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“Teremos que ir ao Uruguai para casar”, diz Carlos Tufvesson

Carlos Tufvesson está entre os estilistas mais bem sucedidos do Brasil. Há cerca de dois meses o moço passou uma semana no programa ‘Mais você’, de Ana Maria Braga, como orientador em um concurso de moda. Um fato que difere Carlos da maioria dos estilistas é que além do talento com a agulha, Tufvesson é engajado politicamente e sempre que pode toca no assunto quando participa de programas televisivos que, para ele, funciona e faz com que a dona de casa entenda melhor que "não pode chegar e falar, ‘seu viado, sai daqui’".

Carlos nos recebeu no espaço Casa Moda, onde há um show room com suas peças e conta que já está produzindo coisas para "daqui a três meses". Na entrevista ao A Capa, o estilista fala sobre o seu projeto "A moda na luta contra HIV" que realiza trabalhos de combate à Aids em parceria com a Sociedade Viva Cazuza. É claro que a conversa se estendeu e, além da campanha e de moda, falamos de política. "No Brasil não existe um partido pró-LGBT, o que temos são parlamentares que abraçam a causa", dispara Tufvesson. Confira a seguir a entrevista na íntegra.

Para começar, gostaria que você falasse do seu projeto "A moda na luta contra o HIV".
O projeto faço há sete anos sempre em função do 1º de dezembro que é o dia da luta contra Aids. Por que? Há mais ou menos dez anos o índice de contágio entre as mulheres era muito grande e naquela época, e na verdade até hoje, permanece no inconsciente coletivo. Entre os técnicos e entre nós militantes da causa isso não era muito falado.

Como você iniciou a abordagem pública?
Eu trabalho com o público feminino e assim todo dia 1º de dezembro na minha loja a gente fazia um evento para distribuir a fita vermelha com uma camiseta que era vendida para uma instituição de caridade que cuidava de crianças soro positivas. A Lucinha Araújo [mãe de Cazuza] sempre me indicava qual era a mais séria para fazer a doação, pois eu conheço a Lucinha há muito tempo.

Vocês são parceiros?
A Sociedade Viva Cazuza vive e sempre viveu dos direitos autorais do Cazuza e de verbas que ela recebia. Agora, nem a Viva Cazuza está com grana, essa é uma realidade. De três anos para cá estamos fazendo a campanha para o Viva Cazuza também. Chamei a Associação do Bairro Ipanema para encampar comigo essa campanha porque é o seguinte: o meu interesse era que o laço vermelho estivesse numa seqüência de vitrines, e isso é muito legal para a pessoa olhar e pensar: ‘a cura não existe, tem que usar o preservativo independente do que os grupos religiosos falam’.  Se eles pregam a abstinência sexual, não devem se manifestar a respeito do sexo.

Vocês tiveram apoio nas campanhas?
Na primeira campanha nós tivemos um super apoio e foi crescendo. Esse ano a gente contou pela primeira vez com o apoio do Governo do Estado e aí no dia da campanha nós tivemos uma super surpresa. O secretário de Saúde assinou um convênio com a Viva Cazuza que está há cinco meses com déficit de fechamento e não consegue fechar as contas e, melhor, o prefeito eleito, Eduardo Paes, estava lá e já garantiu a campanha para o ano que vem e também disponibilizar uma verba da prefeitura para o Viva Cazuza. Então, além da visibilidade, isso foi muito importante pois vai permitir que o trabalho de Lucinha continue. É um trabalho lindo, sério e estava com risco de terminar.

Você esperava que o governo Sergio Cabral fosse tão pró-LGBT?
O Sergio era aliado desde que foi deputado estadual, a maioria das leis que têm no Rio de Janeiro foram feitas por ele e pelo [Carlos] Minc [atual ministro do Meio Ambiente]. Sergio sempre foi um lutador pela questão dos direitos humanos e pela terceira idade. Ele era conhecido por ser o deputado da terceira e dos direitos civis. A lei que ele regulamentou enquanto governador – que garante direitos previdenciários aos parceiros do mesmo sexo de funcionários públicos – foi elaborada enquanto ele era deputado estadual, então não era uma novidade.

