencilhando da imagem de carola construída ao longo da carreira?
Se a função da publicidade é reforçar e subverter, então está mais do que explicada a escolha de Sandy. Como bem disse o criador da campanha, Aaron Sutton, "o óbvio seria ir atrás de outra Paris", acrescentando que o lado devassa de Sandy estaria explicado pelo gosto da cantora por competições de vale-tudo.
Ah, tá. Sandy até pode passar a imagem de menina certinha, mas, na intimidade, quem garante que ela é tão recatada assim? E, cá entre nós, não me interessa nem um pouco saber se Sandy enlouquece os homens na cama. Se a ideia era divulgar a marca e vender cerveja, pois bem, esse objetivo foi alcançado.
Perguntei para alguns amigos publicitários o que acharam da campanha, e eles se dividiram nas opiniões. Uns acharam que Sandy não combina com a imagem da Devassa, outros comentaram que o boca a boca ainda é a melhor maneira de construir a imagem de um produto. Como bem resumiu o escritor Augusto Treppi, "a ideia de Sandy confessar que tem um lado B é muito boa. Afinal, quem não tem?"
Vamos assumir que Sandy não bebe cerveja, é monogâmica e cumpre à risca todas as suas obrigações. Mas não é legal imaginar que nada disso acontece na vida real? Se há um lado verdadeiramente "devasso" em Sandy é sua natureza capitalista: para protagonizar a campanha, ela recebeu a bagatela de R$ 1 milhão.