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“Quero inclusão para travestis”, diz Brigitty Andrade candidata a vereadora em Jandira

Natural de Jandira, moradora do Bairro de Sagrado Coração, a transexual Brigitty Andrade, se diz pronta para assumir o cargo de vereadora pelo PT em sua cidade. Simpática, engajada e com a certeza do que quer, ela respondeu as perguntas do A Capa com convicção.

Cheia de propostas, ela falou também do preconceito e das dificuldades de ser transexual em uma cidade pequena e repleta de igrejas evangélicas. Durante a entrevista, a candidata afirmou que em Jandira todas as travestis "trabalham com sexo" e afirma querer mudar essa realidade por meio de um Centro de Referência.

Como você entrou para a política?
Teve uma votação no bairro onde eu moro para o Conselho Gestor de Saúde e eles me escolheram como representante. Quando eu assumi [o cargo de representante] já participava de cargos de militância do PT.

Como foi o seu trabalho a partir de então?
Como era aceita pela sociedade, resolvi fazer minha primeira ação. Fiz uma palestra sobre DSTs e um sarau. Os adolescentes faziam perguntas. Foi muito gratificante. As minhas festas comunitárias sempre tinham um objetivo. No primeiro ano, a quermesse foi para ajudar um menino deficiente, no segundo para ajudar famílias pobres. Também converso com mulheres e as levo para fazer papanicolau.

Qual o objetivo de sua campanha?
É uma cidadania sem homofobia e fazer os LGBTs terem consciência de seus diretos e deveres.

Quais são suas propostas?
Minhas principais propostas para segmento LGBT são desvincular a Divisão de Combate ao Racismo e Gênero da Secretaria de Ação Social e criar o Centro de Referência LGBT, com atendimento jurídico, assistencial e psicológico. Resgatar a cidadania dos LGBTs idosos, pois eles são muito esquecidos. Criar também ações educacionais com professores e o Conselho Tutelar, dando formação e capacitação com cursos para eles saberem lidar com a questão da orientação sexual e de gênero, além de criar e formatar palestras dinâmicas na questão das DSTs, realizando a promoção da saúde em todos os segmentos, principalmente em relação às lésbicas, que precisam de mais orientação. Contribuir para a cidadania das transexuais, aumentando sua auto-estima e as trazendo de volta para o ambiente escolar para terem formação digna e cumprir seu papel dentro da sociedade. Trazer conhecimentos de leis, divulgando sempre todas e usando como base.

Como é a vida das transexuais em sua cidade?
Aqui todas as travestis trabalham com sexo. Quero garantir a elas a inclusão social, através do Centro de Referência. Vou criar um projeto para aumentar o número de agentes de saúde LGBT,  chamar as meninas que trabalham na noite para fazer um trabalho de saúde, psicológico e fazer com que elas saiam da prostituição e entrem no mercado de trabalho.

Como é sua aceitação?
Eu apanhei muito. A cada pancada que levava eu pensava ‘não vou me marginalizar’. Hoje, tenho uma postura digna de transexual e as pessoas me respeitam. Converso com pai, mãe e com as crianças. Tenho até um fã clube de meninas de 5 a 10 anos.

Como vivem os gays em sua cidade?
Muitos morrem à mingua. A partir de 2000, houve muitos atos homofóbicos. Em 2004, durante campanha, militantes de outros partidos saíram às ruas com lingüiças nas mãos, queriam tirar gays e lésbicas da pefeitura e tirar a Divisão de Combate ao Racismo e Gênero. Lésbicas apanhavam na porta de bares. Em 2002, havia muita agressão na porta de um bar gay. Isso acontecia pois tinha baderna dos gays de fora. Com a lei seca isso melhorou bastante. Acontecia também agressão seguida de morte em frente ao Ginásio de Esportes. De vez em quando estouram chacinas relâmpagos. Teve um mês com 11 assassinatos.

Como é a Parada gay na sua cidade?
É preciso reformular as Paradas. Minha amiga, Paulety Tech, promovia todos os anos, o ‘somente elas’ – evento que acontecia durante a Parada-, sempre com temas diferentes e espetáculos de transformistas que deixam uma mensagem. No entanto, ela decidiu não fazer mais parte de eventos de militância. Temos problemas, esse ano aconteceu agressão durante a Parada.

Apóia algum candidato a prefeito em sua cidade?
Sou fiiada ao PT. O candidato Brás Paschoalim, do PSDB é homofóbico e diz que vai tirar os gays do poder. O Beto, presidente do PT,  me emprestava a sede do partido para debater com a comunidade LGBT. Vou apoiar o Paulinho Bururu, ele é um amigo de todos nós.

Por que deve ser eleita?
Eu faço política desde 1994 e minhas propostas também são relacionadas à mulher. Eu me preocupo com a saúde e tenho amizade com quem está no poder e isso pode ajudar a concluir os projetos. Também vou lutar pela questão racial. Tenho a cara do meu bairro. Eu sei das necessidades LGBT da minha cidade.

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