Menu

Conteúdo, informação e notícias LGBTQIA+

in ,

Conheça Abricó, a primeira praia de nudismo do Rio de Janeiro

PARAÍSO NATURAL

Se o Jardim do Éden fosse no Rio de Janeiro, com certeza, este local seria Abricó – praia com ar de quase deserta, localizada a 50km do centro da cidade e paraíso dos filhos de Adão e Eva, literalmente.

Desdenhado por alguns e freqüentado por muitos, o local – que vive cheio nos fins de semana – é ótimo até para quem não gosta de andar “peladão”. Apesar dos preconceitos e mitos, o naturismo – trocadilhos à parte – é muito mais natural e normal do que parece. A prática surgiu no início do século XX, na Europa. No Brasil, especula-se que seja bem mais antiga e tenha começado com índios antes mesmo do descobrimento.

Histórico
Mesmo freqüentada por naturistas desde a década de 60, a praia de Abricó só foi liberada oficialmente para a prática de nudismo em 30 de novembro de 1994, após uma liminar concedida na justiça. Uma semana depois, no entanto, o naturismo voltou a ser proibido. “Entraram com uma ação alegando que as pessoas tinham o direito de não encontrar ninguém nu, por mais distante que fosse a praia. Abricó ficou famosa por causa do nudismo. Da noite para o dia, todo mundo resolveu dizer que freqüentava a praia há anos”, diz Pedro Ribeiro, 50 anos, presidente da Associação Naturista de Abricó (ANA).

Depois de um vai-e-vem intenso de proibições e liberações, em 2005, o Superior Tribunal de Justiça oficializou o naturismo na praia. A prática vem sendo mantida, desde então, graças à associação e seus 400 filiados. Segundo Pedro, o objetivo maior é “integrar as pessoas” e “fazer valer as condutas éticas da filosofia do naturismo”.

O perfil dos freqüentadores
A idade média de quem freqüenta Abricó varia entre 30 e 50 anos. Há de tudo: casais, crianças, famílias, grupos de amigos. “Abricó é diferente, porque aqui é permitida a entrada de pessoas desacompanhadas. Em outras praias, só se pode entrar com uma companhia feminina para haver equilíbrio de sexos. Como é grande a quantidade de homens, isso acaba atraindo muitos gays”, revela Pedro que diz já ter visto, inclusive, travestis por lá. O nudismo é obrigatório somente nos finais de semana, quando os naturistas lotam a praia.

Nos outros dias, qualquer envergonhado de sunga ou biquíni pode entrar. “Estipulamos isso porque recebemos visitas de gente que só vem olhar quem está nu e, às vezes, tem um comportamento não muito agradável. É uma curiosidade que não é saudável”, critica Pedro.

Para reunir as pessoas, são promovidos diversos tipos de confraternização no local, como festas para aniversariantes do mês, campeonatos de vôlei e gincanas ecológicas. O motorista Erasmo**, de 51 anos, freqüenta a praia muito antes de sua legalização, há mais de 15 anos. O que mais o motiva é a sensação de liberdade. “Somos uma família, todos se conhecem. Aqui a gente deixa os pertences tranqüilamente sozinhos. Também não tem disputa pelo espaço na areia”, afirma.

Já o mineiro Roberto Carlos, 25 anos, freqüentador há apenas seis meses, confessa que a motivação veio pela curiosidade. “Eu queria saber se era legal, se teria coragem de ficar nu. A primeira vez foi complicada, mas hoje me sinto como se estivesse numa praia normal”, diz.

Wanderléia, 43 anos, é uma das pioneiras em ter uma barraca de alimentos na praia. Ela trabalha com o marido há 4 anos no local. “As pessoas aqui têm outro comportamento, são mais civilizadas. Eu não tenho aborrecimentos, todos são amigos”, relata Wanderléia, que se gaba do alto rendimento e também organiza eventos na praia. A barraca vende biscoitos, refrigerantes, vários tipos de cerveja, além de sanduíches e cachorro-quente a um preço médio de R$2,50. Outro assíduo freqüentador, o representante comercial Raul, 39 anos, diz que a maior vantagem é a privacidade. “Aqui é ótimo, o público é mais restrito e não tem aglomeração”.

