Depois de divulgar um áudio em que nega ter sido torturada pela polícia, a travesti Verônica Bolina – acusada de bater em uma senhora, em São Paulo, no último domingo (12), e que se tornou notícia por aparecer em imagens com o rosto desfigurado e seios à mostra – afirmou que foi agredida por policiais militares e agentes do Grupo de Operações Estratégicas em três momentos.
A versão foi noticiada pelo Conselho de Cidadania LGBT, por meio de uma nota enviada na noite de quarta-feira (15).
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A nota informa: "(Ela) declarou à nossa equipe ter sofrido agressão em vários momentos por parte de policiais militares e de "preto", fazendo referência aos agentes do Grupo de Operações Estratégicas (GOE) ocorridas no momento de sua prisão, durante o episódio em que atacou o carcereiro da policia civil por conta de uma troca de cela e no Hospital Mandaqui quando do atendimento médico".
Em declaração ao jornal Folha de São Paulo, as defensoras públicas Vanessa Vieira e Áurea Maria Manoel, do Núcleo de Combate à Discriminação da Defensoria Pública, disseram ver indícios de agressão. "O Estado tem que conter, mas não extrapolar na força", declarou Vieira. A Secretaria de Segurança Pública informou que está investigando o caso e o vazamento das imagens da presa seminua em sites policiais.
A repercussão do caso surgiu depois que a grande mídia noticiou a suposta mordida que a Verônica deu em um carcereiro em uma transferência de cela. Paralelo a isso, fotos da travesti com o rosto desfigurado por agressões, com os seios à mostra e com as roupas rasgadas foram divulgadas nas redes sociais. Elas provocaram denúncias de abuso de poder e uma campanha na internet chamada #SomosTodasVeronica, que pedia tratamento baseado nos Direitos Humanos.
Verônica foi presa em flagrante, acusada de tentativa de homicídio, dano qualificado, lesão corporal, desacato e resistência. "Não queremos inocentá-la das acusações, mas queremos que ela pague pelos crimes baseados na Justiça e não na agressão", diz uma amiga, que preferiu não se identificar.
POLÍCIA DIZ QUE NÃO AGREDIU
Na matéria da Folha de São Paulo desta quinta-feira (16) a policia do 2º DP (Bom Retiro) também deu uma versão diferente e declarou que não agrediu Verônica. As agressões teriam sido feitas por outros presos, que se sentiram incomodados com ela se masturbando na cela. A polícia ainda diz que Verônica mordeu a orelha do carcereiro que entrou sozinho na cela para ajudá-la.
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"Quem lesionou a cara dele (sic) no soco foi a vítima (o carcereiro), que perdeu a orelha. Não foi porque era travesti", declarou o delegado Luis Roberto Hellmeister.
MUDANÇAS NO CASO
O Centro de Cidadania LGBT informou que Verônica será transferida para um Centro de Detenção Provisória e que atualmente se encontra em uma cela individual. "Ela tem garantido o uso de roupas femininas e peruca de uso próprio, respeitando a sua identidade de gênero".
O Centro diz ainda que presta assessoria jurídica e psicológica à mãe de Verônica, realiza interlocução com a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, vai encaminhar denúncia às ouvidorias das polícias militar e civil, vai manter interlocução com a Defensoria Pública de São Paulo para garantir o direito à ampla defesa e também realizará intervenção para que o respeito à identidade de gênero seja respeitado, baseado na resolução do Conselho Nacional à Discriminação LGBT e do Conselho Nacional de Polícias Penitenciárias e Criminais.
Além disso, o Centro vai notificar os meios de comunicação que veicularam de forma desrespeitosa a identidade de gênero e os direitos humanos de travestis e transexuais no caso. No programa Brasil Urgente, da Band, por exemplo, trataram Verônica como "Traveca Tyson".