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Gays e vegetarianos: Da carne não se come, nem se prova

Crescemos ouvindo o que devemos ser, fazer e até comer! Mas às vezes nossos desejos não correspondem ao que todos querem de nós. Quando isso acontece é inevitável: somos questionados e muitas vezes restringidos a não realizar o que queremos.

Ser gay e optar em viver como gay, no início de nossa descoberta, pode ser muito traumatizante. Enfrentar toda a sociedade, amigos e parentes requer determinação e atitude. Mas depois, com certeza, essa fase é superada pelas alegrias de viver em coerência com os nossos desejos.

Há outras opções que muitos gays fazem e vão contra todos os conceitos já estabelecidos. Ser vegetariano é uma delas, e a escolha muitas vezes não se dá por uma questão apenas de saúde, mas sim de contestar a real necessidade de matar animais para comê-los.

Não são poucos os adeptos a esse estilo de vida. Há diferenças entre os diversos  tipos de veganismos – como o vegan, ovolactovegetarianistas, lactovegetarianistas, ovovegetarianos, e também os ultrareciclovegetarianos.

Há em São Paulo um nicho de mercado que oferece restaurantes, bares, lojas de roupas, supermercados e até eventos próprios – como as verduradas -, que não deixam nenhum dos pertencentes a essas definições sem opção. Nessa área, gays e héteros convivem muito bem.

"Talvez por questionarem a vida e raciocinar mais, os gays entendem a necessidade de serem vegetarianos, e os héteros a necessidade de respeitar a sexualidade. O mais importante não é a sexualidade das pessoas, mas a luta contra a indústria da carne", comenta Adriano Milan, 23 anos, ex-ajudante de cozinha vegetariana.

Entre gays, o número de vegetarianos aparentemente parece ser maior. Não há pesquisa sobre a questão. Mas, de fato, é comum encontrar gays que frequentam bares e restaurantes deste tipo. "Sempre vou aos restaurantes especializados em comidas vegetarianas. Com meus amigos, aproveito para sair um pouco da rotina das baladas. Conheci meu atual namorado num rodízio de pizzas vegetarianas", declara o produtor cultural Renato Viana, de 26 anos. No geral, os adeptos ao veganismo são bastante abertos em relação aos homossexuais.

Responsabilidade em sair do armário e assumir… sou vegetariano!
Optar pelo veganismo é uma responsabilidade tão grande quanto assumir para si e a sociedade sua orientação sexual gay. Muitos perguntam o porquê dessa escolha de alimentação. Para o publicitário Ricardo Campos, 32 anos, o mais difícil são os debates que se travam por conta disso. "A toda hora querem saber o porquê de uma decisão tão radical. Não acho que seja assim. É apenas uma escolha. Sinto-me tão questionado por ser vegetariano quanto na época em que assumi ser gay para amigos e parentes", diz.

Ser vegetariano não é simplesmente deixar de comer carne. Deve ser algo pensado e programado, pois seu corpo sentirá a mudança – que pode implicar em indisposições se não houver equilíbrio alimentar.

Segundo o historiador Anderson Pediconi, 25, vegan há dois anos, "é necessário substituir as proteínas animais que o organismo está viciado por outros alimentos". Produtos à base de soja, como carne, leite, tofu, e muitos legumes, são importantes para esta substituição. A ausência desta reposição, de forma correta, por outros alimentos pode desenvolver doenças, como a leucemia.

Sexo e saúde
Alguns defendem que o desempenho sexual dos vegetarianos é melhor. Pois, livre de gorduras animais, o organismo está mais disposto para as atividades sexuais, inclusive até o esperma seria menos amargo.

Segundo informações do site Seja Vegetariano, problemas relacionados com o consumo de alimentos de origem animal, como a impotência sexual, se daria em menor escala entre vegetarianos.

Além disso, de acordo com o site, há outras doenças que não fazem parte da vida de quem mantém uma alimentação livre de carnes, como: cancro, hipertensão, colesterol, osteoposore, problemas cardíacos e obesidade.

Uma grande preocupação entre gays é manter um belo corpo. Se por um lado a tendência à obesidade é menor, por outro, viver sem carne é praticamente impossível para quem malha. Proteínas animais são essenciais para os músculos.

Meio Ambiente
Algumas divergências colocam em risco optar por ser vegetariano ou não. Muitos acusam a indústria da soja de provocar altos valores nos preços dos alimentos, pois agricultores estariam abandonando o plantio de outros produtos agrícolas para cultivar o grão.

Ser vegetariano também pode ser uma escolha em prol do meio ambiente. Em entrevista recente ao jornal britânico "The Observer", o economista indiano Rajenda Pachauri, presidente do IPCC (Painel Intergovernamental de Especialistas das Nações Unidas sobre Mudança Climática) declarou que as pessoas deveriam começar a deixar de comer carne um dia por semana para, posteriormente, reduzir ainda mais o consumo.

Segundo Pachauri, a mudança na dieta das pessoas seria importante na luta contra a mudança climática porque, com a redução do consumo de carne, se reduziria também as emissões de gases de efeito estufa e problemas ambientais como a destruição de habitats naturais pela criação de gado.

Em um relatório de 2007, o IPCC alertou que se nada for feito, a mudança climática provocará fome, secas, tempestades e perdas em massa de espécies. No mesmo ano, este grupo ganhou o Prêmio Nobel da Paz junto com o ex-vice-presidente americano Al Gore.

Atenção
Não interessa se o motivo é por questão de saúde, ética ou ambiental. Ao optar pelo vegetarianismo o importante é estar bem informado. Procure um médico ou nutricionista antes de tomar tal escolha. Há grupos em sites de relacionamento onde integrantes dão dicas, tanto de receitas quanto de lugares para frequentar.

* Matéria originalmente publicada na edição nº 16 da revista A Capa – setembro de 2008.

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