Em setembro, o jornal Folha de S.Paulo divulgou o resultado de um estudo intitulado 'Mosaico 2.0' que trouxe detalhes pertinentes sobre o comportamento sexual das pessoas, de acordo com sua orientação sexual. Um dado em particular, entretanto, salta aos olhos e merece melhor aprofundamento.
Segundo a psiquiatra responsável pelo estudo, Camila Abdo, da Universidade de São Paulo (USP), hoje em dia, "o homossexual quer casar e ter filhos", contrapondo o senso comum de que nós, homossexuais, optamos por um estilo de vida "mais livre" em detrimento de outro mais tradicional.
É fato que o casamento ainda é visto como uma imposição social, principalmente entre heterossexuais. A consumação cristã de uma família tradicional.
Nesse sentido, LGBTs subvertem o conceito religioso da mulher para o homem e vice-versa. Ainda, nós LGBTs por estarmos desalinhados a essa norma somos vistos como pessoas cujo comportamento é mais livre, desprendido de tais valores. Aqui me refiro a pressupostos, não "verdades".
Também é fato que, por séculos, o sexo gay e todas as questões afetivas de casais formados por pessoas do mesmo sexo sempre foram criminalizados pela sociedade, visto como algo imoral, impuro, não cristão.
Hoje em dia, embora o preconceito ainda seja uma constante, é inegável que o cenário mudou um pouco. Direitos básicos como seguridade à união estável e adoção de casais homoafetivos são, judicialmente, legais. Com isso, é normal que ocorra uma mudança de comportamento na atitude dessas pessoas.
A partir do momento em que a justiça reconhece dois homens e duas mulheres como um casal, a gente passa a "existir" (não estou dizendo que precisamos desse reconhecimento para existirmos e sim que ele é importante na conquista de direitos). Então, passamos a ter outro olhar e visão das coisas como, inclusive, o desejo em formar famílias.
Há sim muitos LGBTs que refutam essa ideia por associar casamento, família e filhos, a um padrão de vida heterossexual. Entretanto, é preciso desconstruir essa (in)verdade. O matrimônio é um direito que qualquer cidadão, independente da orientação sexual, deve ter e, se quiser, usufruí-lo.
A gente precisa compreender que tudo é uma construção social. Essa imagem higienizada dos heterossexuais é fictícia e construída para fazê-los superiores e melhores em relação a nós LGBTs que, ao contrariarmos a bíblia, nos tornamos "impuros" e somos jogados à margem da sociedade, alijados.
Não há nada de errado em homoafetivos querer casar e construir um lar, uma família moderna, como é chamado. Do mesmo modo, é natural que héteros não queiram esse modelo de vida a eles, outrora, imposto.
Se nós gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros insistimos em dizer que somos normais porque sim, nós somos!, então o que há de errado em querer casar?
Volto a dizer: é necessário se desprender dos estereótipos que a nós, LGBTs, foram atribuídos. Não há nada de errado em querer viver uma vida pacata a dois, do mesmo modo, em que é supernormal optar por levar uma vida livre, solteiro.
Tiago Minervino – editor-chefe A Capa