O público masculino está cada vez mais vaidoso, mas não quer apenas cremes e outros cosméticos na prateleira do banheiro. Agora, muitos homens estão trocando a malhação pelas próteses de silicone como forma de ressaltar a musculatura. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), pelo menos 100 mil implantes são feitos anualmente no Brasil, e os homens já respondem por 30% das cirurgias. “Os homens estão muito mais interessados em cirurgia plástica hoje do que antigamente”, lembra Margaret Figueiredo, diretora da Silimed, empresa brasileira que está entre as três maiores do mundo na fabricação de próteses de silicone. A demanda fez surgir novos modelos, específicos para a panturrilha e o peitoral masculino. “Alguns médicos já estão fazendo cirurgias para ressaltar o bíceps usando implantes pequenos de panturrilha. Se o mercado começar a pedir muito, talvez apareça uma prótese específica para o braço”, acredita Margaret. Essa tendência é polêmica. Para alguns profissionais, é apenas uma desculpa para se livrar da atividade física. Para outros, os implantes são uma alternativa à malhação. “Sou um cara conservador. Acho que é um modismo e sou avesso a isso. Qual é a perspectiva de uma prótese num peito envelhecido? Será que isso estará bom daqui a alguns anos?”, reflete Ithamar Stocchero, presidente regional da SBCP. Para o médico Hans Arteaga, esses novos “modelos” de prótese não vão provocar uma corrida dos homens aos consultórios e aposta na velha malhação. “Em alguns casos específicos de atrofia ou falta de músculo, considero o procedimento viável. Mas sou fanático por esportes e sei que, com atividade física constante, o resultado é atingido em um curto espaço de tempo”, diz. Atualmente com 29 anos, o cabeleireiro Cristiano Artilheiro submeteu-se em 2000 a uma repaginação completa: implantou próteses na panturrilha, coxas, glúteo, peitoral e seios da face. “Fiz quase todos os implantes de uma só vez e tive que ficar em repouso absoluto por duas semanas. Não podia nem andar.” E valeu a pena todo esse sacrifício? “Com certeza. Eu era bem magrinho e tinha preguiça de ir pra academia, hoje me sinto muito bem com meu visual”, diz sorridente. Cuidado nunca é demais A psicóloga Cátia Oliveira acredita que a preocupação com a aparência é saudável, desde que não vire obsessão. “O exagero, o desejo de alcançar o inatingível, torna mais difícil perceber os limites, até onde algo pode ser realmente melhorado”. Muitas questões de saúde envolvem uma cirurgia plástica, como os efeitos colaterais e principalmente o excesso de intervenções. Segundo os especialistas, é preciso respeitar o período de recuperação antes de novas cirurgias, tempo que varia de acordo com cada paciente e com o tipo de plástica. Outra polêmica gira em torno do prazo recomendado para a substituição das próteses: 10 anos. Para a cirurgiã Audrey Worthington, não dá para estabelecer um limite de validade, mas a troca é recomendada. “Aviso para o paciente que não é uma coisa obrigatória nem tem prazo de validade, mas precisa de acompanhamento. Mas o ideal é trocar. Se a gente troca de carro a cada dois ou três anos como não trocar uma coisa que está dentro de você?”, avalia. A questão do tempo, entretanto, está ligada diretamente ao processo de envelhecimento do ser humano, que se reflete na flacidez dos tecidos. “Se uma pessoa fizer uma cirurgia facial para rejuvenescimento aos 40 anos, a durabilidade pode ser de oito ou dez anos. Se fizer aos 55 ou aos 60, a duração do resultado vai ser muito menor, porque a pele dos 40 tem mais elasticidade do que a pele de alguém com 60 anos”, explica Ithamar da SBCP. Para Cátia Oliveira é melhor pensar duas vezes antes de qualquer intervenção cirúrgica e, sobretudo, trabalhar para aumentar sua auto-estima. “Uma pessoa, para aparentar menos idade, às vezes se torna uma caricatura de si mesma. Cada idade tem sua beleza, o passar do tempo traz perdas e ganhos também. É preciso desvincular certas idéias de valor da aparência física.” *Texto extraído da edição 02 da revista A Capa