No Rio há dois anos, o paraense Ronnie, 35 anos, revela porque prefere freqüentar Abricó e não a Farme de Amoedo, onde mora, em Ipanema. “Eu não sou uma pessoa de corpo fenomenal para ficar mostrando. Então, eu venho pra cá. Não tenho massa muscular, só cérebro”, brinca o publicitário.

Regras Naturistas
“As regras de uma praia de naturismo são, em geral, iguais as das outras”, esclarece Pedro. Segundo ele, a única diferença é em relação ao uso de máquinas fotográficas. Há pouco tempo, a atriz Natália Rodrigues foi fotografada com o namorado no local. Felizmente, com muito bom humor, apesar de chateada, ela soube tirar de letra a situação. “Quando vi as fotos, comecei a rir. Sou eu lá peladona”, disse a um site de fofocas.

Outra regra é não ter comportamentos abusivos em relação ao sexo. “Você pode até paquerar, mas sem abuso. O gay costuma mexer com o pau para indicar que quer pegar, mas isto não é permitido. O ambiente é muito mais sadio, porque as pessoas estão nuas e já sabem como é o corpo da outra, não tem aquela má intenção de quando se está vestido”, explica Pedro. Apesar disso, há um local específico e não oficial onde os gays mais assanhados – e não adeptos ao naturismo, que fique bem claro – definiram para um “fervo”. Ele fica fora da faixa de areia, atrás das pedras, na encosta bem no fim da praia. “Quem for pego pela associação é convidado a se retirar. Aquilo (as pedras) é um shopping, né? O povo vai para se divertir”, brinca um dos freqüentadores que jura nunca ter feito pegação por lá.

Incidentes
Pedro Ribeiro conta que a praia já teve diversos incidentes, mas o pior momento foi logo no início, assim que a prática havia sido liberada, em 94. “A freqüência era mista e não tinha nenhuma placa orientando que seria uma praia de nudismo. Tudo aconteceu de uma hora para outra. No segundo dia de liberação, uma mulher começou a me xingar e um cara que estava perto dela tomou as dores. Ele veio para cima de mim com um espeto de churrasco e enfiou na minha perna. Houve uma confusão generalizada que só terminou com a chegada da polícia”, conta Pedro.

“Já tivemos outros [incidentes] menores. As coisas foram melhorando com o tempo, mas acalmou mesmo quando colocamos a divisão entre obrigatório e não-obrigatório nos finais de semana”, explica.

Recomendação para Iniciantes
Entre os anos de 2003 e 2006, a praia teve uma área de adaptação, mas que não deu certo porque as pessoas acabavam ficando envergonhadas de tirar a roupa. “Ela perdeu a função, porque foi invadida por curiosos. A pessoa que vai tirar a roupa pela primeira vez não pode ficar perto de quem está vestido, ela tem que passar logo para o nosso lado”, afirma Pedro. Por isso mesmo, ele ressalta que a pessoa já deve vir com o espírito pronto para tirar a roupa. “Não dói e a vergonha, geralmente, demora cinco minutos para passar, porque o ambiente é muito natural.” Fato comprovado pelo repórter, que, pela primeira vez, teve de fazer uma matéria nu.

** Nome fictício com o objetivo de preservar identidade dos entrevistados

Como chegar
O local é cercado por montanhas e fica afastado da cidade. Quem for de ônibus pela Zona Sul deve pegar as linhas 175 na orla (Barra da Tijuca ou Recreio), S-20 (Recreio) ou 382 (Piabas). Desça no Barra Shopping e pegue a linha 703 (Recreio) até o condomínio Maramar, na praia da Macumba. De lá até Abricó, você terá que andar 3km a pé pela Avenida Estado da Guanabara – uma estrada que contorna o morro, à beira-mar. Passe pela Prainha, continue na estrada, suba e quando descer novamente, olhe em direção ao mar. Desça para a praia. Abricó fica atrás de umas enormes pedras à esquerda. Há também o Surf Bus, no Largo do Machado, às 7h, 10h, 13h e 16h. Pode-se ainda pegar um táxi em frente ao Shopping Recreio, fica em torno de R$ 14,00. Não há linhas de vans regulares e, para piorar

Sair da versão mobile