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Cena clássica com o primeiro casal gay das novelas brasileiras cai na rede; assista

Muito se comenta atualmente sobre os casais gays das novelas brasileiras. Praticamente toda novela que se preza tem um casal homossexual ou pelo menos um personagem gay. E aumentam as cobranças: casal já é banal, hoje o público quer mesmo é ver o eternamente aguardado beijo gay na telinha – exigência feita hoje aos gays de "Ti-ti-ti", no ar às 19h.

Mas houve um tempo em que não existia nada, nenhum vestígio de homossexualidade nas novelas nacionais. Personagem gay, nem pensar. Beijo então, muito menos. Os obstáculos eram a caretice do público e, claro, a agressividade da censura – ainda regida pela ditadura militar que comandou o Brasil entre 1964 e 1985.

Felizmente, a inteligência e perspicácia dos nossos autores conseguia, com muita sabedoria, driblar a burrice da censura, e colocar no ar um casal gay, sim. E o primeiro deles, como já foi registrado algumas vezes, aconteceu na novela "O Rebu".

Exibida no horário das 22h, entre novembro de 1974 e abril de 1975, a novela foi escrita por Bráulio Pedroso (1931-1990), com direção de Walter Avancini (1935-2001), e contava a história de uma grande festa de gala, abalada por um assassinato. Detalhe: a novela inteira se passava somente na noite da festa e na manhã seguinte, tudo entremeado por flashbacks de cada personagem. E mais: o público não sabia nem quem tinha matado, e nem quem tinha morrido.

E era nessa morte que estava infiltrada a trama gay da história. Na metade da novela, descobria-se que a vítima era a jovem Sílvia (Bete Mendes). E no final, a revelação: ela foi assassinada pelo dono da festa, o misterioso milionário Conrad Mahler, interpretado pelo grande ator e diretor polonês Ziembinski (1908-1978). O motivo: o velhote tinha ciúmes do namoro clandestino entre Sílvia e Cauê, papel de Buza Ferraz (1950-2010).

Cauê era um garotão que vivia na mansão de Mahler, como uma espécie de "afilhado". Naturalmente, o autor tentou passar a mensagem de que havia mais entre os dois homens do que uma relação de "pai e filho". Era mesmo um romance, com todas as características passionais envolvendo a união de um quase-michê e um homem idoso e solitário – uma "maricona", ainda por cima, milionária.

Na época, em plena metade dos anos 70, o assunto passou de forma totalmente velada, sem que dessem nome aos bois. A imprensa certamente não comentou tal subtexto, e provavelmente pouca parcela da plateia notou. Mas, hoje, com todas as referências gays que já são de uso comum na TV e no cinema, ao se rever uma das cenas de "O Rebu", fica explícita a conflituosa relação entre Cauê e Mahler.

E tal cena está no YouTube, mostrando a dificuldade de Cauê em se dividir entre a atração que sente por Sílvia, e suas obrigações para com seu "protetor" Mahler. Na direção dos atores, na interpretação marcante de Buza e Ziembinski, no trabalho de câmera – que cria ângulos bastante homoeróticos -, enfim, por toda parte exala a questão gay que a história buscava contar.

Em 1975, quem era "bom entendedor", entendeu. Quanto a nós, em 2010, fica fácil perceber tudo. Confira a cena a seguir. Há 35 anos, direto do Túnel do Tempo…

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