Além de estilista, você atua bastante com ativismo político em prol dos direitos LGBT, como você vê o movimento atualmente?
O Sergio como senador fez uma PEC  (Proposta de Emenda à Constituição) que para mim e, de acordo com advogados que sempre acompanham, era a melhor solução para a questão da união civil, porque ela mudava o artigo da constituição onde a união civil se diz para homem e mulher. Se esta emenda passasse ia ser retirado o masculino e feminino. Na época, tinha o apoio do PFL através do senador Jorge Bornhausen (DEM) e se  tivesse sido apoiada pelo movimento essa PEC ia regulamentar todas as outras leis ordinárias. Então, a gente não precisaria estar regulamentando a lei do funcionarismo estadual. Parte do movimento não apoiou porque a emenda era do PMDB, essa é a grande verdade. O Sergio chegou a cogitar passar a autoria para uma senadora do PT, que na época era a Serys [Slhessarenko], para o movimento encampar essa proposta.

A que você remete essa postura?
O que movimento não entende é que existe um custo político para defender uma causa, não é uma coisa que traz votos, nós estamos vendo que nenhum militante foi eleito. A Iara Bernardi (autora do PLC 122) não foi reeleita, o [deputado Luciano] Zica não foi reeleito. No Rio de Janeiro, a Alice Tamborideguy não foi reeleita, a Laura Carneiro, que sempre teve atuação parlamentar em prol de nossos direitos, idem. Foram ambas proibidas de subir no carro da parada também e elas lutaram a vida inteira por uma causa. É assim que o movimento "agradece" o apoio dos parlamentares que nos apóiam.

É um problema de partidarismo então?
O movimento social tem que estar acima das questões políticas. Se a senadora Fátima Cleide faz um discurso lindíssimo, como ela fez defendendo o PLC 122, uma das falas mais belas do Senado defendendo a gente de uma maneira brilhante, eu aplaudo de pé. A mulher luta pela gente, palmas a ela, independente do partido.

Então você acredita que essa questão de partido no Brasil atrapalha na conquista de direitos? 
Não tenho dúvidas quanto a isso. Na verdade, não existe um partido que seja pró-LGBT, existe parlamentares que são pró-LGBT. Em cada partido você vai encontrar deputados que vão estar a nosso favor, mas um partido como um bloco não tem.

Como assim?
Para você ter uma idéia, quando a Marta colocava o seu projeto (união civil entre pessoas do mesmo sexo) para votação, o PT saía do plenário. A Marta teve que tirar três vezes da votação por falta de quorum. Mas, aí não é uma questão do partido, são deputados que estão ligados a bases mais conservadoras e ele não vai contra a base dele.

E sobre a união civil?

Cara, a gente está discutindo isso há treze anos, o projeto é de 1995 e agora tem três países na America do Sul que aprovaram sem nunca ter discutido.

E Cuba está discutindo leis às transexuais.
Eu sei, e não é uma loucura? Cuba mandava os gays para o paredão. A gente tem um governo pró-LGBT há seis anos, ele dá verbas para o movimento e mesmo assim não acontece. Não falo isso para uma richa, porque isso não me interessa. Eu só quero ver os meus direitos reconhecidos e a gente não consegue sair desse reme-reme. 

Você acredita que o PLC 122 será aprovado?
Se não mudarem o texto, não será aprovado. O problema aí é que o movimento tem uma péssima comunicação, seja com a imprensa… eles não sabem comunicar. Por exemplo, estive durante uma semana no programa ‘Mais Você’, da Ana Maria Braga, sempre que podia falava do PLC 122. No dia do Orgulho Gay consegui 16 minutos, aí outro dia um cara veio me dizer que falar

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