Em 2010 a Senadora Marta Suplicy proferiu a seguinte frase: “O Brasil, que nos anos 90 foi a vanguarda dos direitos aos homossexuais, hoje é notícia de espancamento e está em pleno retrocesso nos direitos para a população LGBT”. Isso foi a dito há dois anos, como sempre, Marta foi visionária, mas acredita-se que nem a mesma imaginaria que nos tempos atuais viveríamos tamanho recrudescimento da direita política aliada as teorias higienistas e fundamentalistas em claro ataque ao Estado Laico e ao corpo dos sujeitos.
No texto anterior comentamos da gravidade da nomeação de um pastor assumidamente homofóbico para o ministério da Pesca. Por mais que a pasta seja inócua, ao se nomear um pastor para tão alto cargo joga-se por terra a Constituição que é Laica. E neste semana tivemos mais um exemplo grotesco do avanço do projeto teocrático para o Brasil, quando a bancada fundamentalista festejou em pleno Plenário os 100 anos das Assembleia de Deus, com direito a deputada cantando com playback. Choca mais ainda saber que nenhum parlamentar foi à tribuna reclamar de tal acinte e muito menos defender a laicidade de nosso Estado.
Outro exemplo foi o pronunciamento do atual ministro da educação, Aloizio Mercadante (PT-SP), que declarou os materiais didáticos de combate à homofobia não serem úteis para o combate à discriminação nas salas de aulas. Disse que é preciso criar um clima de combate à intolerância… Ora ministro, e qual é a função dos materiais senão essa? Como se combateu o racismo nas salas de aula? Com peça de teatro é que não foi. Tem de ser um trabalho pedagógico e contínuo.
Para além de um projeto religioso, um projeto político
De cara podemos dizer que todas estas ações não passam de uma confusão entre espaço religioso e espaço político, Laico por excelência. Porém, a questão é mais delicada, estamos de frente para um projeto político que nos remete à Sociedade Disciplinar que reinou entre os séculos XVIII, XIX e começo do século XX, onde os atores que visavam o controle dos corpos eram visíveis e constantes. Desde os anos 50 passamos para a Sociedade de Controle, onde o governo das mentalidades se dava por meio de aparelhos virtuais.
Nesta primeira década do século XXI toda a “sutileza” das políticas higienistas e de controle foram destruídas, ou estão sendo, e os agentes que desejam uma sociedade “limpa”, “saudável”, que não fuma, que não se droga, que não aborta e que não possui sujeitos que se relacionam com sexos iguais perderam a vergonha e lançaram o seu projeto. Segue quem quer. Porém, tal fato significa um retrocesso de dois séculos e pior, com o apoio do governo federal representado pela primeira presidenta da história do Brasil. E mais, Dilma Rousseff, que sofreu na pele todas as aviltações em termos de direitos humanos, deveria ser a primeira a conter a sanha fundamentalista e sair em defesa da questão de gênero. Mas não, prefere o voto fundamentalista ao invés de um Brasil verdadeiramente laico e democrático.
Além de todo este cenário de complacência do Executivo Federal para com estes grupos, que fazem parte da base governista, tais organizações adoram dizer que a comunidade e os grupos políticos ligados a questão LGBT querem impor uma “ditadura comportamental no Brasil”. Frente a todos estes ataques, a realização de louvor em pleno Congresso Nacional, projeto de lei que visa permitir que psicólogos “curem gays”, material pedagógico de combate a homofobia nas escolas vetado, ou seja, todos os espaço políticos contaminados por uma ideologia fundamentalista teocrática, vale perguntar: que grupo, de fato, quer impor o comportamento único no Brasil?