Filme sobre identidade de gênero e cartel mexicano sofre críticas por escolhas equivocadas no elenco
Em meio a um cenário crescente de representatividade LGBTQIA+ nas telas, o filme Emilia Perez destacou-se, infelizmente, mais pelo erro de elenco do que pela história que pretendia contar. A produção, que mistura elementos de musical e drama, narra a trajetória de uma chefe de cartel mexicano que finge a própria morte para realizar uma cirurgia de redesignação sexual e recomeçar a vida como mulher. Apesar da temática potente e urgente, o longa foi criticado por não respeitar a sua própria cultura de origem na escolha do elenco.
O que deu errado no elenco de Emilia Perez?
O filme é ambientado no México e retrata personagens mexicanos, o que naturalmente exigiria atores que representassem essa cultura com autenticidade — seja pela nacionalidade, seja pelo domínio convincente do espanhol e dos sotaques locais. No entanto, a produção contou com apenas um ator mexicano em papel de destaque. O restante do elenco, incluindo nomes conhecidos, foi alvo de críticas severas pelo uso de sotaques artificiais e performances que não convenceram o público nem a crítica.
Entre os nomes mais criticados estão Selena Gomez, cuja interpretação e pronúncia foram consideradas pouco autênticas, e Zoe Saldana, que mesmo sendo a melhor entre os atores no filme, enfrentou desafios para dar veracidade à personagem. A falta de cuidado na composição do elenco gerou um desconforto que ofuscou o potencial da narrativa, especialmente em uma obra que busca dar visibilidade à experiência trans e às complexidades da identidade de gênero dentro de um contexto cultural específico.
Representatividade e autenticidade andam juntas
Para o público LGBTQIA+ que busca se ver refletido nas telas, a autenticidade é fundamental. Emilia Perez poderia ter sido um marco positivo na representatividade trans, especialmente ao abordar a história em um contexto latino-americano. Porém, a pouca atenção à escalação apropriada para o elenco demonstra como ainda falta sensibilidade e compromisso por parte de algumas produções em respeitar não só a diversidade de gênero, mas também a diversidade cultural.
Esse episódio serve como um alerta para a indústria audiovisual: contar histórias de grupos marginalizados exige responsabilidade e respeito às suas especificidades. Escolher atores que realmente representem as vivências retratadas é um passo essencial para que narrativas LGBTQIA+ ganhem profundidade e legitimidade, evitando apropriações ou estereótipos que prejudicam a mensagem e afastam o público.
O que aprendemos com Emilia Perez
As críticas recebidas por Emilia Perez durante a temporada de premiações mostram que a representatividade superficial não é suficiente. A visibilidade precisa ser acompanhada por um compromisso real com a cultura e a identidade das personagens. Para a comunidade LGBTQIA+, isso significa mais do que ver personagens trans na tela: é ver essas personagens interpretadas por atores que entendem suas histórias e as vivem de forma genuína.
Enquanto avanços importantes são feitos na indústria, o caso de Emilia Perez reforça a importância do diálogo constante entre cineastas, atores e comunidades representadas. O público LGBTQIA+ merece histórias que emocionem, respeitem e inspirem — e isso só acontece quando a autenticidade está no centro da criação, desde o roteiro até o elenco.