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Rubros

Se um homem está com problemas, o outro o chama para ir ao bar, beber e afogar as mágoas. Para jogar futebol. E por que não sair com algumas mulheres? Sim, no óbvio mundo masculino algumas ações são tão rotineiras que viraram clichê.

Entre duas mulheres a relação é bem diferente. Sensíveis, emotivas e inteligentes, elas entendem e se entendem mesmo quando rivalizam pelo mesmo homem, o melhor figurino, no trabalho, no lar etc. “Rubros: Vestido – Bandeira – Batom”, da Cia. Bárbara, participou da Mostra Contemporânea de Arte Mineira realizada entre os dias 18 e 23 de novembro no Sesc Pompéia, e revelou ao público paulista a dramaturgia de Adélia Nicolete, mulher do dramaturgo Luiz Alberto Abreu.

Helô e Teresa são duas amigas quarentonas com maneiras bem diferentes de lidar com a realidade e encarar a vida. Embora 20 anos de amizade marque a ferro o cotidiano de ambas, os caminhos são opostos e paralelos.

Teresa lutou pelos seus ideais, fez o que lhe veio à mente, teve filho, imprimiu suas idéias e em virtude de uma tragédia na sua vida, se tornou fatalista, reclusa e perdeu o ânimo de viver.

Helô não casou, não teve o homem que amou e nem filhos, mas nem por isso se acovardou perante a vida e como ela mesma diz, não “esqueceu” suas dores, apenas “relevou”, afinal, não é “nem burra e nem santa” e carrega com estilo sua cruz, já que lhe é inevitável.

Essas duas singularidades são postas cara a cara numa espécie de “lavagem de roupa suja” – gíria usada para nos referirmos aquelas verdades e/ou sentimentos abafados que por vezes “jogamos” na cara dos amigos. Como numa tentativa de salvar a relação, de não ser corroída por sentimentos daninhos e nefastos.

Sim, Teresa vive com a sensação de não ser nada na vida, que vive num país que não havia sonhado, que já bancou a impulsividade de seus próprios ideais e sua tendência a mergulhar no escuro; Helô é o oposto. Certinha, metódica, mascarada – termo usado aqui no “bom sentido”, para se referir ao uso constante de maquiagem da personagem – e bem humorada.

Helô tem uma atitude perante a vida e os problemas de forma mais positiva. Já que ninguém é perfeito e consegue ser bom em tudo, encara com leveza os problemas diários, inclusive aceitando que um pouco de futilidade e superficialidade faz bem pra saúde. Vida e morte, esperança e desconsolo, vermelho e sangue, riso e amargura, respirações e olhares vagos permeiam a vida de duas amigas que provavelmente não deram certo na vida. E quem deu?

Viram seus sonhos, suas perspectivas e suas fantasias irem por água abaixo com o passar dos anos. E como tem coisas que se repetem infinitamente, passam noite e noites juntas, tentando salvar a si mesmas. A ação se passa na véspera ao aniversário de Helô, que se depara com uma amiga suicida. Esse choque de vontades e vidas e idiossincrasias fazem de “Rubros…” uma peça imperdível, quando pensamos na relação estabelecida entre as mulheres… e porque não entre os homens, e porque não homens e mulheres.

Graças a Deus a amizade não nos divide em gêneros e “Rubros…” é uma prova simbólica que amizades são tão trabalhosas e às vezes mais recompensadoras que relacionamentos amorosos.

Rita Clemente soube tirar proveito das particularidades de suas atrizes e pontuou com muita sensibilidade trechos do texto, que poderiam soar datados e/ou “déjà vu”.

A peça foi destaque na Mostra Fringe de 2008, em Curitiba, pois não há como não se identificar com a amizade das duas. E se por acaso você já se deparou querendo guardar um objeto do amigo, para assim tentar em vão mantê-lo por perto, prepare-se, “Rubros: Vestido – Bandeira e Batom” se tornará inesquecível.

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