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Boicote a Claudia Leitte revela falta de foco do movimento gay

Há duas semanas o meio gay teve conhecimento do deslize verbal da cantora Claudia Leitte que, ao ser ‘entrevistada’ por Léo Áquila, foi indagada se gostaria de ter um filho gay. A loira respondeu que não, que "adora" os gays, mas prefere que o seu filho "seja macho". Pronto, filé mignon para certos espaços da mídia e da política. Logo a moça foi taxada de homofóbica, reacionária e daí pra baixo. O bafo foi tão além que ela teve que fazer um post em seu blog para explicar. Enfim, esse assunto já deu, ou eu pensava que já tinha dado, mas…

Abro lindamente o meu email e vejo: "Manifestação" contra a cantora Claudia Leitte. Fiquei BEGE. Primeiro por se tratar de uma iniciativa de um grupo que eu considerava sério, acho que terei que rever algumas coisas. Fiquei puto, ou melhor, passado. O PLC 122 está sendo degringolado no Senado pelas bancadas fundamentalistas, os parlamentares diariamente se pronunciam contrários e de forma contundente contra os nossos direitos, e o que os grupos organizados fazem? Praticamente nada. Imagina, manifestar contra a Claudia Leitte é o que há.

Parece que ficou difícil entender o que há por trás da declaração da moça. Levanto o seguinte questionamento: pergunte a qualquer mulher grávida se ela deseja que o seu filho seja homossexual. A resposta será muito clara: não. E todas serão homofóbicas? A resposta também é não e, para compreender, é  preciso de um pouco de boa vontade e exercício com os neurônios. A fala de Claudia Leitte reflete algo que é muito obvio, ou deveria ser para a militância, pelo menos para boa parte dela que se acha dona da verdade e progressista. Sendo assim, a afirmação "adoro os gays, mas prefiro o meu filho macho" é o reflexo da heteronormatividade que foi internalizado na cabeça de Claudia desde que ela era uma criança e isso serve para outras coisas, tipo: comer com garfo, cagar e limpar a bunda, urinar e se secar, escovar os dentes, falar bom dia. Parece besta, mas não é, somos programados desde crianças.

Aí esperam que Claudia, aos 20 e poucos anos, inverta todos os seus valores. É impossível, mesmo as pessoas LGBT sofrem com isso, pelo menos na fase de entendimento quanto a sua orientação sexual. Não, ela não odeia os gays, culturalmente ela foi fabricada para perpetuar a heteronormatividade, talvez aí ela realmente tenha cometido um engano, mas como bem diz Edith Modesto, "as mães não são preparadas para ter filhos homossexuais". Filho homossexual para uma mãe na atual sociedade é significado de humilhação, negação de direitos, possível assassinato por intolerantes, piadas alheias e por aí vai. Portanto, esperavam o que? "Sim, quero o meu filho gay". Mas nem em uma cidade como Barcelona escutar-se-á tal declaração. É muita ingenuidade ou oportunismo, fico com o último.

Só quero ver em 2009 se os grupos estarão mobilizados quando o PLC 122 for a votação, se a esta altura já fazem algo ou apenas ficam atrás de adesões para a tal Frente Parlamentar pela Livre Expressão Sexual, que se sabe, no mundo real são uns poucos que verdadeiramente se importam com a questão. Parece-me oportunismo e dos baratos se organizar tal manifestação, por quê? Oras, fazer um ato contra uma cantora que está em voga é publicidade na certa, pois, nem as pessoas que organizaram acreditam nisso. Só que assim cada vez mais o movimento social LGBT se afasta do mundo real e cria inimizade com a sociedade. Mais importante que boicotar uma cantora é nós organizarmos, sociedade civil e movimento social, para existirmos e vivermos em um Estado laico real e não este fantasioso. Depois não sabem porque os espaços políticos andam tão esvaziados.

Leitor fala sobre machismo e papéis de gênero no meio gay

Pousada Vila West