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Para Toni Reis “enfeite de bolo de casamento gay” é protesto pela União Civil; leia entrevista

Em entrevista exclusiva ao site A Capa, o militante Toni Reis, presidente da ABGLT – Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travesis e Transexuais – falou sobre o caso emblemático da retratação do ator Rodrigo Hilbert, que durante o ensaio para uma apresentação do quadro Dança com Famosos disse que estava “parecendo uma bichona”.

Toni respondeu ainda que considera aceitável o uso da palavra “Bichona” em situações informais dentro da comunidade GLBT, mas que o uso por parte de um meio de comunicação é inadmissível. Para ele “programas humorísticos não podem fazer chacota com as minorias sociais, ou com questões de religião”.

O militante comentou ainda a repercussão do caso na blogosfera gay, onde alguns blogueiros, ao fazerem críticas sobre a “política de retratação” da entidade, disseram que Toni e seu companheiro David Harrod, vestidos de smoking durante as paradas GLBT, pareciam “enfeites de bolo de casamento gay”.

Qual foi a intenção ao enviar à revista DOM e-mail sugerindo retratação do ator Rodrigo Hilbert?
Primeiro, a ABGLT recebe diariamente vários e-mails reclamando de discriminação, de violência, de uso indevido da mídia, etc. A ABGLT tem por norma atender estes tipos de pedido na medida do possível. No caso específico do Rodrigo Hilbert, recebemos uma reclamação que ele usou de maneira pejorativa a palavra “bichona”. 

Dentro do contexto informal de amizades na comunidade GLBT, esse tipo de brincadeira é aceitável, mas por parte de um meio de comunicação como a Globo é inadmissível. Nesse caso as pessoas devem se retratar, e é o que Rodrigo Hilbert fez. Acho que é um processo educativo. Não queremos patrulhar absolutamente ninguém, mas queremos ser respeitados. É só substituir a palavra “bichona” por “preto sem vergonha”, para perceber que seria uma grave discriminação de racismo. Neste momento, pode ser encarado como radical, mas é nesse processo que todo mundo vai aprender. A carta de resposta do ator foi interessante. Temos aí um processo de aprendizagem muito grande entre a militância e os meios de comunicação. Não podemos fazer patrulhamento, mas sim chamar a atenção e se posicionar quando pessoas se sentem agredidas.

A ABGLT já enviou notas de repúdio ou pedido de retratação em inúmeros casos – de declarações homofóbicas de senadores a músicas consideradas ofensivas, como no caso da banda Calcinha Preta. Você acredita que as retratações surtem efeito positivo no tocante ao respeito aos homossexuais? Quais? Você as considera educativas?
Primeiro, é fundamental reconhecer que nessa gestão a ABGLT não tem usado em nenhum momento a palavra “repúdio”, até porque a estratégia de confrontação e repúdio não faz parte do advocacy, que é ser estratégico em tudo levando em consideração que todo opositor pode se tornar um aliado. Desta forma, nestes casos a ABGLT tem se dirigido a essas pessoas de uma forma educada e respeitosa, inclusive às pessoas mais fundamentalistas. Só em casos extremos temos recorrido aos meios legais, o Ministério Público e processos. Tivemos três casos emblemáticos em que as pessoas que fizeram um pronunciamento preconceituoso se tornaram aliadas após o contato feito pela ABGLT.

Paulinho da Força Sindical falou que ecologia era “coisa de veado”. Conversamos com ele e ele gentilmente entrou na Frente Parlamentar pela Cidadania GLBT. Tasso Jereissati chamou outro senado de “boneca”. Fomos falar com ele e ele se retratou publicamente e falou que votaria a favor do projeto de lei que criminaliza a discriminação homofóbica. O senador Gerson Camata falou que quem votou contra a cassação do Renan Calheiros eram iguais a gays dentro do armário. Pedimos a retratação.  Ele não só se retratou, como nos concedeu uma audiência de quase uma hora e meia, conversando sobre tudo que ele tinha feito no Espírito Santo para promover os direitos humanos de GLBT. Com relação à imprensa em geral, a ABGLT se posiciona sempre que são publicados termos com conotação pejorativo em relação aos GLBT, como por exemplo “homossexualismo” (em vez de homossexualidade) ou “opção sexual” (em vez de orientação sexual). Desta forma, o uso de termos pejorativos tem diminuído muito, embora ainda haja casos isolados. Acredito que o papel da ABGLT e das demais redes e organizações GLBT é sempre estar atento e se posicionando. Claro que enquanto movimento muitas vezes podemos parecer radicais ou chatos, mas são os ossos do ofício e a longo prazo todos se beneficiam.

Em sua opinião em que tipo de situações seria permitido o uso do termo "Bichona"? Acredita que o uso do termo seja politicamente incorreto? 
Muitas vezes temos a cultura de estar acostumados a fazer chacota deste tipo dentro da nossa própria comunidade em situações informais. Acredito também que pode ser permitido em situações como palestras quando se usa uma palavra de baixo calão como exemplo. Acho que programas humorísticos não podem fazer chacota com as minorias sociais, ou com questões de religião etc. Tem que haver o respeito e o uso desse tipo de termo não se adeqüa aos meios de comunicação. Sempre quando julgo um caso, eu tiro a palavra “gay”, “lésbica”, “travesti” ou “transexual” e substituo pela palavra “judeu” ou “negro”. Se não cai bem, é discriminação sim. Na minha adolescência a minha mãe me falou que me respeitava, mas que via que eu sofreria por ser homossexual pela forma como a sociedade desrespeita, citando como exemplo a maneira como alguns programas humorísticos retratam os homossexuais.

O que têm a dizer sobre os blogueiros que disseram que você e seu namorado parecem enfeites de bolo de casamento gay?  Você já havia lido alguns dos blogs? Considerou as postagens ofensivas? 
Muito pelo contrário, eu sempre tenho bom humor.  Acho super bacana e a idéia é exatamente essa. Em todas as paradas que somos convidados, pode estar fazendo um calor de 40 graus ou um frio de 5 graus, estaremos vestidos de smoking até que se aprove a lei de união civil no Brasil. É uma forma de protesto bem humorado. 99% das pessoas nos elogiam e entendem, mas além de enfeito de bolo, eu e o David já demos risada diversas vezes porque passamos por situações de pessoas tirando sarrinho do tipo “Garçom, duas pizzas por favor”, “olha os comandantes de avião”. Pessoalmente, temos bem claro que o objetivo é passar uma imagem de diversidade. Tem pessoas na parada vestidas de sunga, com fantasias, e nós vamos de smoking que é um traje tradicional de casamento e levamos os comentários no bom humor.

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